domingo, 27 de setembro de 2009

A CHEGADA DA PRIMAVERA EM CACHOEIRA (1940)




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A comunidade jovem de Cachoeira foi mobilizada para comemorar a  chegada da Primavera, no já distante  ano de 1940. Foi um dia festivo, com desfile dos estudantes pelas ruas da cidade, culminando com o plantio de uma muda de árvore, no Jardim do Faquir. O Prefeito João Vieira Lopes (ao centro, de terno claro) presidiu a festividade.



sexta-feira, 25 de setembro de 2009

FUGA DE ESCRAVO A CAMINHO DE CACHOEIRA




 O "molecão" Custódio "muito negro de cor" fugiu quando acompanhava seu "senhor" ,  Francisco Rodrigues de Macedo, numa viagem de Feira da Santa Anna dos Olhos D'água para a Vila de Cachoeira, no ano de 1918.  O jovem escravo era da nação Cabinda, isto é, originário desta região  do  antigo Reino do Congo, ou Congo Português. Atualmente a província angolana de Cabinda é responsável pela maior parte da produção de petróleo do país.

O "aviso" da fuga de Custódio foi publicado no jornal IDADE D'OURO DO BRASIL, editado na cidade da Bahia, no ano de 1918.  Com ele, a promessa de  uma recompensa de "2O mil  réis" (uma quantia considerável para  a época) a quem o entregasse ao dono, ou a  Domingos José Villa Real, procurador deste, na Vila de Cachoeira.



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Feira de Santa Anna dos Olhos D'Água era o nome de uma fazenda da  paróquia de São José das Itapororocas. Por ali passava a estrada das boiadas vindas do alto sertão, para serem vendidas em Salvador, Cachoeira e Santo Amaro. Os donos daquela fazenda eram católicos fervorosos e construíram uma capela em louvor a Nossa Senhora Santana e São Domingos. Com o movimento de vaqueiros e viajantes, formou-se uma feirinha.

Quando da sua fundação no século XVIII os poucos moradores existentes saciavam sua sede com a água existente nos "Olhos D'Água", fonte localizada na fazenda dos colonizadores Domingos Barbosa de Araújo e Ana Brandoa e ainda nos diversos minadouros e tanques da cidade. Em 1873 foi criado o município com o nome de Comercial Cidade de Feira de Santana. É inegável que o grande propulsor do desenvolvimento feirense foi a atividade pecuária, aliada à estratégica posição geográfica, que a fez  uma espécie de portal para o Sertão com o advento do transporte rodoviário.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O PRIMEIRO PROJETO DE UMA PONTE LIGANDO CACHOEIRA A SÃO FÉLIX






Esta gravura mostra o primeiro projeto para a construção de uma ponte de pedras  sobre o Rio Paraguaçu, ligando a Vila de Cachoeira  ao Arraial de São Félix.  A aquarela é de 1816 e o orginal está guardado  no ARQUIVO NACIONAL. Observam-se também aspectos da configuração urbana de Cachoeira,  bem diferente do atual. Inclusive  ainda sem a construção do cais, apenas delineado. O projeto de  uma ponte "de pedra e cal", seria executado no mesmo local onde veio a  ser erguida, anos mais tarde,  a atual Ponte Dom Pedro II.  A notícia foi divulgada no jornal IDADE DO OURO DO BRASIL, que assim noticiou esse antigo sonho de cachoeiranos e sanfelixtas. Algumas curiosidades do texto : o  rio é denominado Peroassu; o afluente dele é o Jacoípe e, principalmente, a referência à  antiga Estrada Real, que trazia de Minas Gerais até São Félix e Cachoeira, as pedras  preciosas  e ouro  que  daí seguiam para  Portugal. Nessa época, a rota do ouro já havia sido deslocada,   de Vila Rica  (atual Ouro Preto) até Paraty, na Província do Rio de Janeiro, por onde as riquezas  minerais da colônia passaram a escoar.  



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sábado, 19 de setembro de 2009

DOM JOÃO VI AUTORIZA CRIAÇÃO DO VAPOR DE CACHOEIRA



Desenho feito por Lev Smarcevsky do "Santa Maria",

segundo descrição de Caldeira Brant.


Há 190 anos era implantada a  navegação a vapor no Brasil, com a autorização dada pelo Rei Dom João VI para que Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira Horta (futuro Marquês de Barbacena) e seus sócios Pedro Rodigues Bandeira e Manoel Bento de Sousa Guimarães construíssem  uma embarcação a vapor e explorassem "como privilégio real" a navegação a vapor nos rios e costa da Bahia. O despacho real,  assinado no Rio de Janeiro em 3 de agosto de 1818,  concedia exclusividade para esse serviço, durante 14 anos. Nascia então o lendário "Vapor de Cachoeira", que este blog homenageia. A viagem inaugural foi realizada em 4 de outubro de 1819.



