sexta-feira, 27 de maio de 2011

CHARUTOS DO RECÔNCAVO E UM ANÚNCIO DE NATAL POLITICAMENTE "INCORRETO" NOS ANOS 50.

Nos dias de hoje um anúncio desses seria massacrado, sendo considerado "politicamente incorreto". E certamente receberia um bombardeio de críticas, por incentivar a dependência química com a prática do tabagismo. Mas nos anos 50 as Indústrias Suerdieck, cuja sede ficava no Recôncavo Baiano - suas fábricas de charuto espalhavam-se por Cachoeira, São Félix e Maragojipe - publicaram  este anúncio de Natal nas principais revistas do Brasil ! O objetivo, claro, era divulgar as "excelências" dos seus produtos, entre os quais estavam os lendários charutos, que chegavam a competir a nível internacional com os não menos famosos charutos cubanos.

Numa época em que ainda não estava massificada a ideia de que o fumo é danoso à saúde,  ele era com naturalidade associado a situações e práticas saudáveis. Na peça, os charutos Suerdieck aparecem como um sonho de consumo para as festas de fim de ano. Enquanto Branca de Neve enfeita a àrvore de Natal com os charutos, que mesmo tendo forma cilíndrica podiam ser adaptados como se fossem ícones natalinos, os Sete Anões chegam contentes para receber seus tão desejados e esperados presentes: caixas de charutos.


Anúncio dos charutos Suerdieck (década de 1950)



terça-feira, 24 de maio de 2011

A MOBILIZAÇÃO DOS JOVENS PARA CONSTRUIR UM "BALLIPODEU" EM CACHOEIRA.

Houve um tempo, precisamente em 1922, em que um grupo de cachoeiranos e sanfelixtas  mobilizou-se para realizar uma campanha  em prol da construção de um "ballipodeu". Esta palavra estranha aplicava-se para definir um local para a prática do foot ball ,  ou seja, um estádio!. Nessa época havia uma tentativa de  combater os galicismos e criar palavras nacionalizando nomes estrangeiros. Assim, a própria palavra inglesa foot ball  seria substituída (chegou a ser em Portugal, durante algum tempo...) por ludopédio, uma palavra que juntava os conceitos de ludo (jogo) com pédio ("dos pés").  

Recorte do jornal cachoeirano A ORDEM ( 07 outubro 1922)
O "balipodeu" ou stadium deveria ser construído na Rua Martins Gomes (Rua da Feira), num terreno localizado nos fundos da casa do Major da Guarda Nacional, João Gualberto de Carvalho.   Na matéria constata-se também a grande quantidade de clubes de futebol existentes então em Cachoeira e São Félix: Club Athlético Cachoeirano, Flamengo, Rio Branco, Ypiranga, Paraguassu, Democrata, Fluminense, Guarany e America. A campanha pela construção do "ballipodeu" mobilizou os jovens das mais ricas e poderosas famílias de Cachoeira. Alguns viriam a ocupar postos de destaque na política, na economia e na cultura da região. Estavam presentes à reunião os jovens Anarolino Pereira (que viria a ser prefeito), Albino Milhazes, Cândido M. Vacarezza, Arlindo Estrella e o poeta e jornalista Augusto de Azevedo Luz.

Augusto de Azevedo Luz

Anarolino Theodoro Pereira



terça-feira, 17 de maio de 2011

ENGENHO DE CACHOEIRA INOVA E CRIA TECNOLOGIA PARA FABRICO DE ACÚCAR

Cena de um engenho de cana-de-açucar no Brasil Colonial
No final do século XVIII um senhor de engenho do Vale do Iguape, em Cachoeira, iniciou pesquisas para o aproveitamento do bagaço de cana como combustível para queima nas fornalhas e assim aumentar a produção do seu fabrico de açúcar. Manoel Jacinto de Almeida fez várias experiências que resultaram em tecnologias inovadoras, como a mudança de métodos e procedimentos e o aproveitamento do bagaço seco da cana, que antes era rejeitado, e assim reduzia os custos de seu engenho. Com a diminuição dos custos de produção, ele aumentava os lucros obtidos. E ainda, sem o saber, estava contribuindo também com o meio ambiente numa época em que não havia claramente nenhuma consciência deste conceito. Pois, além de aproveitar o bagaço da cana, que até então era descartado no solo como resíduo inservível, o novo método reduzia drasticamente o consumo da madeira nativa retirada das matas brasileiras. Inclusive  o desmatamento já era uma nascente preocupação pois ao final o artigo aponta que muitos "engenhos  há já anos não faziam assucar porque não tendo já matas..."

Alguns anos mais tarde, quando a experiência já dava resultados concretos, a tecnologia inovadora  foi anunciada em "O Patriota", um "jornal literário,  político e mercantil do Rio de Janeiro", que divulgava os inventos e avanços da "sciencia e das artes" do Brasil e do mundo.  No artigo "Memórias sobre as novas fornalhas para cozer o assucar com o bagaço, inventadas pelo Dr. Manoel Jacinto de Almeida. Por Frei Archangelo de Ancona, missionário apostólico", publicado em setembro de 1813, o jornal descreve o processo desenvolvido em Cachoeira, apontando "as incalculáveis vantagens  para todo o Brazil" e lamenta não ver apoio à iniciativa. Mas a nova tecnologia foi mais tarde plenamente absorvida no processo produtivo dos engenhos de açucar do Nordeste brasileiro. Leiam o artigo que anuncia e exalta os novos métodos de se produzir açúcar de maneira economicamente mais rentável e ambientalmente mais  sustentável.


