segunda-feira, 28 de junho de 2010

"MEMÓRIA DESCRIPTIVA DA CONSTRUÇÃO DA IMPERIAL PONTE DOM PEDRO II"

Há 125 anos, no dia 7 de Julho de 1885, uma terça-feira, o Conselheiro José Luiz de Almeida Couto, recém-empossado no cargo de Presidente da Província da Bahia viajou em uma embarcação a vapor pelo Rio Paraguaçu até a cidade de Cachoeira. Na chegada ao cais da Praça dos Arcos foi recebido com intenso foguetório. A cidade o esperava em festas. Recebido por autoridades, comerciantes e pessoas de destaque da região, seguiu em carruagem, acompanhado por uma multidão,  até um trecho mais adiante do rio, onde presidiu a solenidade de inauguração da Imperial Ponte Dom Pedro II, imponente e majestosa construção de ferro que liga Cachoeira a São Félix. Estava inaugurada o que se constituía,  à época, uma das maiores obras de engenharia da América do Sul.

(Clique nas imagens para facilitar a leitura)

 Em nome do Imperador Dom Pedro II,
o Presidente da Província, Almeida Couto, 
presidiu a solenidade de inauguração.

 
Toda em treliças de ferro, a ponte fora fabricada em estaleiros da  Inglaterra de onde viera premontada. Era um esforço notável do Governo Imperial, que através da Lei Provincial Nº 1242, de 16/06/1865, autorizara a sua construção pela Brazilian Imperial Central Railway Company Limited para ser um elo entre o sertão e o litoral baianos.  A obra  foi dirigida pelo engenheiro  francês Frederico Merci e a fiscalização ficou a cargo do engenheiro baiano Afonso Glycerio da Cunha Maciel, que deixou à posteridade uma "memória descriptiva" com um relato, por vezes pormenorizado, dos aspectos técnicos das  diversas etapas de construção e montagem dessa magnífica e desafiadora obra de engenharia.

Capa e folha de rosto do folheto elaborado por Afonso Maciel. 





A construção da Ponte Dom Pedro II contribuiu significativamente para o desenvolvimento da  economia baiana até meados do Século XX. A produção agrícola e mineral do sertão era levada em tropas de burros e  através do trem  até Cachoeira, último trecho navegável do Rio Paraguaçu, e daí conduzida  em transporte fluvial e marítimo para a capital. No  sentido inverso, levava produtos manufaturados ao interior, formando um dinâmico sistema  que atendia também ao transporte de passageiros, através do lendário Vapor de Cachoeira. 




 Há 125 nos a  Ponte Dom Pedro II se incorporou definitivamente
à paisagem do Vale do Paraguaçu.
(Foto Bernardo - Anos 60)


 

sexta-feira, 25 de junho de 2010

FESTA DA BOA MORTE, UM PATRIMÕNIO IMATERIAL DA BAHIA


 A festa religiosa foi tombada como
Patrimônio Imatterial da Bahia
 
No início do século XIX mulheres negras e ex-escravas se uniram para ajudar escravos a conseguir a liberdade. Em torno da fé em Nossa Senhora, criaram uma confraria católica, a Irmandade da Boa Morte, que saiu de Salvador e foi se instalar na cidade de Cachoeira, por volta de 1820. Desde então, todos os anos, as irmãs promovem uma festa que mistura elementos do catolicismo e do candomblé e é considerada uma das mais importantes manifestações culturais da Bahia.

Agora, essa história de luta e devoção foi transformada em patrimônio imaterial da Bahia. O decreto de reconhecimento foi assinado pelo governador Jaques Wagner, nesta sexta-feira (25), durante sessão solene na Câmara Municipal de Cachoeira. Ele inclui a Festa da Boa Morte no Livro de Registro Especial de Eventos e Celebrações.

O decreto foi assinado pelo 
governador Jaques Wagner em Cachoeira


“Essas mulheres lutaram e são um exemplo. Esse é um reconhecimento mais do que merecido. Espero que, com ele, a gente possa fortalecer ainda mais a tradição e manter viva a festa”, disse Wagner. O reconhecimento é uma salvaguarda à manifestação cultural afrocatólica, que passa a ter a proteção e o incentivo do Estado e da sociedade civil organizada. Uma garantia de que a tradição vai permanecer viva da mesma forma como é realizada atualmente.

Divulgação 

Entre os benefícios diretos do tombamento está a prioridade para a concessão de financiamentos públicos e privados. O diretor-geral do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia (IPAC), Frederico Mendonça, explica que o registro já prevê a realização de ações de salvaguarda, como a publicação de um livro e um vídeo documentário sobre a festa; a elaboração de um projeto de um memorial da Boa Morte; além de estudos para a criação de atividades que gerem renda para as mulheres envolvidas na tradição.

