quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

CUNEGUNDES BARRETO, UM PREFEITO EXEMPLAR.

Na história de Cachoeira um dos períodos de maior atividade administrativa foi durante o governo do intendente (o nome "prefeito" foi adotado, somente a partir de 1930) Cunegundes Barreto. Embora o seu período de governo tenha sido curto (eleito em 1928, teve o mandato interrompido com a Revolução de 1930, que destituiu todos os intendentes do país), ele deixou um notável acervo de obras, com ênfase na urbanização da cidade. No governo dele foram calçadas de paralelepípedo as principais ruas da cidade, construídas  praças, arborizadas ruas e finalizada a construção do cais, na orla da cidade. Apenas com algumas semanas de sua administração os efeitos já eram sentidos, como o "faxinaço" que promoveu, recolhendo o lixo que se espalhava nas ruas. Em pouco tempo, o impacto das ações do rico fazendeiro do distrito de Capoeiruçu guindado ao cargo de intendente, causou um efeito positivo sobre a cidade, como pode ser constatado neste artigo do jornal A ORDEM (14jan1928). A notícia faz referência ao "Cais Maria Alves", que estava em ruínas e seria brevemente recuperado. Trata-se do trecho fronteiro à Rua 25 de Junho, ao lado no local onde viria a ser construído mais tarde o Hotel Colombo.  Ali existia uma praça irregular e abandonada, em cuja sombra de velhos tamarineiros as pessoas se reuniam. Cunegundes  alinhou a praça, deu-lhe o nome do jurista Teixeira de Freitas e construiu a escadaria de pedra, que dava acesso às canoas que faziam a travessia para São Félix.
Jornal cachoeirano A ORDEM (14 de janeiro de 1928) destaca o início da gestão de Cunegundes Barreto
Cunegundes Barreto teve um mandato curto, porém dinâmico

O mandato dele, e de todos os demais intendentes dos municípios brasileiros, foi interrompido bruscamente pela Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder. Cunegundes Barreto passou o cargo para Cândido Elpídio Vaccareza, nomeado interventor e que tinha sido inclusive antecessor do próprio Cunegundes na administração da cidade. Com a nova ordem política, os políticos "decaídos" - como eram chamados os que tinham perdido o poder - passaram a ser questionados, numa época de "caça às bruxas", onde inquéritos eram abertos em busca de quaisquer irregularidades que justificassem o arbítrio. Assim aconteceu com Cunegundes Barreto, que teve muitas de suas realizações questionadas quanto à lisura dos contratos. Mesmo sem nada ter sido provado contra ele, tal realidade abateu-lhe o ânimo. Desgostoso com a política, dedicou-se às suas fazendas mas tomado por uma grave depressão (ou "desgosto", como essa doença era conhecida à época) adoeceu e morreu menos de um ano após ter sido deposto. O enterro dele mobilizou a cidade e seu túmulo é um dos mais destacados do Cemitério da Piedade, ficando logo à esquerda de quem entra.
O escritor Antonio Loureiro de Souza dedicou-lhe um verbete no livro "Notícia Histórica de Cachoeira" (editado pela UFBa em 1972), onde resume  a história da cidade e traça breves perfis de figuras históricas de Cachoeira. 
Cunegundes é destacado em livro de Antonio Loureiro



terça-feira, 20 de dezembro de 2011

HÁ 130 ANOS COMEÇAVAM AS OBRAS DE CONSTRUÇÃO DA PONTE DOM PEDRO II

Há exatamente 130 anos, no dia 22 de dezembro de 1871 era colocada a pedra inaugural da Imperial Ponte Dom Pedro II, que liga Cachoeira a São Félix. O fato foi registrado no Relatório do então Presidente da Província da Bahia, João Lustosa da Cunha Paranaguá, ao passar o cargo, em 5 de janeiro de 1882,  ao 2º Vice-Presidente da Província, João dos Reis de Souza Dantas perante a Assembléia Provincial (o equivalente hoje à Assembleia Legislativa). A "pedra fundamental" das obras da ponte foi colocada no Largo da Manga, atual Praça Manoel Vitorino.  O presidente destaca a importancia da obra, que irá interligar dois ramais ferroviários e servirá para fomentar o comércio da região e escoar para a capital a produção agrícola do centro da Província. Ligada ao sistema hidroviário, através dos saveiros, canoas e do Vapor de Cachoeira,  as ferrovias que  eram ligadas  através da ponte, se constituiria num pioneiro sistema intermodal de transporte.
 