quarta-feira, 11 de maio de 2011

A PRESENÇA DE CACHOEIRA NAS PÁGINAS DA PRESTIGIADA REVISTA " O MALHO"

A Revista "O Malho", uma das principais publicações da história da imprensa brasileira, que se dedicava a mostrar aspectos da cultura e da política brasileiras, apresentou imagens da cidade baiana de Cachoeira em sua edição de 05 de julho de 1930, portanto há 70 anos. Aparecem, pela ordem: imagens das palmeiras imperias da atual Praça Maciel (antes da construção do Mercado); imagens da Praça Dr. Milton (confundida pelo editor da matéria com a própria Praça Maciel) onde até então eram realizadas as feiras livres da cidade; uma imagem do Rio Paraguaçu (tirada da Ponte Dom Pedro II mas atribuída aos "fundos da Praça Manoel Vitorino"); uma imagem da fábrica de tecidos "São Carlos", depois denominada Tororó; outro âmgulo da Praça Dr. Milton, tendo ao fundo o conjunto formado pela Igreja de São João de Deus e a Santa Casa de Misericórdia; e por último uma imagem da Praça Barão do Rio Branco, largo situado entre a sede da Minerva Cachoeirana e o Forum Teixeira de Freitas.



 
A revista "O Malho" era publicada semanalmente no Rio de Janeiro e foi criada em 1902  pelo pelo músico, ator, desenhista, cenógrafo e jornalista pernambucano Crispim do Amaral. Por suas páginas desfilaram trabalhos de grandes desenhistas e chargistas brasileiros como J. Carlos, Kalisto, Ângelo Agostini, Max Yantok e Theo. Mostrava de maneira satírica, bem humorada,  e muitas vezes debochada, a política brasileira e era muito ligada aos políticos da República Velha. Antes da Revolução de 1930 a revista chegou a ridicularizar os adversários do presidente Washington Luiz. Com a vitória dos militares, a deposição do presidente, implantação da ditadura e a ascensão de Getúlio Vargas a revista teve a sua redação e oficinas invadidas e foi "empastelada", ficando sem circular por alguns meses. 

quarta-feira, 4 de maio de 2011

JJ SEABRA FAZ COMÍCIO EM CACHOEIRA CONTRA RUY BARBOSA E SOFRE ATENTADO EM CURRALINHO


Na acirrada disputa eleitoral de 1910, em que Ruy Barbosa  lançou a "Campanha Civilista" em oposição à candidatura do Marechal Hermes da Fonseca (que viria a ser eleito), houve momentos de extrema tensão e confrontos entre os partidários dos dois candidatos. Em sua própria terra,  Ruy Barbosa enfrentou uma forte resistência, liderada pelo então deputado JJ Seabra,  que assumiu pessoalmente o comando da candidatura Hermes da Fonseca de quem mais tarde viria  ser o poderoso Ministro da Viação e Obras Públicas. Reproduzia-se na Bahia  o confronto  resultado do racha entre as elites oligárquicas brasileiras que,  até então,  sempre lançavam um candidato único para defender seus interesses e privilégios. São Paulo e Minas Gerais dominavam a cena política brasileira.  Mas pela primeira vez houve, de fato, uma disputa. São Paulo e o Presidente da República, Nilo Peçanha, apoiaram a candidatura do baiano Ruy Barbosa, enquanto Minas Gerais e Rio Grande do Sul apoiaram Hermes da Fonseca.   Houve  acusações mútuas de violências e fraudes.   
Hermes da Fonseca X Ruy Barbosa : o embate eleitoral de 1910
Seabra reuniu em torno de seu candidato o apoio de poderosas forças políticas do estado e sua chegada a Salvador para dirigir a campanha foi apoteótica, liderando passeatas, meetings (comícios) e reuniões com correligionários. Uma delas estava programada para a residência do deputado Domingos Guimarães, que embora muito ligado ao governador Araújo Pinho, defensor da canditaura Ruy Barbosa, foi cooptado  e aderiu à candidatura de Hermes da Fonseca. Mas Seabra não compareceu, preferindo atender ao convite do deputado federal Ubaldino de Assis para visitar e fazer campanha em Cachoeira. Na época eram aliados mas anos depois viriam a ser inimigos mortais. J. J. Seabra e Ubaldino de Assis embarcaram no "Vapor de Cachoeira" e seguiram pelo Rio Paraguaçu em direção a Cachoeira e depois a São Félix, de onde  a comitiva seguiu de trem para Curralinho (atual cidade de Castro Alves) onde ocorreu o atentado.  O relato abaixo foi extraído da obra  "A Bahia e seus governadores  na República" escrito em 1923 por Antonio Ferrão Moniz de Aragão  e recentemente reeditado pela Fundação Pedro Calmon (FPC), órgão da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SECULT). 



 Na descrição acima está erroneamente citado que JJ Seabra foi "alvejado" duas vezes, quando na verdade ele não foi atingido. O sentido da frase é de que teria sido "alvo". 
As filarmônicas serviam de instrumento de ação partidária. Enquanto a Minerva Cachoeirana era dirigida por pessoas que seguiam fielmente a liderança política do deputado Ubaldino de Assis a Lyra Ceciliana, filarmônica rival, era dirigida pelos adversários de Ubaldino. 

  
JJ Seabra apoiou Hermes, contra Ruy Barbosa...
... e recebeu o apoio político do líder cachoeirano 
 Ubaldino de Assis.