segunda-feira, 23 de agosto de 2010

SALVE (M) A FESTA DA BOA MORTE !

O jornal A TARDE em sua edição de 23 de agosto publica, na página 2, um artigo assinado pelo editor deste blog sobre a desfiguração que a tradicional Festa da Boa Morte vem sofrendo nos últimos anos, à revelia da tradicional irmandade.  Nele, conclamamos os diversos segmentos da comunidade e autoridades a discutir formas de evitar que a festa perca suas características e seja carnavalizada. O objetivo deste artigo foi trazer o tema para reflexão e debate. Sugerimos que a Câmara de Vereadores de Cachoeira realize, tão logo seja possível, uma audiência pública para discutir, com a presença de representantes da Irmandade, do poder público e da sociedade em geral, medidas capazes de tornar a Festa da Boa Morte  algo que seja digno de sua importância cultural  para a cidade, com a dimensão que ela possui, de  patrimônio imaterial da Bahia, e a sua merecida dimensão internacional


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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

BOTICÁRIO CACHOEIRANO PROIBIDO DE VENDER "ÁGUA DA INGLATERRA"

O direito à exploração das marcas comerciais não é um fenômeno recente nem está vinculado às modernas ferramentas do marketing. A disputa pela exploração do nome de determinados produtos já se se fazia presente ainda no Brasil colonial. Assim, o uso indevido de algumas marcas já licenciadas,  sem autorização do detentor  do direito de explorá-la, podia render uma boa dor de cabeça. Numa época em que ainda não existia sequer o conceito de franchising, um cachoeirano teve que retirar um produto das prateleiras de sua botica (nome equivalente hoje ao de uma farmácia). O detentor  dos  direitos, concedidos mediante decreto  real, acionou judicialmente o boticário cachoeirano, que teve de assinar um acordo, se comprometendo a não mais vender Água da Inglaterra, produto tido como medicinal. A notícia é de 1812 e foi garimpada por este blog na coleção de exemplares do jornal A IDADE D´OURO  DO BRASIL, que circulava em Salvador.  

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A "água inglesa" é um fitoterápico natural,  indicado para desintoxicar o organismo, principalmente das parturientes e para quem sofreu aborto,  e para quem  tem endometriose ou alguma infecção uterina. Ajuda na cicatrização interna e, posteriormente,  na amamentação,  podendo ser encontrada em qualquer fármacia.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O SEGUNDO ROUBO À IGREJA MATRIZ DE CACHOEIRA

Na manhã do dia 12 de abril de 1928, uma quinta-feira,  Cachoeira foi abalada por uma notícia que logo cedo se espalhou pela cidade como uma bomba,  causando  estupefação  em toda a comunidade:  

"ROUBARAM A IGREJA MATRIZ  E LEVARAM  A  ÂMBULA SAGRADA E OS ROSÁRIOS DE NOSSA SENHORA E DE DEUS MENINO !  Todas as peças eram de ouro maciço !!!"

O roubo foi considerado um sacrilégio e provocou uma onda de indignação até mesmo os não católicos. A âmbula é semelhante a um cálice, mas possui tampa. Nela são gruardadas as hóstias. Após a missa a âmbula é guardada no sacrário com as hóstias já consagradas que,  eventualmente, não tenham sido usadas. No caso, a âmbula foi roubada do altar do Santíssimo Sacramento, que fica à  esquerda do altar-mor do templo. Segundo relatos  tinha  a altura de um palmo e  era uma  verdadeira obra de arte, com valor estimado  em 10 mil contos de réis, uma verdadeira fortuna para a época, hoje estimado em mais ou menos 1 milhão de reais.

(Modelo de uma âmbula) 
Além da âmbula os ladrões levaram do altar-mor os rosários, também de ouro maciço, que ficavam entre os dedos das imagens de Nossa Senhora do Rosário e Deus Menino. 

Conforme noticiamos neste blog (ver postagem de 31 de julho) este ão foi o primeiro  roubo à Igreja Matriz de Cachoeira. Exatamente 110 anos antes, em 1818, foi roubado  também do altar da Irmandade do Santíssimo Sacramento,  um purificador lavrado em ouro maciço.   

 A perda das alfaias causou um trauma muito grande entre os cachoeiranos, o que levou a uma onda de especulações na cidade.  Apesar de ter sido aberto um inquérito policial, jamais foram identificados os autores do roubo nem encontradas  as valiosas peças do acervo da cidade.

A notícia foi assim veiculada no jornal cachoeirano A ORDEM, em sua edição de 14 de abril daquele ano.

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A notícia do roubo foi comunicada aos cachoeiranos pelo Arcipestre Cavalcanti, pároco da cidade,  durante a missa das 7 horas da manhã do dia 12 de abril de 1928.

 
O Padre Augusto Cavalcanti de Albuquerque  era Arcipestre, um cargo  honorífico entre o prelado católico,  que significa  uma proeminência entre todos os demais sacerdotes de uma determinada paróquia ou região. O arcipestre era geralmente o decano entre os sacerdotes e tinha autoridade moral sobre os demais,  substituindo  eventualmente os bispos em determinadas questões. 


