segunda-feira, 31 de agosto de 2009

ENGENHOS DO IGUAPE IMPORTAM A CANA CAIENA



Um senhor de engenho do Iguape, na Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira , trouxe para a Bahia, em 1811, as primeiras mudas da cana caiena, o que resultou no aumento significativo da produção em seus engenhos. A iniciativa teve um grande significado para a economia açucareira, com o aumento da área plantada e da produção, além da diminuição do trabalho da mão-de-obra escrava e mereceu destaque na IDADE DO OURO DO BRASIL, o primeiro jornal publicado na Bahia e o segundo do Brasil. O jornal exalta o empreendedorismo deste senhor de engenho como exemplo edificante para o "progresso" do Brasil.

Os escravos, esses continuaram tendo direito apenas ao trabalho forçado e ... açoites !

Comentário do editor deste blog: E pensar que ainda existem pessoas que são contrárias à atual política de reparações, com que o país tenta resgatar uma parte da imensa e impagável dívida com os afrodescendentes.


(clique nos textos para facilitar a leitura)




Assim está no livro A PRIMEIRA GAZETA DA BAHIA - Idade do Ouro do Brasil , de Maria Beatriz Nizza da Silva (Salvador: EDUFBa: 2005).


Agosto (31), 2009.

sábado, 22 de agosto de 2009

EXPEDIÇÃO CIENTÍFICA CHEGA A CACHOEIRA (1818)

Vila de Cachoeira (gravura do livro de Von Martius)


Em 1818 e 1819 Cachoeira recebeu a visita, por duas vezes, de uma expedição científica, liderada pelo jovem botânico (e também médico) alemão Karl Friedrich Philipp Von Martius e pelo zóologo alemão Johann Baptiste Von Spix. Eles integravam a Missão Austríaca, que veio fazer um levantamento da flora, fauna e das paisagens do país. A missão científica chegara ao Brasil em 1817, acompanhando a princesa austríaca Dona Leopoldina, que veio se casar com o Imperador Dom Pedro I.

O grupo de naturalistas e cientistas realizou uma viagem épica que percorreu 10.000 km durante um período de três anos e que passou por quase todos os principais tipos de vegetação do Brasil. Eles saíram do Rio de Janeiro e viajaram a pé, a cavalo, em lombo de burros e canoas, e percorreram as províncias de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Piauí, Maranhão e, em julho de 1919, embarcaram para Belém. Depois de coletar na Ilha de Marajó e diversas localidades ao redor de Belém, começaram a última etapa da expedição subindo o rio Amazonas até Manaus onde se separaram. Spix subiu o rio Negro e afluentes enquanto Martius seguia os rios Solimões e Jupará. Retornaram a Belém em abril de 1820 e embarcaram para a Europa em junho do mesmo ano. A viagem resultou na catalogação de 27.767 espécies de plantas e flores, sendo o mais completo estudo já feito da flora brasileira. O atlas Flora Brasiliensis é a obra que apresentou a bidiversidade brasileira ao mundo.

Von Martius

Quando retornaram à Europa, em 1820, Spix tinha 39 anos e Martius 26. Era hora de organizar todo o material coletado. Foi uma época de intensa produção intelectual, onde foram elaborados tratados e obras de Botânica, Taxonomia, fitogeografia, etnografia, lingüística, costumes indígenas e plantas medicinais. Martius confeccionou um detalhado mapa fitogeográfico do Brasil, que foi dividido em cinco províncias, de acordo com a vegetação que aqui encontrou: flora amazônica, região das caatingas, Mata Atlântica, cerrado e região das matas de araucária e dos campos do sul.

Von Spix

A CHEGADA EM SÃO FÉLIX E CACHOEIRA


Vindos do sertão de Minas Gerais, chegaram à região sudoeste da Bahia enfrentando perigos diversos como animais selvagens, salteadores, doenças tropicais e um período de seca inclemente. A expedição chegou a São Félix em 4 de novembro de 1818. A chegada ao Vale do Paraguaçu foi um bálsamo para os viajantes extenuados.

