terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A POLÊMICA CONSTRUÇÃO DE UMA REPRESA NO RIO CAQUENDE

No início do Século XIX a população da Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira viu-se envolvida numa grande polêmica que assumiu grandes proporções, atravessou o Atlântico e só foi resolvida mediante a intervenção do Conselho Ultramarino, em Lisboa. Este órgão, criado em 1762, era  o principal mecanismo pelo qual o Reino de Portugal  administrava todas as matérias e negócios relativos às suas colônias, entre as quais estava o Brasil. Entre suas competências destacavam-se a administração da Fazenda, a decisão sobre o movimento marítimo para a Índia, África e para o Brasil, definindo as embarcações, a equipagem e as armas, o provimento de todos os cargos civis, militares e eclesiásticos e a orientação dos negócios relativos à guerra. Passavam, ainda, pelo Conselho Ultramarino,  as remoções, transferências e principalmente os requerimentos de mercês (benefícios concedidos a quem prestava serviços à realeza).

A polêmica foi iniciada quando o rico proprietário  Manoel Jacinto de Sampaio e Mello, senhor do Engenho São Carlos, pretendeu represar a água do Rio Caquende para aumentar a sua produção de açúcar. Houve protestos de outros produtores que se sentiram prejudicados e a  vila se dividiu. A questão foi parar inicialmente em mãos do Corregedoria  da Comarca da Bahia (uma espécie de Ministério Público atual), que mandou a Câmara de Cachoeira apurar os fatos e ouvir os "oficiais", através de uma espécie de "audiência pública" como se faz nos dias atuais, só que restrita a poucos.

O Caquende, juntamente com o Pitanga, são dois rios que nascem em Cachoeira, afluentes do Rio Paraguaçu. A vila  nasceu entre eles e em torno de suas margens foram implantados os primeiros engenhos de açucar. Outrora  caudolosos, movimentavam o equipamento conhecidos como roda d'água, um dispositivo circular montado sobre um eixo, contendo na sua periferia caixinhas ou aletas dispostas de modo a poder aproveitar  a energia hidráulica como força motriz para moer a cana nos engenhos. Essa tecnologia  inovadora para a época, diminuía a necessidade da mão-de-obra escrava. Ambos os rios forneciam peixes e mariscos à população pobre. Hoje em dia, o Caquende e o Pitanga são quase filetes de água que em seu trajeto pelas ruas de Cachoeira recebem lixo e esgotos  da cidade. As matas ciliares foram dizimadas e suas margens criminosamente ocupadas. As últimas e atuais gerações de  cachoeiranos com suas ações e práticas predatórias  transformaram o Caquende e o Pitanga  em praticamente esgotos a céu aberto. Eles são hoje o retrato vivo de um crime. Não só  ambiental mas contra a própria história de Cachoeira, o seu maior patrimônio.

Mas vamos à polêmica, tal como está registrada no Volume 37 dos Anais da Biblioteca Nacional, situada no Rio de Janeiro.  


 
   

Por último, a decisão sábia do Conselho Ultramarino: autorizava que fosse retirada água do Caquende para utilização no Engenho São Carlos, mas "deixando a [quantidade] necessária para o uso público". 

sábado, 21 de novembro de 2009

ANDRÉ REBOUÇAS : O NEGRO CACHOEIRANO QUE PREGOU O FIM DA ESCRAV I DÃO E DA MISÉRIA E INCOMODOU AS ELITES


Na Semana da Consciência Negra,  este blog  destaca a figura histórica de um cachoeirano que pregou não só o fim da escravidão mas,  principalmente,  lutou pela abolição da miséria. André Rebouças (1838 -1898)  foi um ardoroso abolicionista e, mais que isso, pregou  em artigos e manifestações Brasil afora que, imediatamente após  a abolição fosse realizada no Brasil uma ampla reforma agrária -  com a extinção dos latifúndios e distribuição de lotes aos ex-cativose implantada a universalização  da educação. Para ele, somente com o  acesso à  terra e à educação os negros se tornariam cidadãos de fato. Sem isso, a miséria seria perpetuada. A  História provou que André Rebouças estava certo. Somente agora, mais de um século após a abolição, a situação do negro no Brasil começa a melhorar com as atuais políticas de reparação. Mas ainda há muito a conquistar , como o fim do mito da igualdade racial, que obscurece o racismo e o preconceito  arraigados na sociedade. Assim como a implantação de políticas públicas consistentes e eficazes que combatam as diversas formas de violência dirigidas contra  a população negra.  Enfim, um Brasil que André Rebouças sonhou.
                                                       
