segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

PREFEITO DE CACHOEIRA DESACATA VEREADOR NA DISPUTA PELO CARGO DE PROVEDOR DA SANTA CASA

Em 1957 a disputa política em Cachoeira chegou a uma temperatura elevada. E a Santa Casa de Misericórdia era uma das instituições (as outras eram as filarmônicas, o recém-inaugurado Ginásio, as irmandades religiosas ...) que estavam no centro dessa disputa. De um lado, o pessoal da UDN, que tinha como líder regional o então deputado federal João Mendes, e contava com os líderes municipais vereador José (Zeca) Mascarenhas - dissidente do PSD - e o Padre Fernando Almeida Carneiro. Do outro lado estava a turma do PSD, cujo líder era o também deputado federal Augusto Públio, que tinha entre seus apoiadores o então prefeito Stênio Burgos e o advogado Dr. Fortunato Dórea e tentava reeleger o comerciante Osvaldo Cortes, Provedor da Santa Casa, enquanto a oposição lançara o nome do Padre Fernando - que inclusive fora demitido pelo governador Antonio Balbino, a pedido de Augusto Públio, de quem era correligionário, do cargo de Inspetor do Ginásio. A briga política chegou inclusive a repercutir na Assembléia Legislativa Na falta de um jornal isento (A CACHOEIRA, o único da cidade, era de propriedade de Augusto Públio)o pessoal da oposição publicava semanalmente um boletim, se defendendo e fazendo ataques aos adversários. A leitura do Boletim nº 75 dá uma ideia de como as coisas "esquentaram" naqueles tempos: o vereador Zeca Mascarenhas relata a sua versão da briga, por telefone, com o prefeito Stênio Burgos.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

HÁ 198 ANOS NASCIA EM CACHOEIRA UMA HEROÍNA BRASILEIRA: ANNA NERY, "A MÃE DOS BRASILEIROS".

A cidade de Cachoeira precisa comemorar com as devidas homenagens e festas, daqui a dois anos, o bicentenário de nascimento de seus mais ilustres filhos e uma das mulheres de maior presença e participação na história do Brasil: Anna Nery. Ela nasceu na então Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira em 13 de dezembro de 1814. Seu nome completo era Anna Justina Ferreira Neri. Após a morte do marido e tendo seus filhos ido lutar na Guerra do Paraguay, ela pediu, insistiu e acabou obtendo a licença do governador da Província da Bahia para ir ao palco da guerra, servir como enfermeira. No palco das batalhas serviu diuturnamente atendendo soldados feridos - tanto os brasileiros quanto os argentinos ou até mesmo os próprios paraguaios contra quem lutávamos - com tamanha dedicação e generosidade que foi capaz de superar a dor de ver entre os mortos o cadáver de um dos filhos e ainda assim continuar servindo a quem necessitasse. Por esse motivo ela ficou conhecida como a "Mãe dos Brasileiros" e foi considerada oficialmente a Patrona dos Enfermeiros no Brasil. Suas ações humanitárias igualam-na à desenvolvida pela Cruz Vermelha, por sinal surgida à mesma época. Era filha de José Ferreira de Jesus e de Luísa Maria das Virgens. Casou-se com capitão-de-fragata Isidoro Antônio Nery (1837). O marido morreu em 1843, deixando-a com três filhos: Justiniano, Antônio Pedro e Isidoro Antônio Nery Filho. Dois filhos eram oficiais do Exército. Ao irromper a Guerra do Paraguai (dezembro de 1864), seguiram ambos para o campo de luta. Anna requereu ao presidente da província da Bahia, conselheiro Manuel Pinho de Sousa Dantas, lhe fôsse facultado acompanhar os filhos e o irmão (major Maurício Ferreira) durante a guerra, ou ao menos prestar serviços nos hospitais do Rio Grande do Sul. Deferido o pedido, partiu de Salvador incorporada ao décimo batalhão de voluntários (agosto de 1865), na qualidade de enfermeira.
Durante toda a campanha, prestou serviços ininterruptos nos hospitais militares de Salto, Corrientes, Humaitá e Assunção, bem como nos hospitais da frente de operações. Viu morrer na luta um de seus filhos e, terminada a guerra, regressou ao Brasil trazendo para criar seis crianças paraguaias orfãs de guerra. Recebeu ainda em vida grandes homenagens. O governo imperial conferiu-lhe a Medalha Geral de Campanha e a Medalha Humanitária de primeira classe. Faleceu no Rio de Janeiro aos 66 anos de idade. Em sua homenagem foi denominada, em 1923, Anna Nery, a primeira escola oficial brasileira de enfermagem de alto padrão. Em 1938, Getúlio Vargas, assinou o Decreto n.º 2.956, que instituía o "Dia do Enfermeiro", a ser celebrado a 12 de maio, devendo nesta data ser prestadas homenagens especiais à memória de Anna Nery, em todos os hospitais e escolas de enfermagem do País. Em 2009, por intermédio da Lei n.º 12.105, de 2 de dezembro de 2009, Anna Justina Ferreira Nery entra para o livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília - Distrito Federal.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

TEIXEIRA DE FREITAS, O ''JURISTA DA AMÉRICA", É POUCO CONHECIDO NA CIDADE ONDE NASCEU.