“Nós só valorizamos aquilo que conhecemos, por isso vamos divulgar a Boa Morte por meio do livro e do DVD. Também já licitamos o projeto de um memorial, além de todo o benefício que o reconhecimento já traz, dando credibilidade e criando uma espécie de marca cultural”. Antes do registro, o IPAC realizou estudos técnicos e elaborou um dossiê. O trabalho, que durou um ano, resultou no documento que foi aprovado pelo Conselho Estadual de Cultura (CEC).

Além da Festa da Irmandade da Boa Morte, são considerados patrimônios imateriais da Bahia o ofício da baiana de acarajé, a roda de capoeira, o ofício dos mestres de capoeira, o samba de roda do Recôncavo, o carnaval de Maragogipe e a festa de Santa Bárbara. Atualmente está em processo de reconhecimento o desfile dos afoxés no carnaval de Salvador.

25 jun 2010




UM OUTRO ENCONTRO ENTRE BRASIL E PORTUGAL NUM DIA 25 DE JUNHO

             


    Em "O Primeiro Passo para a Independência" Antônio Parreias retratou o episódio que deu início à Guerra pela Independência do Brasil.  No dia 25 de Junho de 1822 a Vila de Cachoeira aclama o Príncipe Dom Pedro e é bombardeada por uma barca canhoneira portuguesa.


 
Na História há momentos em que os fatos se entrecruzam  de tal maneira, a evidenciar "coincidências" ao longo da trajetória dos homens e das nações. E o dia 25 de Junho é uma demonstração disso. Em 1822 a então Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira era atacada por canhões portugueses, num episódio que marca o início da luta armada pela Independência do Brasil. Passados 188 anos, novamente num dia 25 de Junho, brasileiros e portugueses se enfrentam. Mas desta vez o campo não é o de batalha, mas o de futebol, num duelo esportivo pela Copa do Mundo, evento considerado por muitos como o maior espetáculo da Terra. O esporte, que educa, integra e agrega valores saudáveis, inclusive para o interrelacionamento entre os indivíduos e os povos, nos oferece a oportunidade para evocar essa epopéia.

           Em 25 de Junho de 1822 o bombardeio da Vila de Cachoeira foi uma represália portuguesa à decisão do Senado da Câmara - o equivalente ao Poder Legislativo da época - da vila em aclamar o Príncipe Dom Pedro de Alcântara "Defensor Perpétuo do Brasil", reconhecendo-o como única autoridade a quem devia obediência e exortando-o a libertar o Brasil de Portugal. Tal atitude desafiava a Metrópole, num momento em que em Lisboa estava sendo elaborada a nova Constituição Portuguesa e os deputados brasileiros  favoráveis a essa separação sofriam ameaças físicas. Na Bahia, o comando militar era exercido pelo militar português Luiz Inácio Madeira de Melo, que fora rechaçado pelos brasileiros desde que chegara a Salvador no início do ano. Os conflitos nas ruas de Salvador entre os adeptos do Partido Brasileiro e as tropas portuguesas chegaram a ser violentos. A principal, mas não a única, vítima foi a freira Joana Angélica, assassinada a golpes de baioneta por soldados portugueses no Convento da Lapa em 19 de fevereiro de 1822. 

                  Sentindo-se ameaçados e fugindo da dura repressão militar, os adeptos da causa da Independência fugiram paa as vilas e engenhos de açucar do Reconcavo, onde organizaram a reistencia. Em 14 de Junho, o Senado da Câmara da Vila de Santo Amaro da Purificação realiza sessão extraordinária em cuja Ata de Vereação consta ser necessário consultar as demais vilas sobre a ideía de se ter no Brasil um governo autônomo. Nesse clima de insurreição e sabendo que a Câmara de Cachoeira seria a próxima a se pronunciar, Madeira de Melo manda uma barca canhoneira  subir o Rio Paraguaçu e ancorar em frente à Vila de Cachoeira, com ordens para reprimir quaisquer manifestações  separatistas. O ataque à Vila representou o ato inicial de uma guerra. Revoltados com a agressão, os cachoeiranos tomaram a embarcação de assalto e prenderam toda a tripulação. Em seguida montaram uma Junta Provisória para organizar a resistência e conclamaram as demais vilas a lutarem pela Independência. 
                   A proclamação da Independência, em 7 de Setembro, encontra a Bahia conflagrada. O comando militar português recusa-se a aceitar a Independência  e a capital  permanece ocupada por tropas leais a Lisboa.  O interior, liderado por Cachoeira,  onde está sediado o Governo revoluconário busca e aceita ajuda militar enviada do Rio de Janeiro pelo recém-empossado Imperador Dom Pedro I. Salvador,  cercada por terra e mar  e sem receber mantimentos e víveres do Recôncavo, é uma cidade quase fantasma com a fome grassando e de onde a população civil tenta fugir.  Desde o 25 de Junho Cachoeira é a sede da Bahia livre,  com a Junta de Governo instalada no Hospital São João de Deus. De lá emanam as ordens administrativas, fiscais - como o recolhimento de impostos e donativos de guerra - e militares. Os comandos  militares brasileiros,  liderados inicialmente por Pedro Labutut e posteriormente pelo General Lima e Silva, avançam sobre Salvador e deixam os portugueses sitiados.