  André Rebouças
                                     


Engenheiro e jornalista, este cachoeirano era filho de Antônio Rebouças, advogado e um dos principais nomes da epopéia do 25 de Junho de 1822. Nessa data iniciava-se  a fase armada da campanha pela Independência do Brasil quando,  em Cachoeira, o Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara foi  aclamado Defensor Perpétuo do Brasil.  Cachoeira proclamava  que dali em diante não mais considerava o Brasil ligado a Portugal e exortava o Príncipe a  declarar a independência. O episódio é considerado o primeiro passo para a Independencia do Brasil, pois nesse dia a vila de Cachoeira foi bombardeada por uma barca canhoneira  potuguesa ancorada no Rio Paraguaçu e iniciava-se a guerra pela Independência. Durante um ano Cachoeira foi a capital da Bahia livre, até a vitória final em  2 de Julho de 1823 , quando as tropas  portuguesas são expulsas  de Salvador.

O artigo a seguir, de autoria do criador deste blog,  foi publicado no Suplemento Cultural do jornal A  TARDE, em 13 de janeiro de 2008,  por ocasião do 170º aniversário de André Rebouças.    

 (clique nas imagens para facilitar a leitura)









FRASES DE ANDRÉ REBOUÇAS

É preciso dar simultaneamente ao povo brasileiro instrução e trabalho. Dar instrução para que eles conheçam perfeitamente toda a extensão dos seus direitos, dar-lhes trabalho para que possam realmente ser livres e independentes. 



A escravidão não está no nome, mas sim no fato de usufruir do trabalho de miseráveis sem pagar salários, pagando apenas o necessário para o desgraçado não morrer de fome.

Quem possui a terra possui o homem. 

Aviltar e minimizar o salário é reescravizar. Mesmo nos países que se supõem altamente civilizados, a plutocracia faz todo o possível para reduzir o salário ao mínimo absoluto: a landocracia * é reescravizadora por atavismo e não compreende a agricultura sem escravo da gleba.(NA: termo usado à época para definir a aristocracia rural dos exploradores da raça africana).


Deve-se , pois, combater incansavelmente a oligarquia, o parasitismo, a exploração sistemática do povo e da riqueza nacional em proveito de certo número de ambiciosos que conseguiram empolgar o poder mais ou menos fraudulentamente.
 
Uma zona de clima europeu, fertilíssima, e tendo nas proximidades jazidas de carvão de pedra que, se não pode competir com o inglês, serve aos imigrantes na economia doméstica e em um milhão de pequenas indústrias. No entanto, as margens continuam desertas, porque pertencem a fazendeiros que nem cultivam nem deixam cultivar a terra. (Sobre a Companhia de Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina, em Santa Catarina)


É dever rigoroso de todos os cidadãos; é indigno fazer parte de uma nação livre quem, por desídia, covardia ou pusilanimidade, assiste indiferente aos abusos da autoridade. É dever principalmente de a imprensa ser a guarda avançada, a sentinela constante e incansável de todas as liberdades públicas.

Em assuntos de governo, tenho apenas uma ambição: o de ser bem governado


sexta-feira, 13 de novembro de 2009

VENDE-SE FAZENDA NO VALE DO IGUAPE EM CACHOEIRA

Eis um anúncio publicado no jornal A IDADE D´OURO DO BRASIL, editado em Salvador. Foi o segundo jornal impresso no Brasil.

