quinta-feira, 25 de novembro de 2010

CINQUENTA ANOS DA MORTE DE AUGUSTO PÚBLIO

A morte de Augusto Públio Pereira há 50 anos representou para Cachoeira o fim de uma era, marcada pela intensa disputa política regional entre o PSD (Partido Social Democrata), ao qual ele era filiado e um dos principais líderes no estado, e a UDN (União Democrática Nacional), partido marcadamente conservador, que fazia oposição tenaz ao projeto político e aos ideais de Getúlio Vargas. Embora também conservador, o PSD tinha sido criado para ser  um partido  destinado a abrigar as lideranças políticas do interior do país que apoiavam Getúlio, como contraponto ao PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), também criado pelo próprio Vargas e voltado para atender à  massa de trabalhadores urbanos. Embora com projetos distintos de poder, os dois partidos possuiam trajetórias paralelas, sempre ao lado  (um à esquerda populista e outro à direita progressista) de Getúlio.

Depois de Augusto Públio, Cachoeira vivenciou um largo período de desprestígio político no qual vive mergulhada até hoje. Nenhuma das escassas lideranças políticas  produzidas  desde então, alcançou a dimensão  que  ele obteve. Ele personifica perante a História a maior força política  que Cachoeira produziu.  Era ideologicamente um político de centro, aberto a propostas progressistas, embora conservador e liberal.

Este blog  apresenta um perfil desse cachoeirano  que se não tivesse sido colhido pela morte, ainda jovem aos 53 anos, teria certamente ocupado cargos mais importantes como o de governador da Bahia, que ele chegou a exercer  interinamente durante o período em que presidiu a Assembléia Legislativa. Na época não havia a figura de vice-governador.



domingo, 21 de novembro de 2010

NO DIA DE SANTA CECÍLIA TRANQUILINO BASTOS CRIOU A FILARMÔNICA " LYRA CECILIANA " DE CACHOEIRA

Tranquilino Bastos, fundador da Euterpe Ceciliana
Em 22 de novembro de 1870 era criada em Cachoeira (BA) a filarmônica Sociedade Euterpe Ceciliana, primeiro nome da atual Sociedade Cultural Orpheica Lyra Ceciliana, fundada na sacristia da Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Monte, logo após o encerramento dos festejos em louvor a Santa Cecília, a padroeira dos músicos, que desde  então  passou a ser objeto de devoção  da filarmônica.

O principal articulador da  criação da Euterpe - nome de uma das nove musas da mitologia grega, patrona da música - foi Manoel Tranquilino Bastos (1850-1935), então com 20 anos e  seu  primeiro regente e mestre de banda. A Euterpe Ceciliana foi o primeiro nome da Lyra Ceciliana,  a segunda filarmônica mais antiga da Bahia em  plena atividade, aos 140 anos de existência. A mudança do nome ocorreu em 1890 quando das comemorações pelo primeiro aniversário da Lei Áurea,  que acabou a escravidão no Brasil. Desde essa época a Lyra Ceciliana comemora o 13 de Maio  como sua data magna, mas a fundação  de fato ocorreu em 22 de novembro de 1870, conforme consta das anotações feitas a mão pelo próprio Tranquilino em seus cadernos de anotações:"Mais tarde criei a banda musical da Sociedade Euterpe Ceciliana e sua orchestra religiosa".  A formação original da Euterpe reunia  predominantemente negros e mulatos que em meio aos seus afazeres de artífices e trabalhadores braçais arranjam tempo para aprender a manusear um instrumento e ter aulas de música com o próprio regente e professor. Mas o que unia a todos era a causa abolicionista. 