Relatório do Presidente da Província da Bahia em 1882 ...
em que é citado o início da construção ...
da Imperial Ponte D. Pedro II, que liga Cachoeira a São Félix


sábado, 17 de dezembro de 2011

A QUEIXA DE UM CIDADÃO CACHOEIRANO

Os jornais sempre foram a forma encontrada pelos cidadãos para se manifestarem e pedirem providências às autoridades contra fatos e acontecimentos que lhes tragam constrangimentos. No ano de 1900 o cidadão cachoeirano Feliciano de Cerqueira Couto escreveu uma carta ao jornal A ORDEM, pedindo providências enérgicas à autoridade policial contra uma mulher "crioula" conhecida como "Maria Zoião", que o desacatava com xingamentos. Ameaçando recorrer diretamente ao Chefe da Segurança Pública se providências não fossem tomadas, o reclamante usa uma linguagem rebuscada para relatar que, mesmo sendo um pacato pai de família que vive entregue "ao labor diurno, esforçando-me para cumprir com meus múltiplos deveres",  sofre diariamente desacatos da "mentecapta" que era o terror dos vizinhos, na Rua 13 de Maio.
                                             (clique na imagem para facilitar a leitura)


Esta e outras notícias sobre negros na Bahia estão no site O NEGRO NA IMPRENSA BAIANA NO SÉCULO XX (http://www.negronaimprensa.ceao.ufba.br) mantido pelo Centro de Estudos Afro Orientais da Universidade Federal da Bahia (UFBa), que reúne uma vasta documentação sobre o conteúdo de diversos jornais baianos na abordagem da temática negra.

Este site tem o propósito de constituir um repertório de fontes da primeira década do século XX, no que se refere a notícias de temática racial, seja através de matérias sobre outros países ou, em maior número, à população afro-brasileira, suas manifestações culturais como sambas, batuques, candomblés, capoeira e entidades carnavalescas, a inserção no mercado de trabalho, através de anúncio de emprego com relevância ao aspecto racial, causas de doenças, mortes, linguagem do cotidiano que remetem à característica dessa população, as suas entidades políticas e condições sociais. (Palavras do Professor Jocélio Teles dos Santos,  do Departamento de Antropologia da UFBa)


domingo, 11 de dezembro de 2011

ANNA NERY: UMA CACHOEIRANA NO LIVRO DOS HERÓIS DA PÁTRIA


Ana Nery no campo de batalha, retratada por Vítor Meirelles.  O quadro está na Câmara Municipal de Salvador
Há 197 anos, no dia 13 de dezembro de 1814, nascia em Cachoeira (BA) Anna Nery, a "Mãe dos Brasileiros" como ficou conhecida essa brava mulher, que não hesitou em servir aos filhos, à Pátria e à humanidade, indo como voluntária para a Guerra do Paraguai (1864-1970), servir como enfermeira.  Ela notabilizou-se pelo extremo zelo e dedicação que aplicava no tratamento aos milhares de feridos que recebia nos acampamentos que improvisava nos campos de batalha. Consta que após uma das batalhas, viu o cadáver de um dos filhos. Enterrou-o, orou por ele e superou a dor cuidando dos demais feridos. É, por suas ações humanitárias, considerada a "Patrona da Enfermagem" no Brasil e seu nome está  inscrito, desde 2009, no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília.