                   O ato final dessa guerra ocorre um ano depois quando o que restava do Exército português em frangalhos desiste e foge para Lisboa. Os brasileiros entram festivamente na cidade resgatada. São homens e mulheres, vaqueiros sertanejos, escravos  e soldados - muitos descalços e vestindo trapos - recebidos calorosamente pela população e desfilando triunfalmente. É a festa do 2 de Julho, tão cara aos baianos por reviver esta saga. Mas que foi minimizada por mentalidades historicamente equivocadas, ao retirá-la do nome do Aeroporto  para homenagear uma personalidade que não teve a mínima importância histórica, em comparação à bravura e à grandeza dos homens e mulheres que lutaram na guerra que consolidou a Inde´pendência do Brasil.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A FESTA DO PAU DA BANDEIRA E OUTRAS NOTÍCIAS NO ANO DO CENTENÁRIO DO 25 DE JUNHO

 No último dia 1º de Junho foi realizada em Cachoeira a cerimônia  do Pau da Bandeira,  que abre na cidade os festejos da Independência do Brasil. É um ritual  em que  os cachoeiranos  levam  aos bairros do Caquende e da Ponta da Calçada,  troncos de madeira  que são  fincados no chão, representando os marcos da cidade no ano de 1822.  Em clima de festa  o povo e autoridades abrem assim a programação dos festejos, que tem seu auge no dia 25 de Junho, data magna com que os cachoeiranos relembram com orgulho a epopéia de 1822,  quando foi iníciada a luta armada pela Independência do Brasil. Naquele dia uma embarcação portuguesa, equipada com um canhão, bombardeou a então Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, logo após o Senado da Câmara aclamar o Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara como "Defensor Perpétuo do Brasil",  jurando-lhe obediência  e exortando-o a libertar o Brasil de Portugal.  O ataque português causou mortos e feridos e os cachoeiranos enfurecidos tomaram a embarcação e prenderam a tripulação. Estava iniciada a guerra pela Independência do Brasil, três meses antes de sua proclamação em 7 de Setembro, que só terminaria  com a expulsão definitiva dos portugueses e a entrada do Exército Libertador na capital sitiada, no dia 2 de Julho de 1823.

Vejamos como a expectativa da festa do Pau da Bandeira foi noticiada na primeira página pelo jornal cachoeirano " A Ordem", edição de 31 de maio de 1922. O post permite também uma espécie de passeio no tempo, com  o registro de fatos diversos do interesse da comunidade e do PDR , partido político que tinha em seus quadros o jornalista Durval Chagas,   proprietário do jornal e  uma das principais lideranças políticas de Cachoeira.  O partido indica os nomes de Luiz Leciague Régis e Cunegundes Barreto (que mais tarde  viria  a ser prefeito) para concorrer a  dois cargos , que estavam vagos, de vereador.  Bem à moda da época, o jornal  publica um mini-conto do jornalista e advogado Carlito Onofre , que demonstra seus dotes literários. Mereceu destaque na primeira página a  noticia da  filiação  do jornalista e intelectual cachoeirano Augusto de Azevedo Luz ao Instituto Geográfico de Histórico da Bahia (IGHBa). Demonstrando a  diversidade de assuntos da região, " A ORDEM"  relata a prisão das pessoas responsáveis pela morte de um coronel, na cidade de Castro Alves. Na  reportagem são citados os nomes de Rafael Jambeiro e Marcionílio Souza,  destacadas lideranças políticas do interior baiano na  época  e  que hoje são nomes de municípios. E também uma interessante notícia  sobre as reformas urbanas na cidade, com a derrubada de velhos tamarineiros na Praça dos Arcos (atual Praça  Teixeira de Freitas) entre o Hotel Colombo e o antigo Bar "O Guarany".  A derrubada de árvores centenárias  foi apoiada pelo jornal, que ironiza a tradição de,  sob a sombra dos velhos tamarineiros, os "nosssos avós "  tomarem o "aloázinho de Ogu" (sic).
Em tempo: "aluás" eram refrescos vendidos por escravos nas ruas das cidades e vilas coloniais. O sumo das frutas era misturado à agua e apresentava um aspecto sujo, por serem mantidos horas a fios, muitas vezes sob o sol, em vasilhas de barro. Depreciativamente  eram associados ao orixá africano.
E  uma curiosidade: naquele tempo, o prefeito era conhecido como o governador da cidade.  Quem governava Cachoeira em 1922  era o médico Inocêncio Boaventura.


(clique na imagem se quiser facilitar a leitura)