Muitos dos fundadores da nova filarmônica já tinham um passado musical, como  integrantes do Coro de Santa Cecília que animava as missas e novenas da própria Igreja do Monte. O próprio Tranquilino Bastos ainda adolescente havia criado o Recreio Cachoeirano, grupo musical que animava festas na cidade. Outra experiência fora a  participação na Banda Marcial de São Benedito, também formada majoritariamente por negros e que atuava na Igreja da Ajuda, a primeira construída em Cachoeira, entre os anos 1640 e 1650. Lá,  foram hostilizados pelo pessoal da Orchestra da Ajuda, a primeira  corporação religiosa surgida em Cachoeira, no ano de 1801, e ligada aos senhores de engenho, a elite escravocrata. de Cachoeira. A rivalidade entre as duas entidades levou à ruptura, com direito a ação na Justiça impetrada pela Banda Marcial São Benedito  para reaver bens materiais que foram sequestrados pela Orchestra da Ajuda.

Essa é a origem da rivalidade histórica entra a Lyra Ceciliana, fundada  por egressos da Banda Marcial São Benedito e a Minerva Cachoeirana, que veio a ser sucessora  da  
Orchestra da Ajuda. 


Santa Cecília é a patrona da Lyra Ceciliana de Cachoeira


Obs: É livre a transcrição, desde que seja citada a  fonte.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

TERREIROS DE CANDOMBLÉ DE CACHOEIRA SÃO DESTAQUE NA "REVISTA DE HISTÓRIA"

A mais prestigiada publicação brasileira sobre História dedica em seu número 62 (Novembro 2010) uma reportagem especial sobre os terreiros de candomblé de Cachoeira e como eles lidam com o interesse cada vez mais crescente de estudiosos e pesquisadores sobre seus rituais e mistérios.  A "Revista de História da Biblioteca Nacional" dedica três páginas à reportagem, assinada por Juliana Barreto Farias, em que são mostradas as formas de conciliar o interesse acadêmico com a necessidade  de preservação da pureza de muitos rituais e mistérios que integram as  atividades de alguns terreiros dessa religião de matriz africana. 

O acesso de pessoas "não iniciadas" a esses mistérios e como elas  se comportam ante o dilema  de lidar com "segredos" religiosos e, ao mesmo tempo,  terem-no  como objeto de estudo científico é a essência da reportagem, que destaca ainda a atuação de dois cachoeiranos que se dedicam ao estudo desse tema: o historiador e antropólogo Cacau Nascimento, o maior estudioso do candomblé na região, e Lu Cachoeira, coordenador do Ponto de Cultura Rede de Terreiro Cultural.

Confiram a reportagem: 

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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

CACHOEIRA E A IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA

A deposição do Imperador D. Pedro II e a implantação da República, no dia 15 de Novembro de 1889,  é um dos episódios mais conhecidos de nosssa história, com  diversos estudos e  pesquisas  baseados na farta documentação existente e  na abundante iconografia. Com o fim da monarquia o Brasil iniciou uma nova era de sua história política, marcada por golpes de estado - como o próprio episódio da Proclamação - revoluções, ditaduras e alguns períodos de normalidade democrática. Mas não deixou de ser traumática a mudança do regime monárquico constitucional para o republicano federativo.

Em Cachoeira, na época ainda uma das cidades mais importantes da Bahia, embora já sem o esplendor do passado, a chegada do novo regime surpreendeu a todos, como aliás  em todo o país. Mas as forças políticas logo agiram no sentido de aderir aos "vitoriosos". Na narrativa do advogado, jornalista e historiador,  Aristides Milton, a cidade logo se adaptou à novas circunstâncias. Assim está registrado no livro Ephemérides Cachoeiranas, publicado no ano de 1904. Para ele,  que durante o Império  ocupou vários cargos tendo sido inclusive  nomeado para governar a Província de Alagoas e que  talvez por gratidão à monarquia  tenha sido  o  último a assinar a lista de presentes, a República -  por ter sido implantada  através de um golpe militar, que portanto feriu a Constituição -  trouxe uma "ditacdura" liderada pelo Marechal Dedooro da Fonseca.