Neste sobrado (primeiro à direita) da Rua da Matriz,  em Cachoeira, nasceu Anna Nery
História :
Ana Justina Ferreira Nery foi a primeira enfermeira do Brasil e nasceu na então Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira. Casou-se aos 23 anos com Isidoro Antônio Néri, capitão-de-fragata da Marinha e que estava sempre no mar. Dessa forma, Ana acostumou-se a ter a casa sob sua responsabilidade. Ficou viúva aos 29 anos, com os filhos Justiniano, Isidoro e Pedro Antônio para cuidar. Os dois primeiros tornaram-se médicos e o último, militar. Em 1864, o Brasil, a Argentina e o Uruguai formaram a Tríplice Aliança  para lutar contra o Paraguai, numa guerra fraticida. Os filhos de Ana Nery foram convocados. Sensibilizada com a dor da separação, no dia 8 de agosto ela escreveu ao presidente da província oferecendo-se para cuidar dos feridos de guerra enquanto o conflito durasse. Deixa a Bahia, pela primeira vez na vida, e vai auxiliar o corpo de saúde do Exército. No Rio Grande do Sul aprendeu noções de enfermagem com as irmãs de caridade de São Vicente de Paulo e segue para o campo de batalhas. Trabalhou no hospital de Corrientes, onde contou com a ajuda de poucas freiras vicentinas para cuidar de mais de 6 mil soldados internados. Partiu algum tempo depois, atuando em Salto, Humaitá, Curupaiti e Assunção. Apesar da precariedade das condições de trabalho, como a falta de higiene, de recursos e de materiais, e do excesso de doentes, Ana Nery chamou a atenção por seu trabalho como enfermeira dedicada pelas várias regiões por onde passou. Com recursos próprios, herdados de família, Ana montou uma enfermaria-modelo em Assunción, capital paraguaia sitiada pelo exército brasileiro. Atendia indistintamente a todos, fossem brasileiros ou paraguaios. Ao final da guerra, em 1870, Ana Nery voltou ao Brasil  trazendo para criar seis meninas órfãs de guerra, filhas de soldados brasileiros e paraguaios. Foi homenageada pelo Governo Imperial com o título de "Mãe dos Brasileiros" e D. Pedro II, por decreto, lhe concedeu uma medalha e uma pensão vitalícia. Faleceu no Rio de Janeiro em 20 de maio de 1880. Carlos Chagas batizou com o nome de Ana Néry, a primeira escola oficial brasileira de enfermagem de alto padrão, em 1926.

Selo que homenageia  "A Mãe dos Brasileiros"




sábado, 26 de novembro de 2011

A PRESENÇA DE CACHOEIRA NO ALMANAQUE LAEMERT (1885)

Durante o período imperial da História do Brasil (1822-1889) o Almanaque Laemmert  como era conhecido, ou oficialmente Almanak administrativo, mercantil e industrial do Rio de Janeiro  foi a maior fonte de dados  sobre o país. Com textos sobre a corte brasileira, os ministérios e a legislação imperial, de dados censitários e informações sobre as Províncias (atuais Estados), municípios  e vilas, o Almanaque Laemmert tornou-se fonte fundamental para a compreensão do cotidiano brasileiro do século retrasado.
No ano de 1885 a edição do Almanaque Laemert trouxe o seguinte verbete sobre Cachoeira:




 O texto merece algumas retificações: a Vila de Cachoeira não foi instalada em 24  de janeiro, mas em 29 de janeiro de 1698. Outro lapso foi cometido quando são destacadas as principais lideranças empresarias da cidade. O nome de Reinério Martins Ramos aparece grafado erroneamente como Romeiro. Ele era um grande exportador de fumo, couro e derivados, sendo uma das maiores fortunas da Província, com escritório em Paris. Era  compadre do Coronel Ernesto Simões e padrinho do filho dele, o futuro jornalista Ernesto Simões Filho (1886-1957), que fundou em 1912 o jornal A TARDE. 

Um aspecto a ser observado é  a grande dimensão territorial da área de influência da Igreja Católica. Mesmo ligada à Diocese de São Salvador da Bahia, Cachoeira respondia por 11 freguesias, incluindo a de Nossa Senhora  do Rosário, instalada na própria cidade.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

CACHOEIRA DEVERIA HOMENAGEAR UM NOTÁVEL ARTISTA E CRIAR O CINE-TEATRO MÁRIO GUSMÃO.