Era no Vale do Iguape, em Cachoeira, que ficavam alguns dos principais engenhos do Recôncavo Baiano, durante o apogeu do ciclo econômico da  cana-de-açucar, uma das principais riquezas econômicas do Brasil Colonial. Em suas terras férteis, as plantações de cana se multiplicaram e nos engenhos - graças ao trabalho da mão de obra escrava - era produzido o açúcar, que trazido a Salvador era  exportado para a Europa. Os frutos dessa riqueza gerada,  obviamente, eram destinados à Metrópole (Lisboa).

A principal característica geológica do Recôncavo é o massapê. A palavra tem origem latina e significa solo argiloso. Ele é compacto, de coloração escura, formado pela decomposição de calcários cretáceos e muito bom para a cultura da cana-de-açúcar. Quando úmido, o massapê se expande, tornando-se muito plástico. Quando seco, contrai-se e fica endurecido como pedra.

Mas nem só de cana-de-açúcar vivia o Iguape. Pelo anúncio, constata-se que havia muita produção frutífera e plantações de mandioca, além de aguadas para pastos.



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domingo, 8 de novembro de 2009

DOM PEDRO II DESFILA A CAVALO PELAS RUAS DE CACHOEIRA (8 DE NOVEMBRO DE 1859)



Visão de Cachoeira à época da visita de Dom Pedro II

Na segunda etapa de sua visita a Cachoeira, Dom Pedro II cumpriu um extenso programa que incluiu visitas às principais igrejas da cidade, Hospital São João de Deus da Santa Casa de Misericórdia, uma travessia a canoa pelo Rio Paraguaçu  (a ponte Dom Pedro II ainda não  existia) indo a São Félix e a Muritiba, antes de seguir para Maragojipe. O ponto alto da visita foi o desfile a cavalo pelas principais ruas da cidade. O imperador vestia a farda de gala de almirante do Império (como chefe de Estado, era  o comandante em chefe  da Armada e do Exército. A Aeronáutica, obviamente não existia) e foi seguido por um longo séquito. Para quem está acostumado com a figura do Imperador como  um velhinho de barbas brancas, cabe lembrar que nessa ocasião Dom Pedro possuía 34 anos. Segundo descrições da época era um homem alto, barba e cabelos louros, olhos azúis e, mesmo em trajes de gala, não se vestia luxuosamente. Procurava saber detalhes da história dos locais que visitava, fosse uma igreja, um hospital, uma escola, uma fábrica ou  uma simples plantação. Geralmente fazia doações  destinadas a amparar o trabalho social das instituições que conhecia.


À esquerda,  parte da casa onde hospedou-se Dom Pedro II, na   

Rua de Baixo  (atual 13 de Maio)



Alguns detalhes  dessa narrativa :  Dom Pedro II visitou as  igrejas  da  Matriz (Nossa Senhora do Rosário), Conceição do Monte, Rosarinho (chamada aqui pelo seu nome oficial, Rosario do Coração de Maria,  no alto do Monte Formoso, que era administrada por uma irmandade de homens negros), Ajuda e a Igreja do Amparo (esta última infelizmente demolida nos anos 50 do século XX) e que ficava  atrás  do atual prédio dos Correios,  que na época era o açougue público.  Dom Pedro II visitou ainda  a Igreja e o Convento do Carmo ,  escolas, a cadeia,  e duas  serrarias, uma no Caquende e outra na Pitanga. A travessia de ida para São Félix foi feita em uma galeota especialmente construída para tal; na volta, com a maré baixa, o Imperador atravessou o rio de canoa, conduzida por quatro "remeiros". Acompanhem a narrativa, feita pelo jornal A CACHOEIRA  e reproduzida no livro DIÁRIO DA VIAGEM AO NORTE DO BRASIL, escrito com base nas anotações pessoais do próprio Imperador.