Segundo o cronista histórico cachoeirano, "o povo e a câmara" aderiram formalmente ao novo regime através de uma sessão especial realizada no dia 20 de novembro, na sede  da Câmara Municipal, mesmo prédio onde aliás o Imperador Dom Pedro I fora aclamado  Imperador 67 anos antes. Cabe um esclarecimento:  o "Barão de Belém" citado como presidente da Câmara não é o Cel. Rodrigo  Brandão, herói da Guerra da Independência  (que morrera em 1855)  e sim o 2º Barão de Belém.  Confira a "acta" da sessão histórica: 
(clique nas imagens para facilitar a leitura)


É pacífico hoje o entendimento de que a perda do apoio político à monarquia,   por causa da assinatura da Lei Áurea  que extingiu a escravidão,  no ano anterior,   foi a causa imediata  do fortalecimento das ideias republicanas, que não tinham muita adesão popular. O povo  brasileiro não participou do processo e inclusive segundo depoimento à época "assistiu àquilo bestializado, achando que fosse somente  uma parada militar". Era o Marechal Deodoro desfilando a cavalo pelas ruas do Rio de Janeiro, no momento culminante do golpe militar que implantou a República no Brasil.


domingo, 7 de novembro de 2010

CACHOEIRA PREPARA HOMENAGEM À IRMANDADE DA BOA MORTE

  
Lançamentos de DVD e livro sobre a Festa da Boa Morte, fazem homenagem à Irmandade sob promoção do Governo da Bahia, através da Secretaria de Cultura do Estado, FPC e IPAC, com colaboração da Universidade Federal do Recôncavo, prefeituras municipais de Cachoeira e São Félix

Cerca de 20 pessoas, entre pedreiros, marceneiros, carpinteiros, eletricistas, montadores e auxiliares trabalham até terça-feira (09) na sede regional do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), em Cachoeira, a 110 km de Salvador, preparando o espaço para os lançamentos de um documentário em DVD e um livro inédito sobre a Festa da Boa Morte. O sobrado de dois andares do IPAC, localizado na Rua 25 de junho em Cachoeira – cidade tombada como Patrimônio Nacional – receberá exposição fotográfica e de bonecões das festas populares de São Félix, exibição de vídeodocumentário e lançamento do livro composto por artigos inéditos, estudos histórico-antropológicos, entrevistas, iconografias, bibliografias e fotografias.

O lançamento que acontece nesta quarta-feira, dia 10 (novembro, 2010), às 14 horas, nessa sede do IPAC, contará com presença do governador Jaques Wagner, acompanhado por secretários estaduais, prefeitos, vereadores, deputados da região, professores, alunos da UFRB e população local. Ao final da festa acontece apresentação especial do Grupo Samba de Roda Suerdieck. A iniciativa é da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA), através do IPAC e Fundação Pedro Calmon (FPC), com colaboração da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e Prefeitura Municipal de Cachoeira.

O livro e DVD integram parceria entre FPC e IPAC, ambos órgãos da SecultBA que estão realizando série de publicações de parte das pesquisas e dossiês que possibilitam os registro oficiais de manifestações culturais como Patrimônios Imateriais da Bahia. “De 2007 a 2010 já foram reconhecidas como Patrimônios Imateriais da Bahia, a Festa da Boa Morte em Cachoeira, o Carnaval de Maragojipe nesta cidade e a Festa de Santa Bárbara em Salvador”, diz o diretor geral do IPAC, Frederico Mendonça. A previsão é que até dezembro (2010), o IPAC termine a pesquisa sobre Desfile dos Afoxés, e em 2011, estudos sobre Ofício dos Vaqueiros, Ofício dos Mestres Organistas e Festa do Bembé em Santo Amaro.