O jornal A TARDE, e sua prestigiada revista dominical MUITO, prestaram  recentemente uma justa homenagem a um cachoeirano pouco conhecido das atuais gerações mas muito importante para a cultura brasileira: MÁRIO GUSMÃO. Foram-lhe dedicadas oito páginas para o primeiro ator negro da Bahia, que participou ativamente da cena cultural brasileira durante três décadas, até morrer, em 1996, aos 68 anos.  Rompendo barreiras e preconceitos, Mário Gusmão se destacou como um notável artista-cidadão, tendo atuado ao lado e sob o comando de grandes nomes da dramaturgia brasileira, como Glauber Rocha. Ele atuou no teatro, no cinema e na televisão. Mário Gusmão morreu num dia 20 de Novembro, quando as comemorações pelo Dia da Consciência Negra ainda eram incipientes. Por coincidência, seu último papel foi na peça Zumbi está Vivo. E continua Lutando !, do Bando de Teatro Olodum, sob a direção de Márcio Meirelles.
Cachoeira deve-lhe uma homenagem e está lançada a ideia de que o cinema da cidade, que está sendo restaurado pelo Projeto Monumenta, venha a chamar-se  no futuro de ...

                           CINE-TEATRO MÁRIO GUSMÃO


Capa da Revista MUITO (Nº 190, 20/11/11)  

terça-feira, 15 de novembro de 2011

CAMPANHA ARRECADA DONATIVOS PARA RECUPERAÇÃO DA IGREJA MATRIZ DE CACHOEIRA

No ano de 1930, Cachoeira  foi mobilizada para uma campanha em favor da recuperação de sua Igreja Matriz, que se encontrava em precário estado de conservação. Uma série de promoções foi realizada, com o recolhimento de donativos em animados "pregões" pelas ruas da cidade, animados pelas filarmônicas Lyra Ceciliana e Minerva Cachoeirana. A maior contribuição foi feita pelo Coronel  Epiphanio José de Souza, que doou 1 conto de reis, vultosa quantia à época, e teve o merecido destaque na imprensa local. O fato foi noticiado pelo jornal A ORDEM, em sua edição de 22 de fevereiro daquele ano. O jornal noticia ainda outras ações ligadas à Igreja Católica em Cachoeira naquele ano.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

VIDA E OBRA DE TRANQUILINO BASTOS SERÃO OBJETO DE PESQUISA DO MAIOR ESTUDIOSO DA MPB


Meu caríssimo Jorge Ramos : 
Que gentileza a sua de me enviar com tanta presteza e por portador  tão  encantador seu belo livro . Vou começar a lê-lo e a fazer dele objeto de consulta, já que pelo que antevejo sua pesquisa é meritória e muitíssimo estimulante . Estou à sua disposição para qualquer coisa que quiser do nosso Instituto  ou deste seu admirador .  
 Abraços,   
do Ricardo Cravo Albin


Esta foi a mensagem recebida pelo editor deste blog e enviada pelo maior estudioso e principal pesquisador de música no Brasil, Ricardo Cravo Albim. Ele agradece pelo envio de um exemplar do livro "O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um Maestro Abolicionista", a biografia do músico cachoeirano Manoel Tranquilino Bastos (1850-1935). O livro foi-lhe entregue, no Rio de Janeiro, por Derblay de Almeida, bisneto do maestro,  que em outubro veio à Bahia especialmente para o lançamento do livro. Ricardo Cravo Albin é jornalista, historiador, crítico musical e radialista, e possui um vastíssimo currículo onde se destacam, entre outros, a sua notória especialização e a criação do Dicionário Cravo Albin da Música da Música Popular Brasileira, que possui também uma versão on line (www.dicionariompb.com.br). Com cerca de nove mil verbetes, e em constante atualização, é a mais densa e completa obra do gênero, sendo referência obrigatória para estudiosos e pesquisadores de nossa música. 

Ricardo Cravo Albin, o maior pesquisador da história da música no Brasil, promete utilizar a biografia de Tranquilino Bastos como "objeto de pesquisa".

terça-feira, 1 de novembro de 2011

BIOGRAFIA DE TRANQUILINO BASTOS SERÁ UM DOS TEMAS DEBATIDOS NA BIENAL DO LIVRO DA BAHIA


A biografia do músico cachoeirano Tranquilino Bastos, apresentada em O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um Maestro Abolicionista"  será debatida na X Bienal do Livro da Bahia, que está sendo realizada em Salvador. O autor do livro, e editor deste blog, Jorge Ramos, participa  no domingo (6 de Novembro), às 20 horas, da programação do Café Literário, no debate sobre o tema Biografia: Em busca de uma grande história. Essa é a atividade  que encerra a Bienal e terá como participantes o também jornalista e escritor Nelson Motta (autor de uma biografia do cineasta Glauber Rocha) e  Janaína Amado (autora da biografia da militante política Jacinta Passos). O debate terá como mediador o jornalista José de Jesus Barreto.  