Vejam o relato dessa etapa da visita,  a partir do ponto em que a comitiva imperial  retorna de Feira de Santana, vindo por São Gonçalo dos Campos. Eles chegam a Cachoeira  na noite do dia 7, pela Estrada do Capoeiruçu, passaram pela Rua Formosa, em direção à casa  em que Dom Pedro II hospedou-se, no prédio da atual Rua 13 de maio, onde funciona  hoje a  Fundação Hansen Bahia e parte da Universidade Federal do Recôncavo da bahia (UFRBa).   






Lucas Jezler era um suíço,  radicado em Cachoeira, que possuía uma serraria  em São Félix.  Pierre Verger, em "Notícias da Bahia - 1850"  (Ed. Corrupio, 1999) cita que "só na serraria do velho Lucas Jezler fabricam-se diariamente 7 a 8 mil caixas, que vão ser utilizadas exclusivamente para o acondicionamento de charutos fabricados em Cachoeira, São Félix, a vizinha  Muritiba e outras localidades da redondeza" .






sábado, 31 de outubro de 2009

UM MONARCA EM CACHOEIRA: A RECEPÇÃO A DOM PEDRO II


 
Coroa Imperial (Imagem do Museu Imperial - Petropólis) 



Na primeira etapa de sua visita a Cachoeira, o Imperador Dom Pedro II  passou apenas uma noite. Chegou no dia 5 de novembro de 1859, às 18h30. Num pavilhão montado em frente ao cais - atualmente conhecido como Praça Teixeira de Freitas e onde está o Monumento aos heróis do 25 de Junho - o Imperador recebeu as homenagens oficiais da cidade. As  informações  foram extraídas do jornal A CACHOEIRA e constam do apêndice do livro DIÁRIO DA VIAGEM AO NORTE DO BRASIL, escrito com base nas anotações de Dom Pedro II.
  
(Obs: SSMM equivale a "Suas Majestades")
 



 
Mensagem lida pelo Presidente da Câmara Francisco Vieira Tosta (futuro Barão de Nagé)

 
No dia seginte (6) Dom Pedro II e comitiva viajaram pela estrada do Capoeiruçu até Feira de Santana, Conceição de Feira e São Gonçalo dos Campos.  Depois retornaram  a Cachoeira e cumpriram uma nova agenda de compromissos, quando conheceram igrejas e o hospital São João de Deus  e foram até São Félix e Muritiba, antes de seguir para Maragojipe.  A "cobertura completa" da segunda etapa da visita estará presente na próxima postagem.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

DOM PEDRO II VIAJA A VAPOR PELO RIO PARAGUAÇU A CAMINHO DE CACHOEIRA



Imperador D. Pedro II à época em que viajou para o Recôncavo (1859)

Há exatamente 150 anos, em 1859, o Imperador D. Pedro II, então com 34 anos e acompanhado da Imperatriz Dona Teresa Cristina e de uma vasta comitiva, realizou uma extensa viagem à região então conhecida como o Norte do Brasil (na verdade,  a visita foi ao Nordeste, expressão que não existia naquela época). O monarca saiu do Rio de Janeiro e de navio seguiu para a Província da Bahia, de onde foi para Sergipe, Alagoas e Pernambuco.

O imperador, homem de notável formação intelectual e sólida cultura humanística, tinha uma grande curiosidade em conhecer o interior do país,  a gente  brasileira,  sua cultura, a economia, a história e a geografia do Brasil.  Um dos pontos visitados foi a Cachoeira de  Paulo Afonso, no Rio São Francisco. Tudo isso ele deixou registrado no Diário da Viagem ao Norte do Brasil, em que descreve as impressões captadas na excursão. Em muitos trechos do livro,  há relatos minuciosos  de paisagens que observou,  pessoas com quem dialogou  e situações que viveu. Ele visitou igrejas, hospitais, escolas, repartições públicas,  as sedes das câmaras , entidades e instituições culturais, fábricas, canaviais e engenhos, plantações de fumo, fazendas  e fábricas. Fez doações destinadas a pessoas  carentes e apoiou diversos empreendimentos.