Confiram a narrativa deles, nesse trecho extraído do livro Através da Bahia - Excerptos da Obra Reise in Brasilien (Cia. Editora Nacional - 1938). É uma obra escrita por Pirajá da Sila e Paulo Wolff, que traduziram diretamente do original em alemão a parte baiana da expedição. De Cachoeira a expedição seguiu em canoas para Maragojipe e Salvador. Depois seguiram para Morro de São Paulo e Ilhéus, retornando a Cachoeira, onde passaram outra temporada.

Na segunda visita a Cachoeira, Von Martius descreve com riqueza de detalhes aspectos da vida econômica, social (o entrudo, por exemplo) da cidade e descreve extasiado "...paisagens que, pelo verde luxuriante das colinas, pela variação dos bosques e pela diversidade de vistas sobre o majestoso rio, são de particular encanto". A beleza e a limpidez das águas dos riachos Caquende e Pitanga são destacadas peloo cientista. Depois eles seguiram pela estrada de Capoeiruçu em direção ao São Francisco e chegaram a Juazeiro e Petrolina.

No último parágrafo do texto abaixo, Von Martius descreve o Lagamar do Iguape, cuja região sediava na época alguns dos principais engenhos da Bahia Colonial.

Com a palavra , Von Martius :

(Clique nos textos para facilitar a leitura)


Herbáreos são plantas secas e prensadas, para uso científico de estudo e catalogação.


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

IMAGENS DO PASSADO (Igreja e Seminário de Belém)

Periodicamente este blog vai apresentar gravuras e fotografias que mostram a Cachoeira do passado. Serão mostrados cenas de rua, paisagens, retratos de personagens da história da cidade e momentos eternizados pela sensibilidade de fotógrafos e artistas. Enfim, uma coleção iconográfica relacionada a esta cidade histórica.


Esta é a Igreja de Belém, distrito de Cachoeira, no desenho em bico-de-pena de Tom Maia, autor de Velha Bahia de Hoje (Editora Exped, Rio de Janeiro,1985). A igreja e o seminário foram construídos no século XVII.  Nele estudou o  Padre Bartholomeu Lourenço, que mais tarde adotou o sobrenome Gusmão,  da Companhia de Jesus, reconhecido como o Pai das Ciências nas Américas e conhecido como o Padre Voador, porque inventou o aeróstato, realizando   pela primeira vez na História, o vôo do mais leve que o ar. Ele o apresentou publicamente em  5 de  agosto de 1709, em Lisboa, ao Rei Dom João V.  Esse aeróstato era simplesmente um globo de papel com uma fonte ignea para aquecer o ar em seu interior.

Uma observação: a palavra Passarola, com que ficou conhecido o invento  apareceu num poema de Tomás Pinto Bastos, naquela altura, com o propósito de ridicularizar o jovem Bartholomeu, apenas demonstrando a ignorância e a inveja do referido poeta satírico, ex-companheiro de Gregório de Matos na Bahia, mas português de nascimento.

(Nota: A elaboração deste "post" teve a contribuição decisiva do prof. Adinoel Motta Maia)  




Mais tarde, outro aluno do Seminário de Belém se destacou na história: o Frei Galvão. O primeiro santo nascido no Brasil, canonizado pelo papa Bento XVI durante sua visita ao Brasil em 11 de maio de 2007. Nascido em 1739, em Guaratinguetá (SP), aos treze anos ele foi estudar no Seminário de Belém. Lá fez grandes progressos nos estudos e na prática cristã, de 1752 a 1756. Queria tornar-se jesuíta, mas por causa da perseguição movida contra a Ordem pelo Marquês de Pombal, seu pai o aconselhou a entrar para os franciscanos, que tinham um convento em Taubaté.


Frei Galvão



IMAGENS DO PASSADO (Rua da Matriz)

Periodicamente este blog vai apresentar gravuras e fotografias que mostram a Cachoeira do passado. Serão mostrados cenas de rua, paisagens, retratos de personagens da história da cidade e momentos eternizados pela sensibilidade de fotógrafos e artistas. Enfim, uma coleção iconográfica desta cidade histórica.