Conforme o site da X Bienal do Livro da Bahia, é certo que as biografias têm um público amplo no Brasil. Duas questões são importantes para o sucesso comercial de uma biografia: o biografado e o autor. Quais os limites do jornalismo e da literatura na construção de uma boa biografia? Como jornalismo e literatura se fundem no texto quando o autor mergulha na vida do biografado? Há espaço para ficção em uma biografia? Quais os caminhos para se construir um biografia de qualidade?

 CAFÉ LITERÁRIO

O Café Literário é a sala de visitas da Bienal do Livro. É o espaço no qual o público compartilha ideias, histórias, reflexões e experiências com alguns dos escritores mais representativos do nosso tempo. 
O curador deste charmoso espaço da Bienal é o jornalista, ficcionista e doutor em literatura, Carlos Ribeiro:
"Na condição de curador desta 10ª Bienal do Livro da Bahia, procurei – com a valiosa colaboração do jornalista e escritor Rogério Pereira, a quem devo o planejamento inicial desta edição do Café Literário – valorizar a escolha criteriosa dos participantes, em termos da qualidade do seu trabalho e da sua representatividade no panorama atual da literatura, em nosso país."

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM CACHOEIRA É DISCUTIDO PELO CONSELHO MUNICIPAL

Na tarde do dia 31 de julho de 1890 o Conselho Municipal (denominação à época, da atual Câmara de Vereadores) de Cachoeira realizou uma sessão histórica, na qual foi discutida a implantação de um sistema de abastecimento de água e uma série de outros melhoramentos urbanos, como o "aformoseamento" de várias praças e o aterramento do Calabar (local atualmente conhecido como Campo da Manga, ao lado da sede do Tiro de Guerra), então um pântano mal-cheiroso onde era jogado todo o lixo da cidade e no qual  proliferavam ratos, baratas e urubus.  
A notícia foi divulgada no "Jornal de Notícias", de Salvador, em sua edição de 12 de agosto de 1890. A notícia está datada de 7 de agosto e foi enviada pelo correspondente do jornal em Cachoeira, Genésio Pitanga, que tinha na cidade uma livraria e papelaria. A notícia foi garimpada por este blog no Setor de Periódicos Raros da Biblioteca Pública da Bahia, onde há uma série de outras matérias a respeito de Cachoeira assinadas pelo jornalista.     

Jornal de Notícias (12/08/1890)
 Após enumerar as inúmeras vantagens do sistema, que colocaria,  na época,  Cachoeira como uma das cidades mais avançadas do Brasil, o Presidente do Conselho, Afonso Maciel,  apresentou o projeto com um grande mapa da cidade preso em uma das paredes da Sala de Sessões do Conselho.  Uma curiosidade: na época o Presidente do Conselho acumulava o cargo de Intendente (Prefeito). 

Afonso Glycério da Cunha Maciel foi o engenheiro que anos antes tinha sido o fiscal da obra de construção da Imperial Ponte Dom Pedro II. Ele deixou uma notável "Memória Descriptiva" da obra, relato pormenorizado dos aspectos técnicos, das  diversas etapas de construção e montagem dessa magnífica e desafiadora obra de engenharia. A construção da ponte foi dirigida pelo engenheiro  francês Frederico Merci. Os cachoeiranos eternizaram o  agradecimento a Afonso Maciel dando o nome dele a uma das praças mais importantes da cidade. 
Afonso Maciel foi também Presidente do Conselho Municipal de Salvador entre 1896-1897

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O LANÇAMENTO DE " O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um Maestro Abolicionista"

Sou suspeito para falar, mas sem falsa modéstia foi um sucesso o lançamento do meu livro "O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um Maestro Abolicionista", ocorrido na semana passada em Salvador,  na quinta-feira (13), e em Cachoeira, no sábado (15), durante a I Festa Literária Internacional de Cachoeira (FLICA). Aproveito para agradecer a quantos compareceram e aos que, impossibilitados de estar presentes, mandaram-me mensagens de parabéns e estímulos. Quem estiver interessado em adquirir o livro pode procurar a loja "Pérola Negra", que fica na Rua Marechal Floriano, Canela (ao lado do Bompreço). O livro custa R$30,00 (trinta reais) e o CD que o acompanha, com músicas de Tranquilino Bastos custa R$20,00. A venda não é casada. A aquisição pode ser feita também pela Internet, no site da loja www.perolanegracd.com.br   