Embora tenha dado nome ao fórum da cidade, o jurista Teixeira de Freitas é pouco conhecido em Cachoeira (BA), onde nasceu em 19 de outubro de 1816, há exatamente 196 anos. Mas seu nome é muito conhecido nos círculos jurídicos do Brasil e da América Latina. Existe uma estátua representando a sua figura, mandada confeccionar pelo Ordem dos Advogados do Brasil, nos jardins da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, em Salvador.
José Augusto Teixeira de Freitas, um dos maiores vultos jurídicos do Brasil e da América Latina, é autor do esboço do primeiro Código Civil Brasileiro. Os estudos que ele elaborou para consolidar o direito brasileiro serviram, mais tarde, de base para a elaboração do primeiro Código Civil Brasileiro (1916) e inspiraram profundamente os processos de codificação no Paraguai, no Uruguai, no Chile, na Nicarágua e, principalmente, na Argentina, onde serviu como modelo ao Código Civil elaborado pelo jurista portenho Vélez Sarsfield, admirador confesso da obra do brasileiro. A ele foi dado o título de "Jurisconsulto da América". Teixeira de Freitas estudou em Olinda (PE), onde formou-se em Direito. De volta a Salvador, em 1837 foi nomeado Juiz de Direito da capital baiana por indicação de um alto chefe da Revolta conhecida como “Sabinada” e em razão disso é, posteriormente, processado como participante nesse movimento revolucionário; mas absolvido transfere-se para o Rio de Janeiro onde em 1843 (aos 27 anos de idade), ao lado de Montezuma e outros luminares do Direito pátrio, funda o Instituto dos advogados Brasileiro (IAB), então o grande fórum cultural brasileiro ao lado do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro), precursor da OAB e do qual foi presidente quatorze anos depois. Sobre ele o jornal baiano O IMPARCIAL escreveu o seguinte artigo (clique na imagem para a leitura):
Teixeira de Freitas deixou uma vasta obra jurídica, que serviu de fonte para várias gerações de estudantes, advogados, juízes e demais operadores do Direito. Morreu em Niterói, em 12 de dezembro de 1883.

sábado, 6 de outubro de 2012

"AS GLÓRIAS DA CACHOEIRA"

Em 1877 o maestro cachoeirano Tranquilino Bastos (1850-1935) compôs o dobrado "AS GLÓRIAS DA CACHOEIRA", em que exaltava o passado heróico de sua cidade natal. Uma cópia da partitura foi enviada como brinde ao Correio da Bahia, na época o principal jornal de Salvador, que fez o registro em sua edição de 6 de setembro daquele ano. Anos mais tarde, em 1922,Tranquilino Bastos iria compor o "Hino da Cachoeira", em parceria com o poeta Sabino de campos, numa homenagem ao centenário da epopéia do 25 de Junho (1822), quando a cidade foi palco de um ataque português, episódio que deflagrou a guerra pela Independência do Brasil. (Para facilitar a leitura, clique na imagem)
A partitura original do dobrado "AS GLÓRIAS DA CACHOEIRA" é uma das peças do acervo das obras de Tranquilino Bastos, uma das coleções do Setor de Obras Raras da Biblioteca Pública da Bahia, para consulta de estudiosos e especialistas.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A FORÇA ECONÔMICA DE CACHOEIRA EM 1930

O jornal cachoeirano A ORDEM, em sua edição de 14 de junho de 1930, apresenta uma reportagem, transcrita do jornal carioca A DEFESA, em que é traçado um panorama completo de Cachoeira destacando o notável desenvolvimento que a cidade vivia. Para se ter uma ideia do poderio da então "maior cidade do interior baiano", eis um resumo do seu movimentado comércio: 15 barbearias; 29 açougues; 48 armazéns de secos e molhados;quatro fábricas de charutos; duas fábricas de gelo; uma fábrica da gasosa (refrigerante); 18 lojas de fazenda (tecidos); 12 alfaiatarias; oito padarias; seis pastelarias; seis armazéns de enfardar e ensacar fumo; além de serviços de águas e esgotos e telefones urbanos e interurbanos. (Para facilitar a leitura, clique na imagem)
A reportagem traz a foto do então prefeito, Cunegundes Barreto(1875-1931), um rico empresário e proprietário de terras no distrito de Capoeiruçu. Ele fora eleito dois anos antes e estava na metade do mandato. Pouco mais de três meses após essa reportagem Cunegundes Barreto foi deposto com a Revolução de 1930. Naquele ano o Presidente da República, Washington Luiz, foi deposto pelos rebeldes liderados por Getúlio Vargas. Todos os governadores e prefeitos do país perderam seus cargos e foram nomeados interventores. Cunegundes, embora num curto período, fez uma administração bastante dinâmica e morreu pouco depois de deixar o cargo, tendo sido sepultado num belo e rico mausoléu, logo à entrada do Cemitério da Piedade, em Cachoeira.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

FEIRA DE AMOSTRAS EM SÃO FÉLIX REÚNE ATRAÇÕES DE MUNICÍPIOS BAIANOS

Em 1935 a Prefeitura de São Félix organizou uma Feira Intermunicipal de Amostras, com stands apresentando as atrações dos principais municípios da Bahia. A feira pretendia apresentar a possíveis investidores a produção econômica do interior, com destaque para a indústria fumageira, a principal atividade da região do Vale do Paraguaçu, no Recôncavo Baiano. A organização do evento cuidou até mesmo para que houvesse "passeios de recreio", ou excursões saindo de municípios próximos e até mesmo de Salvador, nesse caso percorrendo o Rio Paraguaçu, com barcos conduzindo os visitantes. A notícia da organização da feira foi divulgada com destaque pelo jornal " O IMPARCIAL" em duas oportunidades: em agosto e novamente em novembro daquele ano, conforme os seguintes registros: (Clique nas imagens para facilitar a leitura)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A LIGAÇÃO DE DORIVAL CAYMMI COM O RECÔNCAVO

