terça-feira, 27 de setembro de 2011

LIVRO SOBRE TRANQUILINO BASTOS E A HISTÓRIA DE CACHOEIRA SERÁ LANÇADO NA FLICA

Será lançado na segunda semana de outubro o livro O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um Maestro Abolicionista, de autoria do jornalista Jorge Ramos.

O lançamento em Salvador será no dia 13 (quinta-feira), às 19h30 no Foyer do Teatro do IRDEB/TVE Educativa (Rua Pedro Gama, fim de linha da Federação). Dois dias depois, no sábado (15), às 19 horas, no Pouso da Palavra ( Praça da Aclamação) será feito o lançamento no penúltimo dia da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), que será realizada de 11 a 16 de outubro.



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

RECÔNCAVO : A BASE ECONÔMICA DA BAHIA DURANTE O PERÍODO COLONIAL

O documento abaixo, cujo inteiro teor se encontra arquivado na Torre do Tombo, em Lisboa, traz uma descrição da economia do Recôncavo Baiano ao final do século 18. Foi enviado pelo governo da Província ao Conselho Ultramarino, órgão da estrutura do Reino de Portugal encarregado de administrar as colônias.O texto abaixo foi publicado nos Anais da Biblioteca Nacional, edição Nº 36, publicada em 1914,  no qual consta o Inventário dos Documentos relativos ao Brasil existentes no Archivo de Marinha e Ultramar, organizado por Eduardo de Castro e Almeida.

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Todos os produtos gerados  no Recôncavo eram transportados através de seus rios -  Subaé, Paraguaçu e Jaguaribe - e alcançavam o "o porto da Bahia". As principais mercadorias eram "víveres", ou seja, produtos alimentícios, o que evidencia que Salvador, então uma das maiores cidades do Hemisfério Sul,  dependia do Recôncavo para ser abastecida.

Cachoeira,vista de São Félix (início do Sec. 19).  O transporte hidroviário-merítimo  garantia o escoamento da  produção do Recôncavo para abastecer Salvador de "víveres" e exportar açúcar e fumo para a Europa. 
O intenso movimento de barcos e saveiros - é  estimado em mais de uma centena  o número de viagens semanais -  transportando a  produção nativa e,  na volta, levando para as vilas e povoações as "mercadorias de Portugal"  fazia com que cidades como Cachoeira fossem importantes entrepostos comerciais.  Essa  atividade econômica fez do Recôncavo Baiano uma das regiões mais importantes durante o Brasil Colonial.

Em outro documento, emitido um ano depois, o mesmo governador escreve a D. Rodrigo de Souza Coutinho, administrador do Conselho Ultramarino, para informar acerca do fluxo de comércio entre a Metrópole e a Colônia. Era uma resposta a outra correpondência,  na qual o Reino determinava o aumento desse intercâmbio comercial. O governador expõe, com muita clareza, as dificuldades  que os tecidos e vinhos, principais ítens da pauta de importações,  enfrentavam na Colônia. Ao tempo em que faz um balanço da produção colonial de açúcar e tabaco, e da então nascente lavoura do algodão, no Brasil.

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domingo, 18 de setembro de 2011

SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE CACHOEIRA CRITICADA POR "EXCESSO" DE CARIDADE

No ano de 1855 o Presidente da Província da Bahia, João Maurício Wanderley (que viria mais tarde a receber o título de Barão de Cotegipe) alertava em seu Relatório, recitado perante a Assembleia Legislativa, que a Santa Casa de Misericórdia de Cachoeira, uma das mais antigas instituições do gênero no país, estava na iminência de uma grave crise financeira.   E o motivo apontado pelo governante era o mal entendido espírito de caridade de suas administrações, que viviam admitindo maior número de enfermos, do que aqueles a quem pode soccorrer. Como a receita era incerta e havia - além das obrigações com os doentes e a manutenção das propriedades que formavam seu patrimônio - a necessidade de se fazer investimentos em obras de ampliação do hospital, a situação, segundo o relatório iria se agravar nos próximos anos.

A leitura desse trecho do relatório expõe a real situação financeira e a atuação da Santa Casa de Misericórdia de Cachoeira, que recebia subvenções oficiais para as ações sociais e também  para investir na ampliação do hospital. O patrimônio da instituição era formado por 56 casas,  muitas em péssimo estado de conservação, e terrenos foreiros, entre outros. O documento revela ainda que ela acolhia crianças abandonadas (os "expostos"). Em Cachoeira eles eram criados fora do ambiente hospitalar, por amas externas (certamente remuneradas) e isso  diminuía a taxa de mortalidade desses órfãos. 

João Maurício Wanderley (1815-1889) além de ter presidido a Província da Bahia (1852-1855), foi deputado, senador e ministro quatro vezes (Fazenda, Marinha, Justiça  e Negócios  Estrangeiros, atual Relações Exteriores). Como chefe do governo parlamentarista, era presidente do Conselho de Ministros, ocasião em que (1885) assinou a Lei dos Sexagenários, que libertava os escravos com mais de 60 anos. Ironicamente, foi o único Senador do Império a votar contra a Lei Áurea. E, ao cumprimentar a Princesa Isabel, disse-lhe : "A senhora acaba de redimir uma raça e perder  o trono" 


domingo, 11 de setembro de 2011

UMA VISITA AOS ENCANTOS DE CACHOEIRA NO DOMINGO DA FESTA DA BOA MORTE EM 1961

Em 15 de agosto de 1961 Cachoeira recebeu a visita de um grupo de jornalistas, escritores e intelectuais baianos interessados em conhecer a beleza de seus monumentos e  a riqueza de seu folclore que na época já chamavam a atenção das autoridades da área cultural e do então nascente setor de turismo da Bahia. A visita foi relatada na excelente crônica Cachoeira, a Bela publicada em A TARDE.