Na Bahia, Dom Pedro II visitou Salvador e algumas cidades do Recôncavo, tendo ido a Nazaré das Farinhas,  Jaguaripe Itaparica. Depois foi para Cachoeira, Feira de Santana, São Gonçalo,   Conceição de Feira,  São Félix, Muritiba, Maragojipe, São Francisco do Conde e Santo Amaro. No trecho a seguir,  Dom Pedro II narra em seu diário de viagem  a viagem pelo Rio Paraguaçu, até Cachoeira, onde chegou na noite de 5 de novembro de 1859. No dia seguinte, logo cedo, viajaria para Feira de Santana e retornaria depois para cumprir uma extensa agenda de compromissos em Cachoeira, São Félix, Muritiba e Maragojipe.

Esclarecimentos : 1) Os números que abrem os textos referem-se aos minutos e horas, conforme foram anotados; 2) As referências entre parentêsis são esclarecidas  embaixo de cada texto.

 
(361) O  nome correto é Engenho da Ponte e pertenceu, de fato, a Manuel Ferreira da Câmara Bittencourt e Sá (1762-1835), que foi senador e fez parte da Constituinte de 1823.

(362) Dom Pedro equivocou-se. Embora construído pela ordem dos franciscanos o Convento do Paraguaçu é dedicado a Santo Antônio. A confusão é comum até hoje, por ficar situado na localidade de  São Francisco, no  Iguape, região de Cachoeira onde ficavam os principais engenhos de açucar. Atualmente o Convento de Santo Antônio do Paraguaçu está  em  completa ruína.
Dom Pedro II refere-se à "baldeação", quando  a comitiva passou da embarcação em que estava para o Vapor Pirajá, que era conduzido  pelo 1º Tenente da Marinha, João Baptista de Oliveira Montaury.

(363) O engenho pertencia a Tomás Pedreira Jeremoabo.




(364) Francisco Vieira Tosta (1804-1872) era irmão do Barão de Muritiba e presidia a Câmara de Cachoeira. Após a viagem receberia título de Barão de Nagé. 

(365) Salvador Moniz Barreto de Aragão de Sousa Menezes (1789-1865) era Barão de Paraguaçu desde 1849.
(366) Pedro Moniz Barreto de Aragão (1827-1894) era filho do Barão de Paraguaçu e viria mais tarde (1888) a receber o título de Barão de Rio de Contas.
(367) Egas Moniz Barreto de Aragão era outro filho do Barão de Paraguaçu. Mais tarde foi agraciado com o título de Barão de Moniz  de Aragão.

368) João Carlos Viana Navarro de Andrade era filho de Vicente Navarro de Andrade, 1º Barão de Inhomirim, médico da Imperial Câmara e amigo pessoal do primeiro imperador do Brasil, Dom Pedro I.



Quando diz "beijei o Santo Lenho" o Imperador refere-se a uma relíquia da madeira que,  conforme a crença católica, era da cruz em que Jesus Cristo foi crucificado.Há tantas "relíquias" espalhadas pelo mundo que daria para fazer uma floresta de cruzes. Tem valor puramente simbólico. 

(369) O Barão de Muritiba era Manuel Vieira Tosta (1807- 1896) que à época dessa visita de Dom Pedro II era Ministro da Justiça. Mais tarde o filho dele, 2º Barão de Muritiba, acompanharia a família imperial ao exílio, devido à proclamação da República. E a 2ª Baronesa de Muritiba venderia as próprias jóias para pagar o mausoléu de Dom Pedro II, que morreu  pobre em Paris, em 1891.

(370) O pregador a que se refere o Imperador, era Frei João do Carmo.
(371) Feira de Santana. 



Nesse último texto, Dom Pedro II refere-se a Egas Moniz Barreto de Aragão e Francisco Vieira Tosta, que o acompanharam a Feira de Santana.