O post presta uma homenagem ao grande artista Dorival Caymmi, que cantou, como ninguém, a Bahia, o mar, os saveiros do Recôncavo (que subiam e desciam os rios Paraguaçu, Subaé e Jaguaribe. Apreciem esse post, com a referência ao início da carreira de Caymmi.
O nosso músico maior nasceu em Salvador, no ano de 1914 (atenção, daqui a dois anos é o centenário dele !), e aos treze anos, interrompeu os estudos e foi trabalhar, como auxiliar, na Redação do jornal O IMPARCIAL. E é do acervo do jornal que garimpamos essa preciosidade: a participação dele, em 1935, no "Programa da Cidade", da Rádio Comercial (PRF-3), que funcionava no Relógio de São Pedro. Caymmi já tinha composto sua primeira música ("No Sertão") e se apresentava regularmente como cantor e violonista em programas da Rádio Clube da Bahia e da Rádio Comercial.Ora cantando, ora acompanhando os demais artistas, junto com um parceiro, Antonio Maltez. E foi neste ano que ele passou a apresentar o musical "Caymmi e Suas Canções Praieiras", após ter vencido o concurso de músicas de carnaval com o samba "A Bahia também dá." Um diretor da rádio o incentivou a seguir carreira artística no sul do país. E ele tomou um ita (navio que cruzava o litoral brasileiro, de norte a sul) para o Rio de Janeiro. Inicialmente pensava em conseguir um emprego como jornalista e realizar o curso preparatório de Direito. O resto da história todos conhecem. Ah! quem escrevia e lia a "Crônica da Cidade" (publicada antes no jornal) era Dermeval - ou Dmeval, como também era conhecido - Costa Lima, um intelectual e livreiro, dono da "Civilização Brasileira", livraria que marcou época na Bahia...

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

NO AUGE DA CRISE DO BOMBARDEIO DA BAHIA, UBALDINO DE ASSIS É RECEBIDO COM FESTAS EM CACHOEIRA

No domingo 21 de janeiro de 1912 no auge da crise política que resultou no bombardeio da Bahia, por forças militares federais a mando do Presidente da República, Mal. Hermes da Fonseca, o então deputado federal Ubaldino de Assis - partidário do ministro José Joaquim (J.J.) Seabra - desembarcou em Cachoeira, sua cidade natal, e foi alvo de uma efusiva manifestação de seus conterrâneos. Ao desembarcar no Cais da Bahiana, do vapor que o trouxera de Salvador, Ubaldino foi recebido com foguetes e banda de música (a Minerva Cachoeirana, a quem sempre foi ligado) e liderou uma passeata até sua casa, na Rua da Matriz, sempre seguido por "milhares de pessoas", segundo noticiou o jornal carioca O PAIZ, em sua edição de 22 de janeiro daquele ano. Foi uma demonstração de força política de um dos "seabristas" mais aguerridos (mais tarde os dois viriam a ter um ruidoso rompimento político), num momento em que a oposição (Ruy Barbosa à frente) procurava responsabilizar Seabra pelo bombardeio que incendiou o Palácio do Governo em Salvador e destruiu parte do valioso acervo da Biblioteca Pública da Bahia, a mais antiga da América Latina. Ubaldino fora a Cachoeira para votar na eleição do futuro governador, marcada para o domingo seguinte, na qual J.J. Seabra viria a ser eleito. Eis a matéria : (clique na imagem para facilitar a leitura)
Ubaldino de Assis (1861-1928) era advogado e foi deputado, estadual e federal, por várias legislaturas, sempre representando o sertão baiano mas sua base política era Cachoeira, onde foi intendente e provedor da Santa Casa de Misericórdia. Esteve envolvido nas mais ardentes polêmicas da política baiana em seu tempo, tendo tido destacado papel nos governos dos presidentes Hermes da Fonseca, Artur Bernardes e Washington Luíz.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

TRABALHADOR MORRE EM ACIDENTE NA FERROVIA CACHOEIRA-FEIRA DE SANTANA

Um acidente na ferrovia que liga Cachoeira a Feira de Santana matou um trabalhador, na tarde do dia 19 de fevereiro de 1877. O fato foi noticiado pelo jornal cachoeirano ECCHO POPULAR e repercutido, em Salvador, na edição do dia 25 de fevereiro do jornal "CORREIO DA BAHIA". O jornal registra ainda que este não fora o primeiro acidente do gênero naquela ferrovia e pede providências para que não ocorram novas "reproduções". (Clique nas imagens para facilitar a leitura)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

FERROVIÁRIOS DE CACHOEIRA E SÃO FÉLIX ENTRAM EM GREVE E PARALISAM OS TRENS

Em 1892 Cachoeira e São Félix viveram dias de tensão com a greve dos ferroviários da Estrada de Ferro Central da Bahia. Foi a primeira greve em larga escala, e envolvendo um setor estratégico da economia da Província, a ocorrer na Bahia. Durante uma semana nenhum trem circulou, os prejuízos foram elevados e o intenso tráfego de mercadorias entre o sertão e o litoral (Salvador) foi bastante afetado. As mercadorias do sertão vinham de trem, ou conduzidos por tropeiros,até Cachoeira e daí eram levadas em Salvador através do transporte fluvial pelo Rio Paraguaçu até a capital. No sentido contrário, os produtos manufaturados oriundos do Sul do país, e até da Europa, eram levados de navios e barcos até Cachoeira e daí eram transportados para o sertão. A greve só acabou após a interveniência do então deputado federal Cesar Zama, que atuou como intermediário entre os grevistas, a empresa e o governo. A notícia teve ampla repercussão, inclusive na imprensa nacional. O PEQUENO JORNAL republicou as notícias veiculadas inicialmente nos jornais cachoeiranos A ORDEM e O AMERICANO. (CLIQUE NA IMAGEM PARA FACILITAR A LEITURA)

sábado, 18 de agosto de 2012

GOVERNADOR VISITA CACHOEIRA E INAUGURA GINÁSIO

Na imagem acima, o deputado estadual (PSD) Augusto Públio Pereira (paletó branco) recepciona o então governador Régis Pacheco (ao lado dele, com as mãos para trás) no Cais da Baiana, em Cachoeira. O governador chegara de navio para presidir a inauguração do Colégio Estadual da Cachoeira. A filarmônica Minerva Cachoeirana executa um dobrado de boas vindas. Note-se a elegância do esbelto Augusto Público, que calça um (então na moda) vistoso sapato bicolor. (Setembro,1954).