                                                                        Felisberto Caldeira Brant Pontes

O registro foi feito  pelo jornal A Idade do Ouro do Brasil, o segundo publicado no Brasil, editado em Salvador entre 1811 e 1823. 




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Os primeiros tempos foram de muitas dificuldades técnicas. A "machina a vapor" comprada na Inglaterra foi adaptada a uma embarcação construída no Estaleiro da Preguiça,  em Salvador. Foram trazidos técnicos ingleses para operar a máquina,  que entrou em funcionamento  no dia 4 de outubro de 1819. Mas  a falta de peças de reposição e de mão de obra especializada em operar um equipamento sofisticado para a época causavam longas paradas.


Os constantes problemas técnicos apresentados pelo "Santa Maria" (nome oficial, logo mudado pelo povo para Vapor de Cachoeira) implicavam em longas paradas. Nesses períodos, o jeito era apelar para os velhos saveiros, que voltavam a ser o único meio de transporte  entre a capital da Bahia e o Recôncavo . Anos mais tarde, quando a embarcação original foi destruída durante uma tempestade e se estilhaçou nas imediações da praia de Mont Serrat, em  Salvador, o transporte voltou a ser feito pelos saveiros. Somente na década de 1830 o transporte a vapor entre Salvador e Cachoeira foi reativado.

Vem daí a expressão O Vapor de Cachoeira não navega mais no mar  complementada, não sem ironia, pelos  saveiristas referindo-se à excelência de suas embarcações : "Arriba o pano, toca o búzio, nós queremos navegar".  Ao longo dos anos a canção folclórica impôs-se como um dos valores da cultura popular brasileira, tendo sido cantada por várias gerações, sempre com adaptações (ver a primeira postagem desse blog,  em julho 2009).








terça-feira, 15 de setembro de 2009

UM PROTESTO CONTRA OS ENTERROS NOTURNOS EM CACHOEIRA

Em 8 de outubro de 1879 o jornal  O GUARANY, fundado e dirigido por Augusto Motta (1860-1888), publicava um artigo protestando contra o hábito  de  realizar enterros à noite, em Cachoeira.

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O jornal reprova esse costume,  por considerá-lo uma "cousa triste e tão vexatória", seja para as pessoas que estão em luto e até mesmo para as que gozam de boa saúde. O espetáculo lúgubre, com o desfile do caixão, choros e o  repicar de sinos ,  pelas ruas mal iluminadas por lampiões à base do óleo de baleia,   deveria mesmo   ser deprimente e aumentar a dor e a tristeza de toda a comunidade.
A edição traz outros artigos, notas e anúncios comerciais. Todos muito curiosos, não só pela maneira de abordar os fatos, mas principalmente  pela linguagem.  Destaque para a notícia de uma escrava que fugiu por causa dos espancamentos bárbaros que sofria do seu senhor, que inclusive teve que se explicar ao juiz municipal e ao promotor público. Há o registro da ação dos "larápios" que arrombaram uma casa na Rua Formosa (atual  Prisco Paraíso)  e  um alerta  dirigido às autoridades municipais contra a ação dos "talhadores" (atuais açougueiros) que põem a saúde da população em risco ao venderam carne imprópria para o consumo. 
Jornalista Augusto Motta (1860-1888)

A leitura desse material é um passeio no tempo e traz o registro precioso de uma época em que a imprensa cachoeirana destacava o que era relevante para a comunidade.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

TAMBOR SOLEDADE NA CAPA DA REVISTA DE HISTÓRIA

A Revista de História da Biblioteca Nacional, a mais importante publicação brasileira do gênero, traz na capa da edição deste mês de setembro uma cena  da história do Brasil que  aconteceu em Cachoeira. Trata-se de um detalhe do quadro Primeiro Passo para a Independência do Brasil,  do pintor fluminense Antônio Parreiras (1860-1937). Na cena, o soldado Manoel Soledade, que tocava tambor no Regimento de Milícias, é ferido por estilhaços e cai ensaguentado nochão da atual Praça da Aclamação, no dia 25 de junho de 1822. Parreiras, o maior pintor histórico do Brasil, esteve em Cachoeira em 1928 para recolher impressões e elementos que o ajudassem a elaborar o qaudro, encomendo   pelo governador Vital Soares. A obra tornou-se uma espécie de ícone das lutas que se travaram no Recôncavo Baiano na guerra pela Independência do Brasil.   


                                   Antônio Parreiras


Parreiras retrata na tela histórica o episódio  em que Cachoeira foi bombardeada por uma escuna canhoneira, logo após proclamar o Príncipe Dom Pedro de Alcântara "Defensor Perpétuo do Brasil". A decisão significava,  na prática, que a Vila de Cachoeira não mais  considerava-se ligada a Portugal. E que obdeceria somente ao comando de Dom Pedro.  A Câmara enviou,  em seguida à aclamação,  uma correspondência ao Príncipe Regente, exortando-o a separar o Brasil de Portugal. A  aclamação de Dom Pedro foi tomada no Paço da Câmara, com apoio de um Regimento das Milícias,  e obteve grande aprovação popular. Na cena, o soldado negro Manoel Soledade, que tocava tambor  no Regimento de  Milícias, foi atingido por estilhaços e,  ensanguentado,  caiu no solo da atual Praça da Aclamação.