“Todas devem ganhar livro com textos inéditos e documentário em DVD como forma de guardar a memória e difundir essas expressivas e importantes manifestações culturais”, explica o gerente de Pesquisa e Legislação do IPAC (Gepel), Mateus Torres, coordenador-geral da iniciativa. Com média de 120 páginas, os livros reúnem parte das pesquisas que o IPAC realiza com historiadores, sociólogos, museólogos, antropólogos, fotógrafos, arquitetos e outros técnicos. Com artigos inéditos, o livro apresenta estudos histórico-antropológicos, entrevistas, iconografias, bibliografias e fotografias, fortalecendo a relevância cultural e mística das manifestações, estimulando o turismo, o diálogo local, nacional e internacional sobre essas temáticas.



200 ANOS - A Festa da Boa Morte foi oficializada como Patrimônio Imaterial da Bahia no dia 25 de junho deste ano (2010). O decreto foi assinado pelo governador da Bahia, Jacques Wagner, durante sessão especial na Câmara de Vereadores de Cachoeira. A cerimônia fez parte das comemorações pela transferência do Governo do Estado para a cidade, que já acontece há três anos.  A festa da Boa Morte, que acontece desde 1820, sempre em agosto, mistura elementos do catolicismo e do candomblé e é considerada uma das mais importantes manifestações culturais da Bahia. A Festa foi incluída no Livro de Registro Especial de Eventos e Celebrações. O reconhecimento é uma salvaguarda à manifestação cultural afro católica, que passa a ter a proteção e o incentivo do Estado e da sociedade civil organizada, possibilitando ainda que tenha prioridade nas linhas de financiamentos culturais municipais, estaduais, federais e até internacionais. A irmandade religiosa de Nossa Senhora da Boa Morte existe em Cachoeira (BA) há mais de 200 anos, desde início do século 19 e é formada, historicamente, por mulheres negras e mestiças. A irmandade buscava resgatar mulheres negras da escravidão, pagando cartas de alforria, oferecendo proteção e facilitando fuga de escravos para quilombos. As pesquisas do IPAC garantem que já em 1820 a irmandade estava na cidade de Cachoeira, vinda de Salvador, fugindo do general Madeira de Mello que perseguia irmandades negras na capital.


Obs: O texto deste post foi encaminhado ao VAPOR DE CACHOEIRA pela Assessoria de Comunicação do IPAC 

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

" DEMOCRATAS " X " PARAGUASSU " : O INÍCIO DA RIVALIDADE ESPORTIVA ENTRE CACHOEIRA E SÃO FÉLIX

O foot ball  já despertava paixões nos anos 20

Em 1921 o foot ball  ou  pe-bola (termo usado muitas vezes à época e que felizmente não "pegou")  já mobilizava os cachoeiranos. O jornal A ORDEM  noticiava  num sábado daquele ano a paixão que esse esporte começava a despertar entre a população: um clássico entre o "Democratas" de Cachoeira e o "Paraguassu"  de São Félix.  A peleja seria disputada no dia seguinte na Praça Maciel, que ainda não possuía o atual Mercado Municipal e era uma vasta área, onde  também se apresentavam circos e touradas.

Antecipando o que mais tarde seriam as charangas das torcidas, a filarmônica  Lyra Ceciliana   foi contratada  para animar os torcedores cachoeiranos.

Antes da "renhidíssima" partida, que seria disputada à  tarde, haveria às 11 horas uma disputa entre as equipes infantis do "Paraguassu" e do "Democratas".

Ao final da notícia o  jornal recomenda que as pessoas tenham calma ao torcer pelo seu clube favorito, numa evidência de que em jogos anteriores houve o que na época  era chamado de sururu ou grossa pancadaria. Era o surgimento da rivalidade esportiva entre as duas cidades, que décadas mais tarde em disputas das duas seleções pelo Campeonato intermunicipal, ou mesmo em jogos amistosos entre equipes cachoeiranas e sanfelixtas, resultaria em fatos mais graves. O apelo dos redatores  visava  evitar que houvesse novas brigas, "afim de serem conservados, para o nosso bem, os títulos e foros de civilização que,  digna e justamente, Cachoeira possue".    

 (Clique na imagem para facilitar a  leitura)