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

UM DIA NA VIDA DE CACHOEIRA NO ANO DE 1878

A leitura de jornais antigos permite a todos acompanhar o cotidiano de outras épocas. Fatos e acontecimentos, por mais fortuitos que pareçam, noticiados por essas fontes de pesquisa revelam costumes e comportamentos de uma determinada comunidade naquele contexto histórico. É o que alguns especialistas chamam de micro-história. A análise desses relatos permite a compreensão da época enfocada, diante da qual podem ser tiradas as mais diversas conclusões e feitas comparações com outras épocas, para mostrar a evolução, ou involução,através do tempo. É por isto que este blog se destina a trazer à luz do presente fatos ligados à história de Cachoeira para a contemplação e conhecimento dos visitantes deste espaço.
Clicando na imagem (para facilitar a leitura) tomemos então conhecimento da edição de 15 de maio de 1878 do jornal O GUARANY, que traz algumas notícias interessantes. São episódios policiais e queixas contra o comportamento considerado escandaloso de duas mulheres na Praça da Regeneração (atual Praça Dr. Milton)provocando outra, que tinha o curioso nome de "Malefício". E também a notícia da apreensão, pela Polícia, de 32 escravos originários de Pernambuco e do Piauí, que eram conduzidos sem documentação (e portanto, ilegalmente) para a Capital (Salvador). O delegado aguardava orientação do Presidente (governador) da Província sobre o destino a ser dado aos escravos.Por fim, uma queixa e um pedido de providências à Polícia contra um "samba", ou batuque de negros na linguagem da época, na Rua do Cemitério (ou Rua dos Currais Velhos, um núcleo urbano habitado essencialmente por negros) que entrou madrugada adentro no fim de semana anterior. O som rítmico e frenético de pandeiros, timbalis, chocalhos, rebecas e violas, se por um lado incomodou a alguns, deve ter proporcionado muitas alegrias e momentos de deleite a um grande contingente da população escrava de Cachoeira. A notícia aponta para mais uma evidência de que o "samba nasceu na Bahia...". E no Recôncavo, pois a palavra é uma derivação do ritmo "semba" de Angola, origem da maior parte dos escravos trazidos para trabalhar nas lavouras e nos engenhos de açúcar desta região da Bahia.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A CRUELDADE USADA POR MEM DE SÁ NA CONQUISTA DO VALE DO PARAGUAÇU

A história do Recôncavo, mais especificamente do Vale do Paraguaçu onde se localizam Cachoeira, São Félix e Maragojipe - como de resto a própria História do Brasil - é cheia de episódios desconhecidos ou mal contados. Na conquista das terras necessárias para a expansão do domínio português e nelas implantar a lavoura de cana e os engenhos para produzir açúcar - um dos pilares da economia colonial - os portugueses utilizaram vários métodos, desde a cristianização das populações nativas até formas violentas como a guerra de extermínio.
Um dos agentes dessa política foi o terceiro governador-geral das terras do Brasil, o lendário Mem de Sá (1500-1572). Ele chegou à Bahia em 1557 e adotou todos os meios possíveis para consolidar a domínio português:expulsou os invasores franceses, fundou junto o sobrinho Estácio de Sá a cidade do Rio de Janeiro e submeteu, á força quando necessário,todas as tribos indígenas ao domínio português. A sua administração e o radicalismo de sua atuação foram decisivas para consolidar a presença do Estado português na Colônia. O relato de suas "bravatas" e as crueldade que praticou, como a matança dos índios que resistiam e o incêndio criminoso de centenas de aldeias, foram relatadas por ele próprio em seu testamento político, o documento INSTRUMENTOS DE SERVIÇOS DE MEM DE SÁ, que ditou a um escrivão pouco antes de morrer, e enviou ao Rei de Portugal prestando contas de sua atuação nos 15 anos em que esteve à frente do Governo Geral do do Brasil 455 Brasil. No trecho abaixo ele descreve como, após vir do Rio de Janeiro, enfrentou e venceu os índios em Ilhéus e no Recôncavo ("Peroassu").
Alguns esclarecimentos sobre a linguagem da época: "engenhos dassuquares" (engenhos de acúcar); "novas" (notícias); "passifiqua" (pacífica); "índios de pases" (índios pacificados); "o principal" (o líder da tribo).

sexta-feira, 27 de julho de 2012

REVOLTA ESCRAVA MOVIMENTA CACHOEIRA E ASSUSTA OS SENHORES DE ENGENHO DO IGUAPE

Há cento e noventa e oito anos, em 1814, uma revolta escrava sacudiu Cachoeira e pôs em polvorosa os ricos senhores de engenho da região do Iguape, que temeram por suas vidas e propriedades. A revolta foi sufocada imediatamente, pela ação do juiz de fora da Vila de Maragojipe que pediu providências ao Conde dos Arcos, então governador da Bahia. Tropas militares foram enviadas a Cachoeira e conseguiram reprimir o movimento.
O episódio é citado em dois livros de Clóvis Moura: Rebeliões da Senzala (Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, 1988) e Dicionário da Escravidão Negra no Brasil (Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004).


