quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

CUNEGUNDES BARRETO, UM PREFEITO EXEMPLAR.

Na história de Cachoeira um dos períodos de maior atividade administrativa foi durante o governo do intendente (o nome "prefeito" foi adotado, somente a partir de 1930) Cunegundes Barreto. Embora o seu período de governo tenha sido curto (eleito em 1928, teve o mandato interrompido com a Revolução de 1930, que destituiu todos os intendentes do país), ele deixou um notável acervo de obras, com ênfase na urbanização da cidade. No governo dele foram calçadas de paralelepípedo as principais ruas da cidade, construídas  praças, arborizadas ruas e finalizada a construção do cais, na orla da cidade. Apenas com algumas semanas de sua administração os efeitos já eram sentidos, como o "faxinaço" que promoveu, recolhendo o lixo que se espalhava nas ruas. Em pouco tempo, o impacto das ações do rico fazendeiro do distrito de Capoeiruçu guindado ao cargo de intendente, causou um efeito positivo sobre a cidade, como pode ser constatado neste artigo do jornal A ORDEM (14jan1928). A notícia faz referência ao "Cais Maria Alves", que estava em ruínas e seria brevemente recuperado. Trata-se do trecho fronteiro à Rua 25 de Junho, ao lado no local onde viria a ser construído mais tarde o Hotel Colombo.  Ali existia uma praça irregular e abandonada, em cuja sombra de velhos tamarineiros as pessoas se reuniam. Cunegundes  alinhou a praça, deu-lhe o nome do jurista Teixeira de Freitas e construiu a escadaria de pedra, que dava acesso às canoas que faziam a travessia para São Félix.
Jornal cachoeirano A ORDEM (14 de janeiro de 1928) destaca o início da gestão de Cunegundes Barreto
Cunegundes Barreto teve um mandato curto, porém dinâmico

O mandato dele, e de todos os demais intendentes dos municípios brasileiros, foi interrompido bruscamente pela Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder. Cunegundes Barreto passou o cargo para Cândido Elpídio Vaccareza, nomeado interventor e que tinha sido inclusive antecessor do próprio Cunegundes na administração da cidade. Com a nova ordem política, os políticos "decaídos" - como eram chamados os que tinham perdido o poder - passaram a ser questionados, numa época de "caça às bruxas", onde inquéritos eram abertos em busca de quaisquer irregularidades que justificassem o arbítrio. Assim aconteceu com Cunegundes Barreto, que teve muitas de suas realizações questionadas quanto à lisura dos contratos. Mesmo sem nada ter sido provado contra ele, tal realidade abateu-lhe o ânimo. Desgostoso com a política, dedicou-se às suas fazendas mas tomado por uma grave depressão (ou "desgosto", como essa doença era conhecida à época) adoeceu e morreu menos de um ano após ter sido deposto. O enterro dele mobilizou a cidade e seu túmulo é um dos mais destacados do Cemitério da Piedade, ficando logo à esquerda de quem entra.
O escritor Antonio Loureiro de Souza dedicou-lhe um verbete no livro "Notícia Histórica de Cachoeira" (editado pela UFBa em 1972), onde resume  a história da cidade e traça breves perfis de figuras históricas de Cachoeira. 
Cunegundes é destacado em livro de Antonio Loureiro



terça-feira, 20 de dezembro de 2011

HÁ 130 ANOS COMEÇAVAM AS OBRAS DE CONSTRUÇÃO DA PONTE DOM PEDRO II

Há exatamente 130 anos, no dia 22 de dezembro de 1871 era colocada a pedra inaugural da Imperial Ponte Dom Pedro II, que liga Cachoeira a São Félix. O fato foi registrado no Relatório do então Presidente da Província da Bahia, João Lustosa da Cunha Paranaguá, ao passar o cargo, em 5 de janeiro de 1882,  ao 2º Vice-Presidente da Província, João dos Reis de Souza Dantas perante a Assembléia Provincial (o equivalente hoje à Assembleia Legislativa). A "pedra fundamental" das obras da ponte foi colocada no Largo da Manga, atual Praça Manoel Vitorino.  O presidente destaca a importancia da obra, que irá interligar dois ramais ferroviários e servirá para fomentar o comércio da região e escoar para a capital a produção agrícola do centro da Província. Ligada ao sistema hidroviário, através dos saveiros, canoas e do Vapor de Cachoeira,  as ferrovias que  eram ligadas  através da ponte, se constituiria num pioneiro sistema intermodal de transporte.
 