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

MONTEZUMA : A TRAJETÓRIA DE UM HERÓI CACHOEIRANO

 

Embora tivesse nascido em Salvador, foi em Cachoeira que  ele iniciou sua carreira política tendo um merecido destaque na galeria de heróis da guerra pela Independência do Brasil. Exerceu um papel fundamental no episódio do dia 25 de Junho de 1822. Nessa época, aos 28 anos,  era  advogado e jornalista em Salvador, onde editava  O Constitucional. Perseguido pelo General  português Madeira de Melo, por suas posições  em defesa da Independência do Brasil, foge para Cachoeira escondido no fundo de um saveiro. Com sua retórica  convincente  prega entre os  moradores da Vila a necessidade de aclamar  "com a maior urgência possível" o Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara, Defensor Perpétuo do Brasil, desafiando assim as tropas e cortes portuguesas que o queriam de volta a Lisboa e assim recolonizar o Brasil. O que foi feito, em 25 de Junho de 1822.

Após a aclamação e o bombardeio da Vila,  ele  foi nomeado pela própria Câmara de Cachoeira o emissário para levar pessoalmente o documento a Dom Pedro, no Rio de Janeiro. Assim como fazer um relato da situação da Bahia, cuja capital estava em poder de Madeira de Melo enquanto no interior  as vilas,  lideradas por Cachoeira, se rebelaram e juraram obedecer unicamente a Dom Pedro, a quem conclamavam  a declarar o Brasil independente. Com a cidade de Salvador sitiada, Montezuma (nome que só adotaria mais tarde) viajou a cavalo, seguindo pelo sertão baiano até a Estrada Real das Minas Gerais, daí alcançando o Rio de Janeiro onde  foi recebido pessoalmente pelo  Príncipe Regente. A partir da sua exposição sobre a gravidade  da situação,  Dom Pedro determinou o envio de tropas comandadas pelo General Pedro Labatut para libertar a Bahia.  A proclamação  da Independência em 7 de Setembro  ainda o alcança no Rio de Janeiro. Mais  tarde  retorna à Bahia, em plena guerra, trazendo o equipamento gráfico doado pelo Imperador  para montar  O Independente Constitucional, primeiro jornal criado no Brasil independente, que circulou em Cachoeira, sede do Governo Provisório, até julho de 1823. Cachoeira o homenageou dando o seu nome a uma das mais antigas e tradicionais escolas  da cidade, o Grupo Escolar Montezuma, na Avenida Ubaldino de Assis.

Após aclamar Dom Pedro em 25 de Junho de 1822 a Câmara de Cachoeira 
nomeou  Montezuma para ir ao Rio de Janeiro comunicar a notícia 
ao Príncipe Regente.
 
 
Nascido em 1794, Francisco Gomes Martins era seu nome de batismo. Filho de um português e uma mulata, que o queriam padre, estudou em Coimbra  onde se formou em Direito.  Na volta à Bahia foi advogado e jornalista, quando se envolveu nas lutas  pela  Indepedência  do Brasil. Após  a guerra,  seguindo uma tendência que se alastrara na Bahia,  mudou o nome de origem portuguesa  incorporando elementos nacionalistas: tem origem indígena, Acaiaba tem origem africana e Montezuma era uma homenagem ao imperador asteca, assassinado pelos colonizadores espanhós. Após a Independência  ter se consolidado na Bahia,  foi distinguido por Dom Pedro I com a Medalha de Comendador da Imperial Ordem do Cruzeiro, a maior da época. Foi deputado constituinte em 1823 e fez  oposição a Dom Pedro quando o Imperador  não aceitou ter seus poderes controlados pela  futura  Constituição.  Com o gesto absolutista  de Dom Pedro, que fechou  a Assembléia Constituinte e outorgou uma Constituição, Nontezuma foi preso e deportado para a França juntamente com José Bonifácio de Andrada e Silva e seus irmãos, Martim Francisco e Antônio Carlos,  com quem fizera um sólida amizade desde quando foi emissário da Câmara de  Cachoeira.

 Em 1831 retornou ao Brasil e foi eleito novamente  para a Assembléia Constituinte, onde defendeu vigorosamente  o combate ao tráfico de escravos, sendo um dos primeiros abolicionistas. Foi Ministro da Justiça (1837) e Embaixador do Brasil na Inglaterra (1839). Em 1850 foi nomeado Conselheiro de Estado  e,  no ano seguinte,  Senador pela Bahia. Em 1854 foi  condecorado com o título de nobreza de Visconde  de Jequitinhonha.

Montezuma foi notável orador e um dos grandes polemistas do II Reinado. Advogado e jurista foi um dos fundadores e primeiro presidente do Instituto dos Advogados do Brasil, embrião da Ordem dos  Advogados do Brasil (OAB). Foi um dos fundadores  do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB) e escreveu livros sobre direito,  economia, história e política. Tem lugar de destaque  também na história da Maçonaria no Brasil. Ainda no  exílio,  foi  ajudado financeiramente por essa instituição, de quem recebeu a incumbência de abrir no Brasil lojas do Rito Escocês Antigo e Aceito no Brasil, o que fez em 1832 criando o Supremo Conselho. Morreu no Rio de Janeiro  em 1870.