As revoltas escravas, comuns naquela época, eram seguidas da fuga dos líderes para áreas inóspitas,  onde se refugiavam e formavam os "quilombos", comunidades com estrutura econômica, social e política  que serviam de refúgio para os negros que não aceitavam a escravidão. Nos documentos abaixo, publicados nos Anais da Biblioteca Nacional (Volume 34, página 507) há referências precisas aos quilombos de Orobó (onde fica hoje a cidade de Ruy Barbosa) e Andaraí (na Chapada Diamantina), situados em terras que na época pertenciam à Vila de Cachoeira. No primeiro, o capitão responsável pelo assalto e destruição dos dois quilombos, pede como recompensa uma série de vantagens para si e para os filhos. O segundo documento refere-se a uma representação de moradores (leia-se senhores de engenho e ricos comerciantes) da Vila de Cachoeira pedindo a destruição dos dois quilombos.
   

segunda-feira, 23 de julho de 2012

JORNAL "O GUARANY" LASTIMA O ESTADO DE ABANDONO EM QUE CACHOEIRA SE ENCONTRA

O estado de aparente abandono de Cachoeira, com muita sujeira nas ruas da cidade e a falta de ação do poder público municipal levaram o jornal O GUARANY a publicar, em 16 de maio de 1878,  um irado editorial contra "o estado de nossa infeliz Cachoeira", que termina apelando por providências à Câmara Municipal (na época, era quem administrava as cidades!) A leitura completa do exemplar dá-nos uma ideia de como eram feitos o jornalismo e a publicidade na época. Além do editorial, que ocupa espaço nobre na primeira página, neste exemplar são encontrados também a parte noticiosa, anúncios comerciais e avisos da fuga de uma escrava e de utilidade pública, informes necrológicos e até literatura, com trechos de uma pequena novela - escrita em capítulos - bem ao gênero do que se escrevia nos jornais do Rio de Janeiro, a capital do Império.

                                             (Clique nas imagens para facilitar a leitura)

O jornal, fundado e administrado pelo abolicionista Augusto Motta, faz uma crítica à escravidão ao noticiar o embarque, feito na véspera, de 32 escravos que chegaram a Cachoeira vindos do Piauí e Pernambuco. A documentação deles estava irregular e por conta disso eles foram apreendidos dos traficantes e, por ordem do Presidente da Província, foram encaminhados à cidade da "Bahia" (Salvador) onde certamente seriam leiloados. A notícia termina com a indagação de até quando o país continuaria com a "mancha da escravidão" sujando o pavilhão auri-verde do Brasil, bem ao estilo da poesia condoreira de Castro Alves, o Poeta dos Escravos, que havia morrido sete anos antes.  

A crítica aos costumes da época e a narração de episódios de cunho policial também  tinham espaço nas páginas de "O GUARANY"

A diversidade de anúncios, de gêneros de todos os tipos,  demonstra a força do comércio cachoeirano.

A fuga de uma escrava "tipo nagô", da Fábrica São Carlos, no Tororó, foi noticiada, com a promessa de uma recompensa para quem achá-la  e devolve-la ao dono.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

CACHOEIRA FOI LABORATÓRIO DO NOVO MODELO EDUCACIONAL APÓS EXPULSÃO DOS JESUÍTAS

No ano de 1759, com a prisão e a expulsão dos jesuítas do Brasil,  e confisco de todos os seus bens, medidas determinadas pelo poderoso Marques de Pombal - a figura mais controversa da história de Portugal e que mandava de fato, com métodos tirânicos, no reinado de D. José I - criou-se um impasse na Colônia: o que fazer do ensino ? Até então o Reino de Portugal tinha dado plenos e exclusivos poderes, nesta e em outras áreas de atuação, aos padres da Companhia de Jesus. Poucos dias antes da expulsão dos jesuítas, em 3 de setembro daquele ano, Portugal teve de tomar medidas urgentes e emitiu um alvará determinando a implantação urgente de um novo método de ensino, abolindo radicalmente o modelo de ensino até então adotado no Brasil. Essa foi uma das mais importantes reformas implantadas pelo Marques de Pombal, que ficou conhecido para a posteridade como o "déspota esclarecido", pois apesar dos métodos empregados aproximou Portugal das nações mais modernas e avançadas da Europa, diminuindo a influência religiosa nos assuntos de Estado. A reforma pombalina na Educação começou a ser implantada na Bahia, mais precisamente na Cidade de Salvador, até então Capital do Brasil, e na Vila de  Cachoeira. É o que está contido neste documento, uma carta do desembargador Thomaz Roby de Barros Barreto, encarregado de implantar as novas diretrizes educacionais. O alvará fora emitido em 28 de julho e nesta carta prestando contas da missão, o desembargador explica porque resolveu iniciar pela Bahia a reforma do ensino no Brasil.   
                                                      Clique na imagem para facilitar a leitura    
Anais da Biblioteca Nacional (Ano 1906),Vol. 31, Pags  375/376


segunda-feira, 16 de julho de 2012

FILARMÔNICA CACHOEIRANA PROMOVE PASSEIO DE RECREIO A MARAGOJIPE

No ano de 1884 a ORPHESINA CACHOEIRANA, primeira filarmônica fundada em Cachoeira, promoveu um "Passeio de Recreio" à cidade de Maragojipe para proporcionar aos "dignos habitantes" da região a participação na festa do "Glorioso São Bartolomeu". As informações estão contidas no anúncio veiculado no jornal O GUARANY, em sua edição de 05 de agosto de 1884. A ORPHESINA CACHOEIRANA, fundada em 5 de abril de 1871, teve origem na Orchestra de Nossa Senhora da Ajuda, grupo musical criado pelo Padre José Henrique da Fonseca, o introdutor do ensino de música em Cachoeira, para acompanhar as celebrações religiosas na Igreja da Ajuda. O "reclame" traz detalhes de como seria o passeio através do Rio Paraguaçu: o vapor da Companhia Baiana seria decorado com bandeirolas e,  no percurso, a "banda da sociedade" iria executar "brilhantes peças do seu vastíssimo repertório" para animar o público.