A seguir, algumas imagens dos lançamentos

Cecília Ferreira entrega, em nome da mãe (D. Morena Ferreira) a bengala que foi do Maestro e que vai integrar  o acervo do futuro  Memorial Tranquilino Bastos. Parte da renda auferida com a venda do livro e do CD será destinada a esse projeto.
Com minha filha Desirée e a amiga Claudiane
Em Cachoeira, autografando para a Senadora Lídice de Mata
Mateus Aleluia encantou os convidados, no lançamento em Salvador
O jornalista Cristiano Gobi aguarda o autógrafo
O sambista Nei Lopes, que foi à FLICA, recebe seu exemplar.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

LIVRO SOBRE TRANQUILINO BASTOS E A HISTÓRIA DE CACHOEIRA SERÁ LANÇADO NA FLICA

Será lançado na segunda semana de outubro o livro O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um Maestro Abolicionista, de autoria do jornalista Jorge Ramos.

O lançamento em Salvador será no dia 13 (quinta-feira), às 19h30 no Foyer do Teatro do IRDEB/TVE Educativa (Rua Pedro Gama, fim de linha da Federação). Dois dias depois, no sábado (15), às 19 horas, no Pouso da Palavra ( Praça da Aclamação) será feito o lançamento no penúltimo dia da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), que será realizada de 11 a 16 de outubro.



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

RECÔNCAVO : A BASE ECONÔMICA DA BAHIA DURANTE O PERÍODO COLONIAL

O documento abaixo, cujo inteiro teor se encontra arquivado na Torre do Tombo, em Lisboa, traz uma descrição da economia do Recôncavo Baiano ao final do século 18. Foi enviado pelo governo da Província ao Conselho Ultramarino, órgão da estrutura do Reino de Portugal encarregado de administrar as colônias.O texto abaixo foi publicado nos Anais da Biblioteca Nacional, edição Nº 36, publicada em 1914,  no qual consta o Inventário dos Documentos relativos ao Brasil existentes no Archivo de Marinha e Ultramar, organizado por Eduardo de Castro e Almeida.

(CLIQUE NA IMAGEM PARA FACILITAR A LEITURA)
Todos os produtos gerados  no Recôncavo eram transportados através de seus rios -  Subaé, Paraguaçu e Jaguaribe - e alcançavam o "o porto da Bahia". As principais mercadorias eram "víveres", ou seja, produtos alimentícios, o que evidencia que Salvador, então uma das maiores cidades do Hemisfério Sul,  dependia do Recôncavo para ser abastecida.

Cachoeira,vista de São Félix (início do Sec. 19).  O transporte hidroviário-merítimo  garantia o escoamento da  produção do Recôncavo para abastecer Salvador de "víveres" e exportar açúcar e fumo para a Europa. 
O intenso movimento de barcos e saveiros - é  estimado em mais de uma centena  o número de viagens semanais -  transportando a  produção nativa e,  na volta, levando para as vilas e povoações as "mercadorias de Portugal"  fazia com que cidades como Cachoeira fossem importantes entrepostos comerciais.  Essa  atividade econômica fez do Recôncavo Baiano uma das regiões mais importantes durante o Brasil Colonial.

Em outro documento, emitido um ano depois, o mesmo governador escreve a D. Rodrigo de Souza Coutinho, administrador do Conselho Ultramarino, para informar acerca do fluxo de comércio entre a Metrópole e a Colônia. Era uma resposta a outra correpondência,  na qual o Reino determinava o aumento desse intercâmbio comercial. O governador expõe, com muita clareza, as dificuldades  que os tecidos e vinhos, principais ítens da pauta de importações,  enfrentavam na Colônia. Ao tempo em que faz um balanço da produção colonial de açúcar e tabaco, e da então nascente lavoura do algodão, no Brasil.