NA PRÓXIMA POSTAGEM : A SEGUNDA ETAPA DA VISITA DE DOM PEDRO II A CACHOEIRA





sexta-feira, 23 de outubro de 2009

COMO ERA O PRIMEIRO ENGENHO A VAPOR DO BRASIL

Em 1815 era implantado na Ilha de Itaparica o primeiro engenho a vapor do Brasil, o que representou uma notável revolução tecnológica para a época. O Brasil ainda era uma colônia portuguesa e embora já abrigasse, desde 1808,  a Família Real no Rio de Janeiro,  não se registrava nenhum avanço considerável em sua economia.  A inovação trouxe muitas vantagens para o processo do fabrico de açúcar, que era então uma das  principais riquezas do Brasil. Não só em termos de economia da mão-de-obra escrava e de uma maior produção do açúcar, mas  porque oferecia menos riscos de acidentes de trabalho.

A iniciativa coube ao senhor de engenho Pedro Antônio Cardoso, que através de  seu cunhado  Felisberto Caldeira Brant e Pedro Rodrigues Bandeira (anos mais  tarde os dois implantariam o "Vapor de Cachoeira"), encomendou a "machina a vapor" junto à fabrica inglesa Walsh e Bolton. O empreendedorismo deles mereceu destaque no jornal Idade D´Ouro do Brazil, publicado em Salvador desde 1811. Confiram a leitura dessa edição toda dedicada ao assunto. O   jornal destaca o apoio dado à iniciativa pelo Governador da Bahia, o Conde da Ponte, e incita os demais senhores de engenho a também investirem em iseus empreendimentos.  A leitura é também uma curiosa viagem sobre o texto jornalístico - cheio de metáforas, citações filosóficas e grandiloquentes imagens  -  nos primórdios da imprensa brasileira.






 
 

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A CRIAÇÃO DO HOSPITAL SÃO JOÃO DE DEUS NA VILA DE CACHOEIRA



Este é o Hospital São João de Deus, atual Casa de Misericórdia de Cachoeira. No postal, datado de 1905, Vicente Seixas cumprimenta o compadre e amigo cônego Elpídio Tapiranga, mandando-lhe uma recordação da sua cidade natal. O Monsenhor Tapiranga (1863-1932),   que dá nome à rua onde está o campus da Universdidade  Federal do Recôncavo da Bahia  (UFRB) e a sede da  filarmônica Lyra Ceciliana,  era cachoeirano  e foi um dos mais notáveis oradores do clero baiano, tendo sido vigário nas cidades baianas de Juazeiro, Abaré, Capim Grosso, na própria Cachoeira  e,  finalmente,  em Salvador, onde dirigiu por mais de 30 anos a Paróquia de Santo Antônio Além do Carmo. Ocupou diversos cargos na cúria diocesana e foi diretor do Apostolado da Oração. A sua eloquência e o poder de sua pregação tornaram-se lendários e o fizeram bastante requisitado para ser o ordaor nas principais cerimônias religisosas na Bahia. Escritor, foi membro da Academia de Letras da Bahia. Por ocasião do centenário de seu nascimento, a cidade de Salvador o homenageou com a colocação do seu busto em frente à igreja,  no bairro de Santo Antônio, centro histórico de Salvador.
   

O Hospital São João de Deus de Cachoeira é um dos mais antigos  do Brasil.   A sua história está registrada nos  Anais da Biblioteca Nacional, localizada no Rio de Janeiro. Ele foi criado como "beneplácito" do então Rei de Portugal Dom José I, "O Reformador".  O reinado  dele ficou conhecido na história como a era do Marquês de Pombal, que  recebeu poderes absolutos para implantar as reformas econômicas, sociais, políticas , educacionais religiosas que aproximaram Portugal das modernas nações européias. Nessa correspondência,  o Vice-Rei Conde dos Arcos, governador da Capitania da Bahia,  informa ao Ministro encarregado da administração das colônias portuguesas sobre a implantação e administração do hospital.


clique nas imagens para facilitar a leitura
(Volume 31 dos Anais da Biblioteca Nacional)


(Volume 32 dos Anais da Biblioteca Nacional)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

