domingo, 19 de junho de 2011

PARREIRAS ESTEVE EM CACHOEIRA PARA PINTAR "O PRIMEIRO PASSO PARA A INDEPENDÊNCIA"

A mais célebre imagem que retrata a epopéia da guerra pela Independência do Brasil, pintada por Antonio Parreiras (1860-1937) - após passar uma temporada em Cachoeira no ano de 1928 - é a que sintetiza,  em uma única cena,  os acontecimentos do dia 25 de Junho de 1822, quando a vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira foi bombardeada por tropas portuguesas após aclamar o Príncipe Regente D. Pedro de Alcântara. O episódio deflagrou a guerra pela independência do Brasil, somente consolidada em 2 de Julho de 1823.  

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Parreiras exageradamente atribui ao 25 de Junho em Cachoeira uma importância maior até do que o 7 de Setembro. Segundo suas próprias palavras foi o "...movimento que, primeiro que Pedro I, deu o grito de Independência em 25 de Junho de 1822." .Ao quadro ele dá o imponente título "Primeiro passo para  a Independência". Esta foi uma das obras mais representativas de Antonio Parreiras, consagrado como o maior pintor histórico brasileiro e autor de mais  de uma dezena de quadros que recriam importantes episódios da história do Brasil.

Obra de Parreiras foi analisada por Valéria Salgueiro

 Em seu livro autobiográfico "História de um pintor contada por ele mesmo"  e no livro que a artista plástica e professora Valéria Salgueiro, da Universidade Federal Fluminense, escreveu sobre sobre ele, estão registrados detalhes da elaboração do trabalho, que foi encomendado em 1928 pelo então governador da Bahia, Vital Soares. Parreiras veio à Bahia e foi a Cachoeira, quando conheceu o cenário do episódio a ser retratado e desenhou os primeiros croquis. Na ocasião, Parreiras recebeu orientação do professor e historiador Bernardino de Souza, secretário perpétuo do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHBa), que lhe prestou todas as informações acerca do episódio histórico. 

Em Salvador ele assinou contrato com o governo do estado antes de voltar para o Rio de Janeiro, onde se dedicou ao trabalho em seu atelier, que ficava em Niterói, sua cidade natal. O quadro só ficou pronto em 1931, quando foi enviado à Bahia e exposto no Palácio Rio Branco, em Salvador. Para a cidade de Cachoeira, Parreiras pintou o mesmo quadro em versão reduzida, que se encontra no Salão Nobre da Câmara Municipal.
 

A referência a "1937" foi confundida com o ano em que o quadro ficou pronto (1931). Parreiras erra o nome de Rodrigo (chama-o Rodrigues) Francão Brandão e omite o nome completo de José Joaquim de Almeida e Arnizau.
Parreiras se inteirou sobre a história da Bahia
Parreiras não é generoso para com o prédio da Câmara e chama-o de "velho e feio". Certamente porque nessa época o imóvel se encontrava em péssimo estado de conservação, aparentando ser uma ruína. Mas ele se encantou com a paisagem de Cachoeira, tendo se hospedado em São Félix, do outro lado do Rio Paraguaçu. Usando de uma "licença poética", Pareiras retratou numa única cena três momentos distintos:1) a aclamação; 2)o bombardeio da vila; e 3) a lancha destruída (imagem ao fundo, na extrema direita), que não foram simultâneos, mas separados por algumas horas.

Parreiras tinha 68 anos quando foi a Cachoeira conhecer o cenário de seu famoso quadro

segunda-feira, 13 de junho de 2011

14 DE JUNHO DE 1822: SANTO AMARO INICIA REBELIÃO DAS VILAS DO RECÔNCAVO

Este blog homenageia neste 14 de junho a cidade de Santo Amaro que juntamente com Cachoeira, São Francisco do Conde, Jaguaribe e Maragojipe constituiu o conjunto de vilas do Recôncavo que iniciaram, antes do 7 de Setembro de 1822,  as lutas pela Independência do Brasil.