CLIQUE NA IMAGEM PARA FACILITAR A LEITURA
 

domingo, 18 de setembro de 2011

SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE CACHOEIRA CRITICADA POR "EXCESSO" DE CARIDADE

No ano de 1855 o Presidente da Província da Bahia, João Maurício Wanderley (que viria mais tarde a receber o título de Barão de Cotegipe) alertava em seu Relatório, recitado perante a Assembleia Legislativa, que a Santa Casa de Misericórdia de Cachoeira, uma das mais antigas instituições do gênero no país, estava na iminência de uma grave crise financeira.   E o motivo apontado pelo governante era o mal entendido espírito de caridade de suas administrações, que viviam admitindo maior número de enfermos, do que aqueles a quem pode soccorrer. Como a receita era incerta e havia - além das obrigações com os doentes e a manutenção das propriedades que formavam seu patrimônio - a necessidade de se fazer investimentos em obras de ampliação do hospital, a situação, segundo o relatório iria se agravar nos próximos anos.

A leitura desse trecho do relatório expõe a real situação financeira e a atuação da Santa Casa de Misericórdia de Cachoeira, que recebia subvenções oficiais para as ações sociais e também  para investir na ampliação do hospital. O patrimônio da instituição era formado por 56 casas,  muitas em péssimo estado de conservação, e terrenos foreiros, entre outros. O documento revela ainda que ela acolhia crianças abandonadas (os "expostos"). Em Cachoeira eles eram criados fora do ambiente hospitalar, por amas externas (certamente remuneradas) e isso  diminuía a taxa de mortalidade desses órfãos. 

João Maurício Wanderley (1815-1889) além de ter presidido a Província da Bahia (1852-1855), foi deputado, senador e ministro quatro vezes (Fazenda, Marinha, Justiça  e Negócios  Estrangeiros, atual Relações Exteriores). Como chefe do governo parlamentarista, era presidente do Conselho de Ministros, ocasião em que (1885) assinou a Lei dos Sexagenários, que libertava os escravos com mais de 60 anos. Ironicamente, foi o único Senador do Império a votar contra a Lei Áurea. E, ao cumprimentar a Princesa Isabel, disse-lhe : "A senhora acaba de redimir uma raça e perder  o trono" 


domingo, 11 de setembro de 2011

UMA VISITA AOS ENCANTOS DE CACHOEIRA NO DOMINGO DA FESTA DA BOA MORTE EM 1961

Em 15 de agosto de 1961 Cachoeira recebeu a visita de um grupo de jornalistas, escritores e intelectuais baianos interessados em conhecer a beleza de seus monumentos e  a riqueza de seu folclore que na época já chamavam a atenção das autoridades da área cultural e do então nascente setor de turismo da Bahia. A visita foi relatada na excelente crônica Cachoeira, a Bela publicada em A TARDE.

Crônica foi publicada em A TARDE, edição de 6 de agosto de 1961
 O autor da crônica é Carlos Vasconcelos Maia (1923-1988), um dos expoentes do Modernismo na Bahia, que na época ocupava o cargo de Superintendente do Departamento de Turismo de Salvador. Ele é considerado um dos maiores contistas da Bahia e integrou uma geração de notáveis intelectuais que renovou a cultura, através de suas criações, entre os anos 40 e 50. Vasconcelos Maia se destacou como um autor que retraçou, em belas imagens literárias,  os diversos ambientes geográficos e humanos da Bahia: o agreste, o urbano e o litoral, enfocando aspectos psicológicos e culturais, como o misticismo afro-baiano.

Vasconcelos Maia encantou-se com Cachoeira
A crônica mostra o impressionante efeito que a cidade causou aos visitantes, que ficaram encantados com a paisagem de ruas, becos e praças, o casario em estilo colonial, o belíssimo patrimônio arquitetônico e a visão magnífica que tiveram da orla do Rio Paraguaçu. O belo texto exalta a simpatia dos cachoeiranos, que acolheram os visitantes com "fidalguia". O prefeito na época era Julião Gomes dos Santos e a cidade ainda apresentava os efeitos cruéis da grande enchente occorrida no ano anterior. Vasconcelos Maia critica, ainda que de maneira elegante, a descaracterização da fachada de alguns imóveis, que trocavam a feição colonial por "platibandas".   
O encantamento alcançou  seu ápice quando os visitantes viram, naquele domingo 15 de agosto, o cortejo das negras anciãs, que compõem a Irmandade da Boa Morte, com seu garbo congênito e dignidade indefinível, na celebração da Festa de Nossa Senhora da Glória. 

