domingo, 27 de fevereiro de 2011

TIROTEIO NA RUA DA MATRIZ: O AUGE DA DISPUTA PELO PODER EM CACHOEIRA

Em 1922 a briga entre os grupos políticos que disputavam ferozmente o poder político em Cachoeira chegava ao auge, instaurando o pânico na cidade. Na tarde do dia 2 de março daquele ano um tiroteio na Rua da Matriz  entre partidários do ex-deputado federal Ubadino de Assis e  seguidores do líder Albino Milhazes resultou na morte, vítima de uma bala perdida, do telegrafista Grimaldo Palmeira. O fato chocou a cidade e naqueles dias Cachoeira viveu um clima de terror com jagunços e capangas dos dois grupos rivais circulando nas ruas, causando apreensão e intranquilidade aos moradores.  
O jornal A ORDEM era de oposição a Ubaldino e noticiou o tiroteio de maneira sensacionalista
O fato foi determinante para o declínio do grupo "ubaldinista" que até então mantinha com mão-de-ferro o controle da cidade e de suas instituições, como a  Prefeitura e a Santa Casa de Misericórdia. A polícia praticamente  pôs-se a serviço  do  grupo  contrário a Ubaldino e horas depois do  tiroteio  invadiu com violência a residência dele em busca dos capangas, causando mal estar entre os familiares e agravando o estado de saúde da mãe do pollítico. Ninguém foi preso mas foram encontradas armas utilizadas no tiroteio. O governador do estado era José Joaquim (JJ) Seabra, ex-aliado de Ubaldino de quem se tornara inimigo feroz. No dia seguinte ele enviou de Salvador uma força policial  composta de 30  homens para "assegurar a ordem".  Desde que assumira o governo pela segunda vez, Seabra demitira de funções públicas na cidade  e na região todas as pessoas partidárias  ou simpatizante de Ubaldino de Assis.

A morte de Grimaldo Palmeira, dias depois,causou comoção em Cachoeira
Ubaldino de Assis tinha contra si o governo municipal, o governo do estado e a força policial especialmente designada para Cachoeira, além da Justiça (o juiz de Direito era seu desafeto) e perdeu também a guerra da "opinião pública". O principal jornal de Cachoeira  era "A ORDEM", pertencente a Durval Chagas, também seu arqui-inimigo político,  e  fez uma cobertura tendenciosa, em que usou e abusou dos adjetivos contra Ubaldino de Assis. O jornal A TARDE, de Salvador, que deslocou um jornalista a Cachoeira como "enviado especial", acusou Ubaldino de ter agido com violência por ter sido "apeado do poder na cidade heróica". O jornal,  que pertencia ao cachoeirano Simões Filho, também acusou o governo de  não contribuir para acalmar os ânimos e,  ao contrário,  "incentiva a luta política". Por fim,  o jornal, que fazia oposição ao governo, afirma ser esta a "política maldita do Sr. Seabra". Após o episódio, o prestígio político de Ubaldino de Assis caiu vertiginosamente.

O título da reportagem de A TARDE (edição de 4 de março de 1922):

A POLITICAGEM SELVAGEM
Mais uma vez, Cachoeira ensaguentada por lutas políticas.
A cidade está em pé de guerra - Tiroteios e ferimento mortal de um estafeta 
   

Ao final do inquérito foram denunciados à Justiça somente partidários do ex-deputado, entre os quais um dos filhos dele. Outro filho, Benigno de Assis, que era promotor público em Senhor do Bonfim, foi exonerado de suas funções já nos dias que se seguiram ao tiroteio. Com este episódio encerrou-se a carreira política de Ubaldino de Assis, que por mais de quinze anos dominou Cachoeira. Naquele  mesmo ano  houve  eleição  para a Presidência da República e Ubaldino tinha apoiado Artur Bernardes - que venceu o pleito -  contra a chapa "Reação Republicana" que tinha como candidato a presidente Nilo Peçanha e JJ Seabra como candidato a vice-presidente. Daí ter sofrido o ódio mortal de Seabra. Logo após a posse de Artur  Bernardes, de quem era aliado, Ubaldino de Assis foi nomeado juiz federal em Blumenau (SC), para onde se transferiu. Nunca mais retornou a Cachoeira.  Morreu em 1928, aos 67 anos, no Rio de Janeiro.




sábado, 19 de fevereiro de 2011

BISNETO DE TRANQUILINO BASTOS FOI A CACHOEIRA RESGATAR HISTÓRIA DE SUA FAMÍLIA

Através deste blog o funcionário aposentado da Prefeitura do Rio de Janeiro, Derblay Almeida conseguiu realizar um sonho: descobrir suas origens familiares. Ele é bisneto do maestro Tranquilino Bastos. O avô dele,  Artur Tranquilino Bastos (1875-1954), era  o terceiro filho do maestro e no início do século XX saiu de Cachoeira  e foi morar no Rio de Janeiro.  Derblay afirma que cresceu ouvindo o avô lembrar da Bahia e da família que aqui deixou,  e sempre teve o sonho de  conhecer a terra de seus antepassados, o que pôde fazer somente após localizar  aqui  no blog VAPOR DE CACHOEIRA informações concretas sobre a história de Tranquilino Bastos. 