MARQUÊS DE POMBAL EXPULSA OS JESUÍTAS DO BRASIL E EXTINGUE O SEMINÁRIO DE BELÉM


Em 21 de julho de 1759 o Marques de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo) poderoso Secretário de Estado (cargo equivalente hoje ao de um primeiro-ministro) do Rei de Portugal, D. José I, expulsou de Portugal e de suas colônias os integrantes da Companhia de Jesus . No Brasil, todos os padres jesuítas foram presos e embarcados para Lisboa. E todos os bens móveis e imóveis da Companhia de Jesus (igrejas, seminários, imagens,  jóias, paramentos, engenhos, escravos, casas e livros ) foram confiscados. Na Bahia, entre os estabelecimentos fechados estavam o Colégio dos Jesuítas, na cidade de Salvador, e o Seminário de Belém, na Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira


Marquês de Pombal, o déspota esclarecido 

As instruções foram definidas diretamente do Reino e emitidas para o governo da Província. Nessa época Salvador era a capital do Brasil Colônia (seis anos mais tarde, em 1763 , Pombal a transfere para o Rio de Janeiro). Eis dois trechos, retirados do volume XXXI dos Anais da Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro):


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Igreja e Seminário de Belém, na Vila de Cachoeira

Há 250 anos era feito um inventário completo do Seminário de Belém. Todos os bens foram transferidos à Arquidiocese de Salvador, mais exatamente ao Cabido da Sé. Leiam este trecho do inventário.







Com a expulsão violenta dos jesuítas do império português, o Marquês determinou que a educação na colônia passasse a ser transmitida por leigos nas chamadas Aulas Régias. Até então, o ensino formal estivera a cargo da Igreja. Essa foi uma das medidas mais radicais tomadas pelo Marquês de Pombal, uma figura controvertida e fascinante da História. Conhecido como déspota esclarecido,  o  Marquês tinha poderes absolutos outorgados pelo Rei, desde que dirigiu pessoalmente a reconstrução de Lisboa, destruída por um terremoto e seguidos incêndios, em novembro de 1755.  Executou em seguida um vasto e profundo sistema de reformas estruturais que modificaram a economia, a política, a administração, o ensino e a religião  no país, fortalecendo os poderes reais mais que quaisquer  outros.

Embora tenha sido um produto do Iluminismo, quando aproximou Portugal das nações mais fortes e modernas da Europa ao promover arrojadas reformas, ao mesmo tempo Pombal conservou aspectos do absolutismo e do  mercantilismo, agindo com com intensa repressão,  e profunda impiedade para com os adversários e inimigos, para impor as suas decisões.

domingo, 11 de outubro de 2009

LIVRO HOMENAGEIA O VAPOR DE CACHOEIRA


Inspirado no lendário "Vapor de Cachoeira" o designer gráfico e ilustrador,  Enéas Guerra, co-autor com Pierre Verger,  de dois livros de lendas africanas,  está lançando o livro VAPORZINHO. Trata-se de um belíssimo trabalho, destinado não só ao público infantil,  mas voltado principalmente para recriar o clima de epopéia da navegação a vapor na Bahia.  A publicação, ricamente ilustrada com desenhos do autor, mostra tipos humanos característicos do Recôncavo que viajavam nos barcos a vapor, as  mercadorias  que eles conduziam, a importância econômica e cultural do vapor para a região, as comunidades ribeirinhas a saudar a passagem do barco através de vales verdejantes e o cenário das cidades colonias do Recôncavo.  Merece destaque especial a  maneira como o autor  insere os barcos a vapor na paisagem cultural, física e  principalmente  ambiental  do Recôncavo.

O lançamento será no  sábado (17/10/09) às 16 horas, na Galeria do Livro e Arte, situada na Rua Bartolomeu de Gusmão, bairro do Rio Vermelho, em Salvador.