No traço de Caribé, a Festa da Boa Morte em Cachoeira

  

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

BIOGRAFIA DO MAESTRO ABOLICIONISTA MANOEL TRANQUILINO BASTOS SERÁ LANÇADA EM OUTUBRO

              Esta é capa do livro O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um Maestro Abolicionista, de autoria do autor deste blog, que será lançado nos próximos dias 13 de Outubro, em Salvador, e 15 de Outubro, em Cachoeira.  O livro apresenta a biografia do músico cachoeirano Tranquilino Bastos (1850-1935), fundador (em 1870) da filarmônica Lyra Ceciliana. Ele foi compositor, regente e professor de diversas gerações de músicos, tendo criado e/ou dirigido diversas filarmônicas no interior da Bahia. O capítulo inicial do livro mostra Tranquilino Bastos à frente de sua filarmônica, na noite de 13 de Maio de 1888, comemorando ruidosamente em Cachoeira a assinatura da Lei Áurea e o fim da escravidão no Brasil. 


Além de ter participado da luta pela abolição da escravatura, Tranquilino Bastos foi  líder espírita, praticante da homeopatia e vegetariano. Suas intensas atividades,  como artista e jornalista engajado na defesa da cidadania, o levaram a se destacar como o maior nome intelectual de Cachoeira entre os séculos 19 e 20. É autor, entre centenas de outras composições, do Hino da Cachoeira e de músicas exaltando o abolicionismo.  Nesse texto, ele enumerou sua vasta criação : Composições – Mais de 30 a menos de 50 marchas fúnebres, 295 dobrados, 100 a 150 marchas festivas, valsas, contradanças, polcas, polacas, 80 fantasias, nove variações, duas missas, duas novenas, 10 tantamuergos, oito maria-concebidas, cinco árias para canto, dois mementos e 205 fragmentos de ópera transcritos para banda marcial, hinos do 13 de Maio, da municipalidade de Feira de Santana e do 25 de Junho de Cachoeira.  

Tranquilino Bastos era defensor do pacifismo e se destacou também como jornalista, tendo publicado na imprensa cachoeirana centenas de artigos em que defendeu a liberdade  religiosa, numa época em que a prática do candomblé era perseguida pela Polícia, e a liberdade de manifestação. Também se manifestou contra o preconceito racial, o coronelismo e a corrupção eleitoral, atacou o militarismo e criticou o golpe militar que implantou a República. Mas, sobretudo, antecipou em décadas a discussão de temas hoje considerados politicamente corretos, como o respeito aos  direitos humanos e a defesa do meio ambiente.

Artigo de Tranquilino Bastos publicado em  O Pequeno Jornal
 
A vida e a obra de Tranquilino Bastos e o contexto  econômico, social, político e cultural do Recôncavo Baiano do seu tempo são mostrados no livro, que traz ainda aspectos da evolução da cidade de Cachoeira ao longo de três séculos de sua história.  Abaixo, a relação dos capítulos  contidos nas 210 páginas do livro.

 

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

CACHOEIRA É DESTAQUE EM OBRA CLÁSSICA DO VISCONDE DE CAYRU SOBRE A FORMAÇÃO DO BRASIL.


Visconde de Cayru
 Uma das obras clássicas de José da Silva Lisboa (1756-1835), o Visconde de Cayru, é História dos Principaes Sucessos Políticos do Império do Brasil. Nela, o economista - que havia sugerido ao Rei Dom VI, em 1808,  a abertura dos portos brasileiros a todas as nações amigas, quebrando o monopólio português - descreve o processo de formação  política  e econômica do Brasil, destacando o papel do Recôncavo na conquista da Independência e, especificamente, o da Vila de Cachoeira. Cayru descreve como ocorreu o episódio do 25 de Junho de 1822, quando o Príncipe Dom Pedro de Alcântara foi aclamado  Regente e Defensor Perpétuo do Brasil, fato que deflagrou a fase armada do processo de conquista da Independência do Brasil. Ele descreve detalhes dos acontecimentos e também o papel relevante que nele tiveram José Garcia Pacheco, Rodrigo Antônio  Falcão Brandão, o Barão de Belém, e Antonio Teixeira de Freitas Barbosa. 

Capa do livro do Visconde de Cayru