Tão logo contactou-nos, Derblay veio à Bahia  e fez questão de conhecer Cachoeira onde o levamos para conhecer a história de seu avô, o maestro abolicionista, fundador da filarmônica Lyra Ceciliana e autor de mais de oitocentas composições, entre as quais  o Hino de Cachoeira e o dobrado Navio Negreiro.

Na sede da Lyra Ceciliana o primeiro contato com a história de Tranquilino Bastos 
Orgulhoso de suas raízes, ele demonstrou muita emoção ao tomar conhecimento de que a memória de seu bisavô é bastante cultuada na  Cidade Heróica, que  homenageia o  filho ilustre com o nome de uma praça, no Largo do Monte. Derblay conheceu também a sede da Lyra, onde foi  recepcionado pelo Presidente, Prof. Raimundo Cerqueira, que o brindou com a apresentação de um dos alunos da Escola de Música Maestro Irineu Sacramento, num solo de clarineta (mesmo instrumento usado pelo maestro). 
 
O editor deste blog e o Prof. Raimundo Cerqueira apresentam a Derblay a página inicial da partitura do dobrado Navio Negreiro
Derblay conheceu ainda a Igreja do Monte, onde Tranquilino Bastos fundou em 1870 a Lyra Ceciliana,  e visitou numa das sacristias as instalações do futuro  Memorial de Tranquilino Bastos, que está sendo  montado com muito esforço e dedicação pelo Prof. Isaac Tito. Por último ele esteve em São Félix, onde ficou extasiado com a visão de Cachoeira. De volta,  encerrou a visita indo ao Cemitério da Piedade, onde conheceu o túmulo de seu bisavô.  

Em Salvador, Derblay  visitou a Biblioteca Central, nos Barris, onde conheceu no Setor de Obras Raras, o acervo das obras de Tranquilino Bastos. Ele foi recepcionado pela bibliotecária Célia Mattos, que com muito zelo e carinho, cuida da manutenção das partituras e cadernos de anotações musicais de Tranquilino Bastos. 

Na Biblioteca Central, Derblay segura uma partitura de Tranquilino Bastos



    Ao final da visita à Bahia, Derblay e a esposa Valdete agradeceram pela oportunidade de
terem conhecido e resgatado os próprios laços familiares, mas sobretudo  por terem tomado conhecimento de que Tranquilino Bastos, pelo muito que representou em termos de humanismo, amor à paz e dedicação ao próximo, foi muito além de sua arte."Foi uma figura histórica", concluiu orgulhoso. E disse que vai apresentar a seus outros familiares e amigos a história e a obra de Tranquilino Bastos. Para isso, ele levou para o Rio de Janeiro CD's contendo músicas compostas por Tranquilino Bastos. 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

MINERVA CACHOEIRANA VAI A SALVADOR PARTICIPAR DA FESTA DO BONFIM

Atendendo à sadia provocação de um leitor, este blog apresenta a notícia de um dos passeios realizados pela SOCIEDADE LÍTERO MUSICAL MINERVA CACHOEIRANA. A tradicional filarmônica, que rivalizava com a LYRA CECILIANA na disputa pela preferência dos cachoeiranos,  também organizava passeios de navio a Maragojipe, São Francisco do Paraguaçu e até Salvador. Nessas oportunidades os seus numerosos adeptos  lotavam os navios especialmente fretados para a ocasião. As viagens  eram  geralmente muito animadas, com a apresentação a bordo de  músicas festivas e dançantes. A rivalidade entre as duas filarmônicas levava ao extremo de se ter dois passeios musicais no mesmo fim de semana   ou feriado, ou mesmo em fins de semana consecutivos.

A notícia  abaixo refere-se ao passeio que a MINERVA CACHOEIRANA faria para abrilhantar os festejos em louvor a Nosso Senhor do Bonfim. Foi publicado na edição de 16 de janeiro de 1910  do jornal cachoeirano A ORDEM e curiosamente revela uma prática já comum àquela época, a cortesia ao jornalista para publicar a notícia. Hoje  essa prática é conhecida pejorativamente como "jabá", ou ainda, "cruzeta" e é utilizada  muito mais em casos em que o jornalista atende a interesses geralmente obscuros. O que não é o caso, pois aqui se caracteriza muito mais como um gesto de elegância, o que é revelado até pela maneira ingênua com que o jornalista agradece  a doação do  ingresso  para o  "prometedor passeio".   


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

LYRA CECILIANA VAI ANIMAR O CARNAVAL DE SALVADOR

 
 A notícia saiu no jornal cachoeirano A ORDEM, em meados de janeiro de 1910 e teve ampla repercussão na cidade. Pela primeira vez uma filarmônica do interior do estado era convidada para animar  o Carnaval de Salvador. Para isso a LYRA CECILIANA, já à época considerada uma  das melhores filarmônicas da Bahia, contratou um navio e elaborou uma excursão para levar os músicos e  uma comitiva  com os  seus numerosos adeptos num passeio marítimo-fluvial. Durante o trajeto a LYRA iria apresentar  a bordo do navio  o seu animado repertório, composto por  valsinhas, foxies e quadrilhas (que na época não tinha a concepção que hoje apresenta, associada aos festejos juninos). O jornal aponta que esta  foi uma oportunidade para que as comunidades ao longo do Rio Paraguaçu vissem de perto o já atraente Carnaval de Salvador, com o desfile dos clubes carnavalescos.