Ler O VAPORZINHO é como fazer uma viagem no tempo. Eis alguns trechos do livro :

                  (Clique nas imagens para facilitar a leitura, perdão, a viagem) 










Quem é o autor 







O

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

8 de Outubro de 1850 - NASCE TRANQUILINO BASTOS


Em Cachoeira (BA), no dia 8 de outubro de 1850 nasceu Manoel TRANQUILINO BASTOS, maestro, compositor, praticante do espiritismo, da homeopatia, sendo também vegetariano. Foi regente em seis filarmônicas baianas em Cachoeira, São Félix e Feira de Santana, tendo criado também a Lyra Ceciliana, de Cachoeira e a Lyra Sangonçalense, de  São Gonçalo dos Campos. Foi responsável pela formação de várias gerações de músicos que integraram diversas bandas musicais no interior da Bahia nos séculos XIX e XX. Escreveu artigos em jornais da onde pregava a a libertação dos escravos, a liberdade religiosa dos negros,  o respeito aos direitos humanos e , antecipando-se ao surgimento das lutas ambientalistas,  defendeu o respeito aos animais. Em 13 de Maio de 1988 saiu à noite pelas ruas de Cachoeira,  seguido por uma multidão, regendo a Euterpe Ceciliana  em comemoração à assinatura da Lei Áurea. Morreu em 1935, aos 85 anos.



Matéria sobre Tranquilino Bastos publicada no "Correio da Bahia"

(19/06/2000)

(clique para facilitar a leitura)



sábado, 3 de outubro de 2009

HÁ 190 ANOS COMEÇAVA A NAVEGAR O "VAPOR DE CACHOEIRA"

Em 04 de outubro de 1819, portanto, há exatamente 190 anos,   foi feita a viagem inaugural do "Vapor de Cachoeira", a primeira embarcação a vapor a circular na America do Sul. Foi uma revolução para a época. Ao longo das décadas seguintes  esse  meio de transporte  impactou significativamente a vida dos baianos, não  só pelo aspecto econômico mas,  principalmente, pelo que ele representou para a vida social e cultural da Bahia, entre o século XIX até meados dos anos 60  do Seculo XX.

Já na época colonial partiam de São Félix partiam três estradas para o interior do Brasil: a que seguia para Minas e daí para o Rio de Janeiro; a que seguia para a província de Goiaz e a Estrada das Boiadas, que seguia, via Jacobina, até o Piauy. Assim era abastecido e desbravado o grande sertão brasileiro.

Navegando pelos vales verdejantes do Recôncavo,  por entre ruínas de fortes e conventos da era colonial, foi testemunha do apogeu dos engenhos de açúcar  e ,  em seguida,  transportou  as riquezas geradas pelo cultivo e industrialização  do fumo, que fizeram a força econômica de Cachoeira e São Felix até a década de 1930.

 O Vapor de Cachoeira levava produtos manufaturados até o Recôncavo e daí eram levados em tropas de burros - e mais tarde de trem - para o Sertão. Na rota inversa, trazia para o litoral tudo o que o sertão produzisse.  No Império, foi o trem, que em Cachoeira interligava-se ao transporte fluvial, o grande impulsionador do desenvolvimento. Vir do sertão de trem até Cachoeira e daí seguir de vapor até Salvador era viagem que assumia ares de epopéia.   

A história dele tem várias fases. Veja nesse blog em postagens anteriores,  quem o construiu, como ele foi constrúido, a sua importância e alguns aspectos de sua presença no cenário econômico, social e cultural da Bahia.  E assim, o Vapor de Cachoeira tornou-se lendário.

A seguir, alguns registros visuais de sua existência, que foi eternizada na música, na literatura e na riqueza de nosso folclore.



(clique nas imagens para facilitar a leitura)
                                       

A primeira embarcação (1819)




Vista panorâmica do Cais de de Cachoeira, com o navio em primeiro plano 
(anos 20 do Sec. XX)


 




A cada partida ou chegada do "Vapor" era intenso o movimento no Cais de Cachoeira 

(anos 40 de Sec. XX)
 



 
O Vapor de Cachoeira se integrava plenamente à paisagem do Vale do Paraguaçu




A última embarcação a fazer o trajeto marítimo-fluvial entre Salvador e Cachoeira foi o navio Maragojipe (foto anos 60)