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A edição, organizada por Piedade Grinberg, professora da PUC-RJ e  Diretora do Solar  Grandjean de Montigny, apresenta um dossiê de artigos e reportagens mostrando que a Independência do Brasil não se resume ao Grito do Ypiranga mas que houve lutas  sangrentas  na Bahia e outros estados para concretizar a separação de Portugal.  Foi a guerra travada pelos mares e campos baianos  (como está no Hino do  Senhor do Bonfim) que consolidou a Independencia do Brasil. Que na Bahia começou antes do 7 de Setembro, em  Cachoeira  no 25 de junho de 1822,  e terminou depois, em 2 de Julho de 1823, com a entrada do Exército Libertador em Salvador.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

CAPELA DO ENGENHO VELHO (O PRIMEIRO DO IGUAPE)


 
Esta era a capela do Engenho Velho, situado no Lagamar do Iguape, apontado por muitos historiadores como o primeiro a se instalar em terras da Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira. O Iguape fica à margem do Paraguaçu, entre Cachoeira e Maragojipe, num trecho em que o rio se alarga e circundado por morros verdejantes compõe um belo cenário. Ali no Iguape, aproveitando o solo de massapê propício ao plantio de cana, foram implantados engenhos de açucar que ajudaram a fazer a riqueza na fase colonial da história do Brasil.  
O engenho foi saqueado e destruído pelos holandeses na segunda tentativa de invasão a Salvador (1638). Frustrados pela reação armada, os holandeses em represália  invadiram, saquearam e  incendiaram engenhos no Recôncavo. A imagem e o texto abaixo  foram extraídos de Encantos Tradicionais da Bahia, de Edgard de Cerqueira Falcão (Livraria Martins, 1938). A ilustração é de de Francisco Mangabeira Albernaz,  descendente do Coronel de Milícias Jerônimo José Albernaz, Cavaleiro da Ordem de Cristo e último senhor do Engenho Embiara, também no Iguape. Jerônimo Albernaz  era o mais velho dos vereadores cachoeiranos na histórica sessão da Câmara realizada em 25 de Junho de 1822 , quando teve início a guerra pela  Independência do Brasil.
   
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sábado, 5 de setembro de 2009

UM PEDIDO DE AJUDA PARA A FESTA DE SANTA CECÍLIA

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O original deste documento pertence ao acervo pessoal do maestro cachoeirano Manoel Tranquilino Bastos (1850-1935), que fundou em 1870 a Lyra Ceciliana, a segunda filarmônica mais antiga da Bahia. Os organizadores  - entre eles, o próprio Tranquilino - encarregados da festa de Santa Cecília no ano de 1886 em Cachoeira distribuíram o volante pela cidade,  pedindo às pessoas um "óbulo" (esmola)  para  ajudar na realização dos festejos.

E foi ali na sacristia da Igreja do Monte,  e durante uma festa de Santa Cecília, que Tranquilino Bastos  e alguns companheiros criaram a Lyra Ceciliana.

A festa de Santa Cecília, em termos  de organização e animação rivalizava com a da Ajuda. Havia o tríduo religoso e procissão. Na parte profana dos festejos eram realizados o pregão e o desfile  de mascarados pelas ruas de Cachoeira, sempre em clima carnavalesco, com mascarados, mandus e cabeçorras.




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Ladeira e Igreja do Monte (Desenho de Tom Maia) 


Santa Cecília é a Padroeira dos Músicos e foi invocada pelos fundadores  da Euterpe Cecciliana (o primeiro nome da atual Sociedade Orphéica Lyra Ceciliana) para ser a madrinha, dando o nome da filarmônica. Santa Cecília era cultuada com fervor pelos adeptos da Lyra enquanto os partidários da Minerva (a outra filarmônica de Cachoeira, fundada em 1878) festejavam Nossa Senhora da Ajuda, cuja festa chegou aos nossos dias com o mesmo brilhantismo do passado. A de Santa Cecília ainda é comemorada graças a alguns abnegados cachoeiranos, mas sem o mesmo apelo, mobilização, divulgação e patrocínios que a da Ajuda consegue atrair.

A lendária rivalidade entre a Lyra e a Minerva em Cachoeira nasceu também dessas duas comemoraçoes, além da disputa entre  as lideranças políticas da cidade. Adeptos de uma e de outra esforçavam-se em manter a tradição. Brigavam, mas na hora de comemorar suas padroeiras caíam no samba e na chula...


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Quem conta essa história direitinho é o historiador Cacau Nascimento em "A Capela da Ajuda já o sinal - Relações de Poder e Religiosidade em Cachoeira" (CEAO : UFBA, 1995).