Crônica foi publicada em A TARDE, edição de 6 de agosto de 1961
 O autor da crônica é Carlos Vasconcelos Maia (1923-1988), um dos expoentes do Modernismo na Bahia, que na época ocupava o cargo de Superintendente do Departamento de Turismo de Salvador. Ele é considerado um dos maiores contistas da Bahia e integrou uma geração de notáveis intelectuais que renovou a cultura, através de suas criações, entre os anos 40 e 50. Vasconcelos Maia se destacou como um autor que retraçou, em belas imagens literárias,  os diversos ambientes geográficos e humanos da Bahia: o agreste, o urbano e o litoral, enfocando aspectos psicológicos e culturais, como o misticismo afro-baiano.

Vasconcelos Maia encantou-se com Cachoeira
A crônica mostra o impressionante efeito que a cidade causou aos visitantes, que ficaram encantados com a paisagem de ruas, becos e praças, o casario em estilo colonial, o belíssimo patrimônio arquitetônico e a visão magnífica que tiveram da orla do Rio Paraguaçu. O belo texto exalta a simpatia dos cachoeiranos, que acolheram os visitantes com "fidalguia". O prefeito na época era Julião Gomes dos Santos e a cidade ainda apresentava os efeitos cruéis da grande enchente occorrida no ano anterior. Vasconcelos Maia critica, ainda que de maneira elegante, a descaracterização da fachada de alguns imóveis, que trocavam a feição colonial por "platibandas".   
O encantamento alcançou  seu ápice quando os visitantes viram, naquele domingo 15 de agosto, o cortejo das negras anciãs, que compõem a Irmandade da Boa Morte, com seu garbo congênito e dignidade indefinível, na celebração da Festa de Nossa Senhora da Glória. 

No traço de Caribé, a Festa da Boa Morte em Cachoeira

  

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

BIOGRAFIA DO MAESTRO ABOLICIONISTA MANOEL TRANQUILINO BASTOS SERÁ LANÇADA EM OUTUBRO

              Esta é capa do livro O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um Maestro Abolicionista, de autoria do autor deste blog, que será lançado nos próximos dias 13 de Outubro, em Salvador, e 15 de Outubro, em Cachoeira.  O livro apresenta a biografia do músico cachoeirano Tranquilino Bastos (1850-1935), fundador (em 1870) da filarmônica Lyra Ceciliana. Ele foi compositor, regente e professor de diversas gerações de músicos, tendo criado e/ou dirigido diversas filarmônicas no interior da Bahia. O capítulo inicial do livro mostra Tranquilino Bastos à frente de sua filarmônica, na noite de 13 de Maio de 1888, comemorando ruidosamente em Cachoeira a assinatura da Lei Áurea e o fim da escravidão no Brasil. 


Além de ter participado da luta pela abolição da escravatura, Tranquilino Bastos foi  líder espírita, praticante da homeopatia e vegetariano. Suas intensas atividades,  como artista e jornalista engajado na defesa da cidadania, o levaram a se destacar como o maior nome intelectual de Cachoeira entre os séculos 19 e 20. É autor, entre centenas de outras composições, do Hino da Cachoeira e de músicas exaltando o abolicionismo.  Nesse texto, ele enumerou sua vasta criação : Composições – Mais de 30 a menos de 50 marchas fúnebres, 295 dobrados, 100 a 150 marchas festivas, valsas, contradanças, polcas, polacas, 80 fantasias, nove variações, duas missas, duas novenas, 10 tantamuergos, oito maria-concebidas, cinco árias para canto, dois mementos e 205 fragmentos de ópera transcritos para banda marcial, hinos do 13 de Maio, da municipalidade de Feira de Santana e do 25 de Junho de Cachoeira.  

Tranquilino Bastos era defensor do pacifismo e se destacou também como jornalista, tendo publicado na imprensa cachoeirana centenas de artigos em que defendeu a liberdade  religiosa, numa época em que a prática do candomblé era perseguida pela Polícia, e a liberdade de manifestação. Também se manifestou contra o preconceito racial, o coronelismo e a corrupção eleitoral, atacou o militarismo e criticou o golpe militar que implantou a República. Mas, sobretudo, antecipou em décadas a discussão de temas hoje considerados politicamente corretos, como o respeito aos  direitos humanos e a defesa do meio ambiente.

Artigo de Tranquilino Bastos publicado em  O Pequeno Jornal
 
A vida e a obra de Tranquilino Bastos e o contexto  econômico, social, político e cultural do Recôncavo Baiano do seu tempo são mostrados no livro, que traz ainda aspectos da evolução da cidade de Cachoeira ao longo de três séculos de sua história.  Abaixo, a relação dos capítulos  contidos nas 210 páginas do livro.