Esta é a Rua Anna Nery, antiga Rua da Matriz na década de 30 do século passado. Quem estiver interessado em contribuir, entre em contato com o blog.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

UMA IRMÃ DA BOA MORTE



Essas fotografias de uma irmã da Boa Morte foram tiradas em 1956 pelo fotógrafo baiano Voltaire Fraga (1912 - 2006) e integram o livro de fotografias Abundante Cidade, Dessemelhante Bahia . Tudo indica terem sido tiradas em Salvador, provavelmente em uma Festa do Bonfim, conforme semelhanças com outros registros de festas populares da Bahia, captados por Voltaire .



Durante 47 anos ele fotografou a Bahia, em seus múltiplos aspectos, notadamente o humano. Seus registros e o notável acervo que reuniu em quase cinquenta anos representam um dos mais importantes documentos visuais da paisagem dessa terra. É um passeio pela história, mostrando ruas e monumentos que o tempo e o progresso modificaram e em alguns casos foram até mesmo destruídos. Estão lá belezas naturais - até então intactas - e que foram brutalizadas pelo homem. Vale a pena deleitar-se com as fotos, ora em exposição no Palacete das Artes, em Salvador.





O acervo de Voltaire Fraga foi desprezado pelos governantes e dirigentes culturais da Bahia durante vários governos até ser adquirido pelo Instituto Moreira Salles, de São Paulo onde se encontra. À Bahia restaram as memórias. Que esse poeta da imagem soube tão bem eternizar.

PROGRAMAÇÃO OFICIAL DA FESTA DA BOA MORTE

Ilustração de Carybé (1951)


DIA 13 DE AGOSTO (QUINTA-FEIRA)

18h30 - Traslado do esquife de Maria. Da Capela da Ajuda para a Igreja Matriz de Cachoeira.

19h30 - Missa pelas almas das irmãs falecidas. Na Igreja Matriz

21h - Ceia Branca. Para as irmãs e convidados da Irmandade. Noite de Vigília.


DIA 14 DE AGOSTO (SEXTA-FEIRA)

19h30 - Missa de corpo presente/Imagem de Nossa Senhora - Igreja Matriz

20 - Procissão simbolizando o enterro de Nossa Senhora – Recolhimento das irmãs após a Procissão.


DIA 15 DE AGOSTO (SÁBADO)

05h - Alvorada festiva com Fogos de Artifício

10h - Missa solene em homengaem à Assunção de Nossa Senhora - Igreja Matriz

11h - Procissão solene e festiva com a imagem de Nossa Senhora da Glória e logo após posse da Comissão Organizadora dos festejos de 2010.

13h- Almoço das irmãs e populares na sede da Irmandade da Boa Morte - Largo da Ajuda.

15h - Samba de roda no Palco Oficial - Jardim do Faquir.


DIA 16 (DOMINGO)

17h - Distribuição de cozido na Sede da Irmandade

19h - Samba de roda no Palco Oficial - Jardim do Faquir


DIA 17 (SEGUNDA-FEIRA)


17h – Distribuição de caruru na sede da Irmandade

17h30 - Samba de roda no Palco Oficial do Jardim do Faquir

domingo, 9 de agosto de 2009

ESMOLA GERAL ABRE FESTEJOS DE NOSSA SENHORA DA BOA MORTE

As integrantes da tradicional Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte saíram às ruas de Cachoeira neste sábado (08), cumprindo o ritual da "esmola geral" em que, de sacola às mãos, pedem ajuda às pessoas para cobrir as despesas dos festejos, que serão realizados a partir da proxima quinta-feira(13). O dia solene da festa será no sábado (15) com missa às 10 horas na Igreja Matriz, seguida da tradicional procissão em louvor a Nossa Senhora da Glória. A missa e a procissão serão transmitidas AO VIVO pela TV Educativa para todo o estado e pela Internet.

Depois, as irmãs da Boa Morte realizam uma ceia e comemoram participando de uma roda de samba.