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Na campanha pela Independência do Brasil a Vila de Nossa Senhora da Purificação e Santo Amaro teve um papel estratégico ao realizar em 14 de junho de 1822 uma sessão de sua Câmara de Vereadores na qual  foi aprovada, entre outras propostas,  a implantação de "um centro único de Poder Executivo no Brasil, a ser exercido pelo Príncipe Regente, segundo as regras prescritas em uma liberal Constituição". 

A Câmara de Santo Amaro respondia assim a uma carta consulta enviada de Lisboa pelos deputados constituintes baianos que lá estavam para elaborar a nova Constituição Portuguesa, após a Revolução do Porto, ocorrida no ano anterior.  Na mesma sessão a Câmara apoiou outras propostas como a criação de um Exército formado exclusivamente por brasileiros e de uma Armada Naval, para a defesa do Brasil; a criação de um Tesouro Nacional e de um Tribunal Supremo de Justiça; a liberdade de comércio,  a criação da uma universidade e a prática da iberdade religiosa.

Este episódio foi relatado pelo maior historiador baiano LUIZ HENRIQUE DIAS TAVARES, em seu livro clássico a "A Independência do Brasil na Bahia". Ele descreve o ocorrido na Vila de Santo Amaro da Purificação em 14 de Junho de 1822 :


Essas medidas iam na contramão do que desejava Portugal e desafiava frontalmente o Comandante das Armas Portuguesas na Bahia, General Madeira de Melo. Ele já dominava Salvador, onde dois dias antes ocupou militarmente as ruas para impedir que a Câmara se reunisse para aclamar Dom Pedro de Alcântara como "Defensor Perpétuo do Brasil" . Com a decisão, Santo Amaro entrou em rota de colisão com os interesses portugueses e embora não tivesse aclamado Dom Pedro nem pregasse a independência,a decisão abria caminho para outras vilas se pronunciarem a respeito.

O passo seguinte seria dado daí a poucos dias quando em 25 de Junho a Vila de Cachoeira aclamou o Príncipe, sendo bombardeada por uma escuna canhoneira portuguesa ancorada no Rio Paraguaçu.  Os cachoeiranos reagiram ao ataque, tomando a embarcação e prendendo  a tropa, dando início assim à Guerra pela Independência do Brasil, que   seria concluída somente em 2 de julho de 1823.
Clássico de LUIZ HENRIQUE DIAS TAVARES narra o "14 de Junho"

A ata da Sessão do 14 de Junho de 1822 foi enviada publicada na Gazeta do Rio de Janeiro em 19 de setembro daquele ano, quando Dom Pedro I já havia declarado a Independência. 



quinta-feira, 9 de junho de 2011

MANOEL PAULO FILHO, UM TALENTOSO E BRILHANTE JORNALISTA CACHOEIRANO

Um dos nomes mais expressivos e destacados da história do jornalismo brasileiro é o de MANOEL PAULO FILHO (1890-1969), que veio a ser inclusive presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no biênio 1928-1929. Nascido em Cachoeira (1890) era filho do comerciante  Manoel Paulo Teles de Mattos, um dos principais líderes abolicionistas da região e signatário da ata da histórica sessão  solene realizada pelo  Montepio dos Artistas Cachoeiranos para comemorar a assinatura da Lei Áurea, na noite de 13 de maio de 1888. 
                                                               
Após se formar pela Faculdade Livre de Direito da Bahia e exercer por breve tempo a carreira de promotor público em comarcas do interior da Bahia, MANOEL PAULO FILHO foi para o Rio de Janeiro em 1911 onde iniciou a carreira jornalística, tendo sido durante muitos anos Redator-Chefe do "Correio da Manhã", um dos principais jornais brasileiros à época. Nele, usando o pseudônimo de João Paraguaçu - nome escolhido segundo ele próprio para evocar a sua cidade natal, banhada pelo Rio Paraguaçu -  manteve uma coluna literária na qual relatava a sua convivência com  grandes nomes da literatura brasileira e também do Direito e da política.