Relatório do Presidente da Província da Bahia em 1882 ...
em que é citado o início da construção ...
da Imperial Ponte D. Pedro II, que liga Cachoeira a São Félix


sábado, 17 de dezembro de 2011

A QUEIXA DE UM CIDADÃO CACHOEIRANO

Os jornais sempre foram a forma encontrada pelos cidadãos para se manifestarem e pedirem providências às autoridades contra fatos e acontecimentos que lhes tragam constrangimentos. No ano de 1900 o cidadão cachoeirano Feliciano de Cerqueira Couto escreveu uma carta ao jornal A ORDEM, pedindo providências enérgicas à autoridade policial contra uma mulher "crioula" conhecida como "Maria Zoião", que o desacatava com xingamentos. Ameaçando recorrer diretamente ao Chefe da Segurança Pública se providências não fossem tomadas, o reclamante usa uma linguagem rebuscada para relatar que, mesmo sendo um pacato pai de família que vive entregue "ao labor diurno, esforçando-me para cumprir com meus múltiplos deveres",  sofre diariamente desacatos da "mentecapta" que era o terror dos vizinhos, na Rua 13 de Maio.
                                             (clique na imagem para facilitar a leitura)


Esta e outras notícias sobre negros na Bahia estão no site O NEGRO NA IMPRENSA BAIANA NO SÉCULO XX (http://www.negronaimprensa.ceao.ufba.br) mantido pelo Centro de Estudos Afro Orientais da Universidade Federal da Bahia (UFBa), que reúne uma vasta documentação sobre o conteúdo de diversos jornais baianos na abordagem da temática negra.

Este site tem o propósito de constituir um repertório de fontes da primeira década do século XX, no que se refere a notícias de temática racial, seja através de matérias sobre outros países ou, em maior número, à população afro-brasileira, suas manifestações culturais como sambas, batuques, candomblés, capoeira e entidades carnavalescas, a inserção no mercado de trabalho, através de anúncio de emprego com relevância ao aspecto racial, causas de doenças, mortes, linguagem do cotidiano que remetem à característica dessa população, as suas entidades políticas e condições sociais. (Palavras do Professor Jocélio Teles dos Santos,  do Departamento de Antropologia da UFBa)


domingo, 11 de dezembro de 2011

ANNA NERY: UMA CACHOEIRANA NO LIVRO DOS HERÓIS DA PÁTRIA


Ana Nery no campo de batalha, retratada por Vítor Meirelles.  O quadro está na Câmara Municipal de Salvador
Há 197 anos, no dia 13 de dezembro de 1814, nascia em Cachoeira (BA) Anna Nery, a "Mãe dos Brasileiros" como ficou conhecida essa brava mulher, que não hesitou em servir aos filhos, à Pátria e à humanidade, indo como voluntária para a Guerra do Paraguai (1864-1970), servir como enfermeira.  Ela notabilizou-se pelo extremo zelo e dedicação que aplicava no tratamento aos milhares de feridos que recebia nos acampamentos que improvisava nos campos de batalha. Consta que após uma das batalhas, viu o cadáver de um dos filhos. Enterrou-o, orou por ele e superou a dor cuidando dos demais feridos. É, por suas ações humanitárias, considerada a "Patrona da Enfermagem" no Brasil e seu nome está  inscrito, desde 2009, no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília.

Neste sobrado (primeiro à direita) da Rua da Matriz,  em Cachoeira, nasceu Anna Nery
História :
Ana Justina Ferreira Nery foi a primeira enfermeira do Brasil e nasceu na então Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira. Casou-se aos 23 anos com Isidoro Antônio Néri, capitão-de-fragata da Marinha e que estava sempre no mar. Dessa forma, Ana acostumou-se a ter a casa sob sua responsabilidade. Ficou viúva aos 29 anos, com os filhos Justiniano, Isidoro e Pedro Antônio para cuidar. Os dois primeiros tornaram-se médicos e o último, militar. Em 1864, o Brasil, a Argentina e o Uruguai formaram a Tríplice Aliança  para lutar contra o Paraguai, numa guerra fraticida. Os filhos de Ana Nery foram convocados. Sensibilizada com a dor da separação, no dia 8 de agosto ela escreveu ao presidente da província oferecendo-se para cuidar dos feridos de guerra enquanto o conflito durasse. Deixa a Bahia, pela primeira vez na vida, e vai auxiliar o corpo de saúde do Exército. No Rio Grande do Sul aprendeu noções de enfermagem com as irmãs de caridade de São Vicente de Paulo e segue para o campo de batalhas. Trabalhou no hospital de Corrientes, onde contou com a ajuda de poucas freiras vicentinas para cuidar de mais de 6 mil soldados internados. Partiu algum tempo depois, atuando em Salto, Humaitá, Curupaiti e Assunção. Apesar da precariedade das condições de trabalho, como a falta de higiene, de recursos e de materiais, e do excesso de doentes, Ana Nery chamou a atenção por seu trabalho como enfermeira dedicada pelas várias regiões por onde passou. Com recursos próprios, herdados de família, Ana montou uma enfermaria-modelo em Assunción, capital paraguaia sitiada pelo exército brasileiro. Atendia indistintamente a todos, fossem brasileiros ou paraguaios. Ao final da guerra, em 1870, Ana Nery voltou ao Brasil  trazendo para criar seis meninas órfãs de guerra, filhas de soldados brasileiros e paraguaios. Foi homenageada pelo Governo Imperial com o título de "Mãe dos Brasileiros" e D. Pedro II, por decreto, lhe concedeu uma medalha e uma pensão vitalícia. Faleceu no Rio de Janeiro em 20 de maio de 1880. Carlos Chagas batizou com o nome de Ana Néry, a primeira escola oficial brasileira de enfermagem de alto padrão, em 1926.

Selo que homenageia  "A Mãe dos Brasileiros"