segunda-feira, 9 de julho de 2012

FESTA DA AJUDA EM CACHOEIRA PODE SER RECONHECIDA COMO BEM IMATERIAL DA BAHIA

Cartaz da Festa da Ajuda
Uma das festas mais tradicionais e animadas de Cachoeira, a de Nossa Senhora da Ajuda, realizada sempre na primeira quinzena de novembro, pode vir a ser reconhecida pelo Iinstituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) como bem imaterial da Bahia. Os estudos iniciais já estão sendo feitos por equipes técnicas do órgão, encontrando-se na fase de levantamento de informações sobre a festa, que  existe aproximadamente há 192 anos. Em 1818 foi criada a devoção a Nossa Senhora da Ajuda, instalada  no mesmo sítio histórico em torno do qual foi criada a Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira. Os festejos profanos se constituem num patrimônio cultural da comunidade, com um alegre e colorido desfile de máscaras, fantasias, mandús e cabeçorras pelas ruas históricas da cidade, sendo uma das mais autênticas manifestações populares de Cachoeira, com seu cunho religioso, e ao mesmo tempo marcadamente carnavalesco, que atravessa séculos e gerações. Há registros históricos,  como este abaixo  do jornal O GUARANY (edição de 13 de outubro de 1881),  em que é descrita  toda a programação da festa que estava sendo preparada para aquele ano, tanto na parta religiosa quanto profana. Há referência aos folguedos populares como a "Lavagem" da capela, o pregão do bando anunciador com a presença de cavaleiros mascarados usando vestimentas jocosas, assim como o desfile de mascarados pelas ruas de Cachoeira. Assim, como o novenário, leilão de brindes, decoração do Largo da Ajuda, armação do coreto para  a filarmônica "Orphesina Cachoeirana" - antecessora da atual Minerva Cachoeirana - o "Te Deum" e a queima de fogos de artifício no encerramento das festividades.

                                                (Clique na imagem para facilitar a leitura)
Jornal O GUARANY (13/10/1881)
Conforme consta no livro ''O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um Maestro Abolicionista'' (Jorge Ramos, 2011) a Festa da Ajuda está ligada também à origem do ensino de música em Cachoeira e ao surgimento de suas centenárias filarmônicas. Ao levar a devoção a Nossa Senhora da Ajuda para Cachoeira, em 1818, o Padre Henrique Jose de Araújo (1754-1844), iniciou também o ensino de música na então vila.   

Trecho do livro "O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um Maestro Abolicionista"


















  

quarta-feira, 4 de julho de 2012

BIOGRAFIA DE TRANQUIILINO BASTROS SERÁ RELANÇADA

Será relançado nesta sexta-feira (06) ,a partir das 18 h, na Livraria Saraiva  do Shoping Barra o livro "O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um maestro abolicionista", a biografia do maestro cachoeirano Manoel Tranquilino Bastos


Contracapa

 O relançamento integra o evento  coletivo "PALAVRAS & INDEPENDÊNCIA"








terça-feira, 3 de julho de 2012

UMA FEIRA DE ANTIGAMENTE EM CACHOEIRA

Esta imagem é da década 30 e mostra a Feira Livre de Cachoeira, na Praça Dr. Milton (antes,  Largo da Regeneração). Nessa época ainda não havia sido construído o Mercado Municipal, na Praça Maciel.Ao centro da foto, o Chafariz Imperial um dos principais (e infelizmente menos badalado e cuidado) dos monumentos da cidade. Ainda não havia,  ao lado do Chafariz,  o horroroso prédio que hoje abriga o Bradesco e que foi construído na década de 60 para ser a agência do extinto Banco da Bahia. Trata-se de uma violência arquitetônica  e estética, que contrasta com a leveza e suavidade da arquitetura colonial da cidade,  tombada como Monumento Nacional.


terça-feira, 19 de junho de 2012

ENCHENTE DO RIO PARAGUAÇU TRANSFORMA CACHOEIRA NA "VENEZA DO RECÔNCAVO"

Este título foi inspirado na reportagem especial publicada pela prestigiada revista A CIGARRA, de circulação nacional, em sua edição do mês de agosto de 1949. Em cinco páginas a reportagem mostrou os efeitos da  enchente do Rio Paraguaçu que, no ano anterior,  cobrira parcialmente as cidades baianas de Cachoeira e São Félix. Bem ao estilo rebuscado do jornalismo praticado à época - em que predominava a veia literária do autor, em detrimento da objetividade na narrativa dos fatos - o texto é assinado pelo baiano Jacy B. Lima, vencedor de um concurso de reportagens  promovido pela própria revista. O teor da reportagem contempla sobretudo o aspecto humano da tragédia, em que milhares de famílias ficaram desabrigadas e o comércio fortemente prejudicado pela cheia. Não se sabe se os nomes citados na matéria jornalística referem-se, de fato,  a pessoas reais ou são personagens criados pela imaginação do autor - recurso muito usado no jornalismo da época -, embora pareçam verossímeis pelas situações descritas. As fotos, embora de boa qualidade, concentram-se somente na Praça Teixeira de Freitas, mostrando basicamente o Cine Teatro Cachoeirano, trechos da Rua 25 de Junho e Sete de Setembro, ao lado do Hotel Colombo, quando poderiam ser mostrados outros trechos alagados de Cachoeira. Esta mesma enchente já foi mostrada neste blogo (ver postagem UMA ENCHENTE  EM CACHOEIRA VISTA PELAS LENTES DO ESPANHOL "MANOLO", de outubro de 2010)

                                           (Para facilitar a leitura, clique nas imagens) 
Na primeira foto, destaque para o Cine Teatro Cachoeirano, em primeiro plano, que ostenta anúncios de diversos filmes e uma faixa anunciando que estava em cartaz o clássico de "capa e espada" Capitão Blood.  O filme é de 13 anos antes (1935) e foi estrelado pela dupla Errol Flyn e Olívia de Havilland. 
Nesta foto a lendária embarcação Belaniza (um saveiro adaptado)  faz o transporte de bens para um local seguro. Em dias normais ela chegou a fazer a ligação marítima Salvador-Cachoeira. Embaixo, uma canoa resgata uma família inteira.
A Pensão Marietta  funcionava na esquina da 25 de Junho com a Rua 13 de Maio. No local funcionou mais tarde a Pousada do Pai Thomaz. O Hotel Colombo já possuía os quatro andares.
O texto informa que "Bombeiros" foram deslocados de Salvador para ajudar as famílias desabrigadas. O autor aponta diversas "soluções" para o problema das cheias constantes do Paraguaçu. Uma das propostas citadas refere-se à necessiadde de construir-se uma barragem, para inclusive aproveitar o potencial elétrico do rio, o que viria a ser realidade somente três décadas depois, com a construção de "Pedra do Cavalo".
A reportagem destaca a grande importância que Cachoeira e São Félix tinham para a economia baiana e defende soluções definitivas para o problema das enchentes, que atrapalhavam o progresso das duas cidades "irmãs na desventura".