Perfil de MANOEL PAULO FILHO foi traçado por Antonio Loureiro em "Notícia Histórica da Cachoeira"

Mesmo morando no Rio de Janeiro, MANOEL PAULO FILHO foi eleito pela Bahia para integrar a Assembléia Nacional Constituinte em 1934, na coligação liderada pelo interventor Juracy Magalhães. O seu prestígio era tanto que seu nome, inclusive, já tinha sido cotado para exercer este cargo logo após a Revolução de 1930. Mas  foi no jornalismo e na literatura que ele mais se consagrou.  Reconhecido como um talentoso escritor, convivia diretamente com grandes nomes da literatura brasileira, e  integrou  a Academia Carioca de Letras.  Seus textos eram publicados em diversos jornais brasileiros. Tinha atenção especial para com a Bahia, colaborando com vários jornais de sua terra especialmente o cachoeirano A ORDEM, onde tinha muitos amigos e admiradores. Seus artigos e crônicas tratavam de política mas principalmente  do universo cultural brasileiro, notadamente sua convivência com os políticos, juristas e literatos de seu tempo. Eis um de seus artigos, onde pode ser constatada a leveza do texto e o adequado manejo das palavras para retratar os sentimentos que queria expressar e transmitir aos leitores:

(clique na imagem para facilitar a leitura) 

Artigo de "João Paraguaçu publicado em O IMPARCIAL, de Salvador
Cachoeira o homenageou dando o nome dele à rua onde nasceu, a antiga Rua do Alambique, uma importante artéria da cidade, que liga a Rua 13 de Maio à orla do Rio Paraguaçu, nome que ele imortalizou  na literatura e no jornalismo brasileiros. Um de seus  livros mais conhecidos é justamente "Memórias de João Paraguaçu".  




quarta-feira, 1 de junho de 2011

CACHOEIRA E SÃO FÉLIX VIVERAM ALEGRES REGATAS NAS ÁGUAS DO RIO PARAGUAÇU

O Rio Paraguaçu viveu dias de glória  no passado,  quando nele eram realizadas competições náuticas que mobilizavam os moradores de Cachoeira e São Félix e atraíam inclusive  a atenção da imprensa nacional. Em julho de 1930 a revista "O Malho", editada no Rio de Janeiro,  mandou a Cachoeira e São  Félix um repórter e um fotógrafo para registrarem, uma regata no Rio Paraguaçu. Nota-se, mesmo ao longe, que as margens do Rio Paraguaçu e a ponte D. Pedro II eram inteiramente ocupadas pelos moradores das duas cidades, que assistiam praticamente de camarote ao belo espetáculo. Na época os clubes Associação Athética de São Félix e a Associação Cultural Desportiva do Paraguaçu dividam as preferências de cachoeiranos e sanfelixtas nos alegres domingos em que havia regatas.

As regatas atraíam a atenção de milhares de cachoeiranos e sanfelixtas. Nas imagens, alguns registros como o intenso movimento de barcos no porto de São Félix.

Era uma atividade que além de fornecer à comunidade um lazer dominical também garantia aos jovens da região a prática saudável de um esporte,  além de assegurar, de certa forma, um certo movimento no comércio local pois atraía milhares de pessoas às ruas e praças das duas cidades. Reviver essa atividade esportiva nos dias de hoje traria inúmeras outras vantagens para a comunidade, pois como opção saudável para os jovens  faria com que eles ficassem menos susceptíveis ao contato com as drogas. E também para a própria economia da região, com  restaurantes e pousadas lotados pela movimentação intensa de atletas e turistas nas competições regionais. Cachoeira, São Félix e Maragojipe obteriam também destaque no cenário esportivo baiano, podendo o Vale do Paraguaçu vir a ser, futuramente, um cenário para regatas internacionaios e se transformar num polo de turismo náutico. É possível imaginar que os veleiros, catamarãs e barcos que sempre aportam na Baía de Todos os Santos nos rallies nacionais e internacionais entrem pela Barra do Paraguaçu, passando por Maragojipe, Coqueiros,  Najé, Lagamar do Iguape, as ruínas do Convento de São Francisco, chegando até Cachoeira e São Félix. Não custa sonhar...