Vestindo trajes de "crioula" - torso na cabeça, balangandãs, bata branca, saia rodada colorida e chinelos baixos - elas tornaram mais colorido o sábado em Cachoeira e foram, como sempre, acolhidas com bastante carinho pelas pessoas .

"Dona Filhinha" (106 anos) é a mais antiga das Irmãs da Boa Morte. A idade não limita suas ações e ela percorre as ruas de Cachoeira sem aparentar cansaço.


Os cachoeiranos colaboram com a Irmandade, um dos símbolos da cidade.



À tarde as irmãs da Boa Morte se reuniram, na sede da Irmandade, para assistir em primeira mão ao documentário VIDA NA BOA MORTE, produzido pela TV Educativa. O documentário será apresentado na próxima sexta-feira (14), após a procissão noturna da Irmandade, em sessão aberta ao público num telão que será armado no Palanque do Jardim do Faquir, com a presença das irmãs, antes da apresentação do grupo de samba de Roda Gêge-Nagô


O gerente de Jornalismo da TV-E , Jorge Ramos, disse às irmãs que a iniciativa da emissora em lançar o documentário é um tributo ao papel que a Irmandade da Boa Morte exerce no cenário cultural da Bahia. "Vocês são o exemplo mais eloquente da resistência de uma cultura que foi, no passado, marginalizada e oprimida e hoje simboliza o que há de mais puro e autentico nas raízes do Brasil".

O diretor- geral do IRDEB (entidade mantenedora da TV Educativa), Pola Ribeiro, agradeceu a colaboração que a emissora sempre recebeu da Irmandade e disse que ao produzir um documentário sobre a Boa Morte, na verdade é a própria emissora quem se sente homenageada.

domingo, 2 de agosto de 2009

NOSSA SENHORA DA BOA MORTE DAS NEGRAS DE CACHOEIRA


Em homenagem à Festa da Boa Morte, que se realiza de 13 a 15 de  agosto em Cachoeira, este blog homenageia a Irmandade com a republicação de sua primeira postagem, feita há um ano. Nela, mostramos a importância e as origens dessa devoção, que remonta aos primórdios do Século XIX e vem se mantendo como um  dos principais símbolos de resistência e da força da cultura  afrobrasileira.

  

Na imagem acima, o registro da participação de irmãs da Boa Morte no Desfile em  comemoração ao  IV Centenário de fundação da  Cidade de Salvador, em 1949. Esta  participação despertou a curiosidade do jornalista Odorico Tavares, que pesquisou  sobre a Irmandade e a ela  dedicou  um capítulo do seu livro Bahia : Imagens da Terra e da Gente



Odorico Tavares (1912 - 1980) foi jornalista, escritor, poeta e colecionador de arte. Era pernambucano e em 1942 radicou-se na Bahia, onde a convite de Assis Chateaubriand veio dirigir as empresas do conglomerado Diários e Emissoras Associados que na Bahia possuía os jornais Diário de Notícias, Estado da Bahia e a Rádio Sociedade da Bahia e, mais tarde, a TV Itapoan. Em Salvador ele logo se integrou entre os escritores, artistas e intelectuais baianos. Em 1944, organiza, com o escritor Jorge Amado (1912 - 2001) e o gravador paulista Manoel Martins (1911 - 1979), a primeira exposição de arte moderna brasileira na Bahia, promovida pela seção da Bahia da Associação Brasileira de Escritores, na Biblioteca Pública de Salvador. Em 1947, faz diversas reportagens para a revista O Cruzeiro, depois reunidas no livro Bahia, Imagens da Terra e do Povo, de 1951. Ilustrado por Carybé (1911 - 1997), o livro é premiado com a medalha de ouro na 1ª Bienal Internacional do Livro e Artes Gráficas de São Paulo, em 1961. Para a reportagem, escrita por ocasião do cinqüentenário da Guerra de Canudos, Tavares viajou pela região percorrida pelo escritor Euclides da Cunha (1866 - 1909) na Bahia, acompanhado pelo fotógrafo francês Pierre Verger (1902 - 1996).

Eis o texto de Odorico Tavares sobre a Irmandade da Boa Morte:.

                    (clique nas imagens para facilitar a leitura)