sexta-feira, 15 de junho de 2012

O TRÁGICO INCÊNDIO QUE DEU ORIGEM AO NOME DA "RUA DO FOGO" EM CACHOEIRA

Embora oficialmente seja denominada Rua Rodrigo Brandão - homenagem muito justa ao militar  cachoeirano que teve um relevante papel na Guerra pela Independência do Brasil - o logradouro conhecido pelos cachoeiranos como Rua do Fogo tem este nome devido a um trágico episódio ocorrido em 1877. Mais precisamente no dia 16 de novembro daquele ano, quando um incêndio destruiu o casebre de um casal de "africanos" e causou a morte de duas crianças que tinham sido deixadas trancadas em casa. O fato causou uma comoção muito grande em Cachoeira, inclusive pelo risco efetivo que a cidade correu de,  no momento da tragédia, as chamas terem se espalhado por todos os demais casebres de palhas, o que teria catastrófico.  Antes, a rua era conhecida como parte do Largo dos Currais Velhos, por ser local usado para abrigar os tropas de burros que chegavam dos sertões para abastecer a vila e voltavam  carregados de produtos manufaturados adquiridos na vila.  O incêndio foi noticiado pelo jornal A ORDEM (edição de 17 de novembro de 1877) em um primor de texto jornalístico pela descrição objetiva dos fatos,  reproduzido em Salvador pelo jornal CORREIO DA BAHIA (edição de 20 de novembro de 1877), conforme o recorte abaixo :
O "Correio da Bahia" reproduziu notícia de "A Ordem"

A Rua do Fogo, como passou a ser chamada desde então, foi de fato um dos primeiros núcleos habitados pelos negros em Cachoeira. A "elite" de então habitava o núcleo central da vila, onde ficavam os sobrados habitados pelas famílias dos senhores de engenho e comerciantes da vila, e também os grandes armazéns que faziam do comércio cachoeirano o segundo maior da Bahia, por sua posição estratégica de entreposto comercial entre o litoral e o sertão. Segundo consta no site Cachoeira Online (cacaunascimento.blogspot.com.br) a área tem significativo valor histórico, pois está ligada diretamente à própria configuração geográfica desde os primórdios da antiga Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira:
A área urbana de Cachoeira é repartida em três zonas: a zona indígena (o Caquende), a zona construída pelo colonizador (a área da vila), e a área de expansão, destacando-se a Recuada (Currais Velhos, Bitedô, Rua dos Artistas, Rua Barão de Nagé e adjacências), que originou-se de núcleos residenciais fundados por africanos libertos. 

            Desde o incêndio, em 1877, os cachoeiranos chamam-na "Rua do Fogo"
(Foto: Cacau Nascimento)                             
Além dessa importância urbanística, a área em torno dos Currais Velhos está ligada às lutas pela Independência do Brasil.  Foi ali que na noite de 24 de Junho de 1822 o Coronel  Rodrigo Brandão acampou com a sua tropa, marchando na manhã seguinte até a Câmara, que reunida extraordinariamente aclamou o Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara como "Defensor Perpétuo do Brasil". O ato provocou o ataque de uma barca portuguesa, que disparou tiros de canhão contra a vila, dando início à fase da luta armada na conquista da Independência do Brasil, que seria consolidada somente em 2 de Julho do ano seguinte. A homenagem prestada a Rodrigo Brandão, dando-lho o nome à rua, deveu-se ao fato de que dali, ele partiu  para garantir suporte militar à Câmara de Cachoeira na decisão histórica.   

Barão de Belém
Rodrigo Antonio Pereira Falcão Brandão (1786-1855)
Nasceu  no Iguape, região da zona rural de Cachoeira onde ficavam os principais engenhos, sendo inclusive proprietário de um deles. Recebeu o título de Barão de Belém diretamente das mãos do Imperador  Dom Pedro I pela participação nas lutas pela Independência. Era Coronel  e na madrugada de 25 de Junho de 1822  entrou em Cachoeira  à frente de uma  tropa  para  garantir que o Senado da Câmara aclamasse o Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara.  Teve papel decisivo na Batalha de Pirajá e em 2 de Julho do 1823, integrando o Exército Libertador, entrou triunfalmente em Salvador, com a fuga dos portugueses que resistiam à Independência e controlavam a cidade. Mais tarde, já Brigadeiro, atuou em 1832  e em 1837/38 na defesa da legalidade e em  nome do Império reprimiu as revoltas republicanas de Guanais Mineiro, em Cachoeira,  e a Sabinada em Salvador, respectivamente. Morreu em 1855, tendo sido uma das vítimas da  epidemia de cholera morbus que assolou o Recôncavo. Foi enterrado no Convento de Santo Antonio do Paraguaçu, próximo ao seu engenho, no Iguape.  

quinta-feira, 7 de junho de 2012

UMA "BRAVA" VIÚVA CACHOEIRANA É ACUSADA DE TENTATIVA DE HOMICÍDIO


No longínquo ano de 1796 a viúva cachoeirana Victória Pereira de Menezes Brabo foi denunciada, e posteriormente julgada e absolvida, de cometer o  crime de tentativa da homicídio que teria sido praticado contra José Araújo Bacellar. O motivo foi provavelemente uma briga de família por disputa de terras, porque quem a acusou foi José da Silva Bacellar, certamente um primo do falecido marido dela. As informações a respeito deste assunto foram relatadas pelo Governador da Capitania da Bahia, Dom Fernando José de Portugal (o mesmo que alguns anos mais tarde viria a reprimir a Revolução dos Alfaiates, conspiração contra o Reino de Portugal que resultou no enforcamento de quatro negros na Praça da Piedade em Salvador) ao Ministro português Dom Rodrigo de Souza Coutinho, secretário de Estado da Marinha e do Ultramar, responsável pelo Conselho Ultramarino, órgão encarregado de administrar as colônias portuguesas na África, América e Europa. 

                                                (clique na imagem para facilitar a leitura)
 


Dom Rodrigo de Souza Coutinho, Conde de Linhares, foi num dos mais destacados diplomatas e burocratas a serviço do Reino de Portugal. Além de ter sido Ministro da Marinha e do Ultramar, cargo que ocupava à época dessa correpondência, ele foi mais tarde Primeiro Ministro de Portugal. Grande articulador político, negociou com a Inglaterra a transferência da Família Real Portuguesa para o Brasil, fugindo do imperador francês Napoleão Bonaparte. Em troca da proteção (uma esquadra inglesa escoltou as embarcações portuguesas até o Brasil), Portugal abriu os portos brasileiros aos navios mercantes ingleses, que pagavam taxas alfandegárias menores até mesmo do que os próprios navios mercantes portugueses. Dom Rodrigo, que veio acompanhando D. João VI, foi quem redigiu o texto da Lei de Abertura dos Portos às Nações Amigas e veio também a ser o primeiro ocupante do cargo de Ministro da Guerra de Portugal, já quando a Corte estava instalada no Brasil.    

D. Rodrigo de Souza Coutinho

sábado, 2 de junho de 2012

O PIONEIRISMO DE CACHOEIRA NA REFORMA DO ENSINO NO BRASIL COLONIAL

Com a expulsão dos jesuítas de Portugal e de todas as suas colônias, em 1759, sob a alegação de que a  Companhia de Jesus, ordem criada em 1534 por Ignácio de Loyola para difundir o cristianismo, tinha crescido demais e se constituía numa instituição maior e mais poderosa que o próprio Estado português, o  Marquês de Pombal - poderoso primeiro-ministro do Rei Dom José I - promoveu uma das ações que mais o consagraram como o controverso estadista que entrou para a História com o cognome de "désposta esclarecido": a reforma do ensino. Através de um Alvará Régio, modificou totalmente o sistema de ensino, até então entregue unicamente à ação evangelizadora e catequisadora (nas terras das colônias portuguesas na América, na África e na Ásia) dos jesuítas.
No Brasil as mudanças no ensino começaram a ser implementadas na Bahia, que era até então a capital do Brasil (só perderia este posto quatro anos mais tarde, em 1763, quando o Rio de Janeiro passou a ser a sede do governo português no Brasil). As primeiras mudanças no ensino determinadas pela reforma promovida pelo Marquês de Pombal foram implantadas na Cidade da Bahia (Salvador) e na Vila de Cachoeira, onde ficavam respectivamente o Colégio dos Jesuítas e o Seminário de Belém, os principais centros de ensino jesuíta no Brasil. É o que se constata nesta carta do Desembargador Thomaz Roby de Barros Barreto, encarregado de promover as alterações na colônia. No documento, transcrito nos Anais da Biblioteca Nacional, ele justifica os motivos pelos quais iniciava a reforma educacional pela Bahia,  para daí disseminar as mudanças em toda a Colônia.
 (clique na imagem para facilitar a leitura)
Anais da Biblioteca Nacional (Volume 31 páginas 375/376-1906)

O Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Mello, 1699 - 1782) é uma das figuras históricas mais controversas e carismáticas de Portugal, sendo considerado por muitos um tirano e opressor. Como ministro do Rei D. José I, adquiriu plenos poderes para governar depois que comandou a reconstrução da Lisboa, praticamente destruída pelo terremoto de 1755. De perfil autoritário, era também um excelente gestor e no seu  longo período de governo absolutista reformou a estrutura do Estado português, executando ações nas áreas política, econômica, social, administrativa, diplomática e religiosa. Com elas buscou o fortalecimento do Poder Real para tornar o país mais próximo das modernas e desenvolvidas nações européias. Entre suas medidas, decretou o fim da escravidão na parte continental do Reino e enfraqueceu o poderoso Santo Ofício (Inquisição), submetendo-o à tutela do soberano. Entre as reformas que implantou destaca-se sobretudo a educacional, tirando-a da esfera religiosa e alterando o conteúdo do ensino, inclusive com a adoção de novos livros didáticos, como gramáticas e dicionários. No âmbito administrativo criou o cargo de  Diretor Geral dos Estudos, que tinha como função vigiar o progresso dos estudos e elaborar um relatório anual da situação do ensino. Criou também uma Aula de Comércio (curso),  primeiro estabelecimento de ensino oficial no mundo a ministrar  a Contabilidade de uma forma técnico-profissional. Também fortaleceu o ensino superior em Portugal, embora tivesse proibido universidades nas colônias. Suas atitudes  para com o Brasil sempre foram no sentido de fortalecer o sistema colonial. Reprimiu iniciativas pró-independência, aumentou a cobrança de impostos e manteve a proibição de que aqui fossem implantadas manufaturas (fábricas) e a impressão de livros e jornais.

Marquês de Pombal,  o "déspota esclarecido".
Pombal não só expulsou os jesuítas de Portugal e de todas as suas colônias como mandou prende-los e confiscou todos os seus bens, que passaram para o domínio da Coroa Portuguesa. Um dos estabelecimentos fechados foi o Seminário mantido pelos jesuítas na localidade de Belém, em Cachoeira. Tinha sido fundado em 1686 e nele estudaram os irmãos Bartolomeue  Alexandre de Gusmão e Frei Galvão.

O Seminário de Belém era um dos maiores centros da educação jesuítica no Brasil Colonial.