sábado, 26 de maio de 2012

A ECONOMIA DO RECÔNCAVO NA ÉPOCA COLONIAL VISTA POR UM SEGUIDOR DE ADAM SMITH.

No século 18 a economia da Capitania da Bahia dependia substancialmente do Recôncavo, região que abastecia os mercado europeu e africano (neste caso, para a troca por escravos) com o acúcar e o fumo,  produzidos respectivamente nos engenhos e plantações de Cachoeira, Santo Amaro, Maragojipe  e São Francisco do Conde.  O relato abaixo,  feito para atender a ordem régia  emitida pela Rainha de Portugal, D. Maria I, foi elaborado pelo então Secretário da Mesa da Inspeção da Bahia (equivalente hoje à Alfândega), José da Silva Lisboa. Ele mesmo que, dez anos depois,  viria  a aconselhar o Príncipe Regente Dom João a abrir os portos brasileiros, às nações amigas (basicamente, a Inglaterra), quando fugindo de Napoleão Bonaparte a Corte Portuguesa se transferiu para o Brasil e, a caminho do Rio de Janeiro de Janeiro, a comitiva parou na Bahia. Nesta época, em 1808, a Rainha já estava demente e o filho dela, Dom João, era  o regente do trono, só assumindo-o efetivamente em 1816, com a morte da mãe, quando foi coroado Rei de Portugal com o título de Dom João VI.  

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O autor destaca a fertilidade do Iguape, em Cachoeira,   e 
ao final do texto refere-se ao Morro de "São Paulo"

O autor dessa "descripção" é o baiano José da Silva Lisboa (1756-1835), que na época tinha 42 anos. Ele  formou-se em Universidade de Coimbra, em Portugal, onde cursou Direito e Filosofia. Na época em que elaborou este estudo, era professor  de grego e de hebraico em Salvador e ocupava também o cargo de secretário da Mesa da Inspeção, por onde obrigatoriamente passava tudo que era exportado e importado. Ele era um dos poucos homens letrados da Bahia e atualizado com as últimas teorias políticas, filosóficas e econômicas européias, como as do filósofo e economista escocês Adam Smith (1723-1790), o pai da economia moderna, considerado o mais importante teórico do liberalismo econômico, cujo preceito básico era  uma contestação ao mercantilismo, modelo predominante na época  e base de sustentação da economia de Portugal em suas relações com as colônias, como o Brasil.
 Adam Smith é autor do clássico "A Riqueza das Nações", publicado pela primeira vez em 1776,  obra que continua sendo usada até hoje como referência para todas as gerações de economistas. Nela é demonstrado que a riqueza das nações resultava da atuação de indivíduos que, movidos apenas pelo seu próprio interesse (self-interest), promoviam o crescimento econômico e a inovação tecnológica. Adam Smith ocupou na Escócia cargo similar ao que Lisboa exercia na Bahia.  A sua teoria encantou o baiano Silva Lisboa, que repetia como dogma o princípio contido na teoria de Smith, segundo a qual  "um país só progride se seus industriais e comerciantes dispõem do máximo de liberdade para ganhar dinheiro". Assim, tão logo D. João desembarcou no Brasil, ele pediu audiência para lhe propor a abertura dos portos brasileiros. Talvez D. João tenha achado graça pela primeira vez, desde que fugiu de Lisboa, uma vez que a abertura já estava decidida pela "Convenção Secreta de Londres".
Visconde de Cairu
Por seus conhecimentos, atuação e serviços prestados, foi distinguido com o título de Barão e,  mais  tarde, de Visconde de Cairu.  Mudando-se para o Rio de Janeiro com a comitiva real, impulsionou a criação de um curso de economia política e colaborou diretamente com a administração pública, sendo também o redator da lei que acabou com a proibição da instalação de manufaturas no Brasil. É considerado o primeiro economista do Brasil e sempre defendeu o desenvolvimento econômico da colônia, criando assim condições para sua independência. Uma de suas principais lutas foi pela instalação de uma universidade no Brasil, o que viria a ocorrer somente em 1922.

sábado, 19 de maio de 2012

PADRE DE CACHOEIRA ACUSA O JUIZ DE COMETER IRREGULARIDADES

Em 1781 o Padre Manuel da Costa de Carvalho, da então Vila de Cachoeira,  encaminhou uma representação ao Conselho Ultramarino (órgão do governo português encarregado da administração das colônias) em que critica a atuação de alguns juízes de fora  e aponta "os inconvenientes" de alguns deles acumularem o exercício da autoridade judiciária com o cargo de Presidente da Câmara. 
O padre aproveita para fazer uma exposição sobre a Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira. Embora errando a data (o certo é 29 de janeiro de 1698), o que não desmerece a sua análise descritiva, o padre acusa oficiais da Câmara de repartirem entre si e com o Juiz de Fora o imposto que arrecadam de quem constroi casas sem obedecer ao "arruamento" necessário, apontando aí uma das razões pelas quais a vila apresenta "irregularidades" em suas ruas e becos. E aponta também que o Juiz de Fora da época, Marcelino da Silva Pereira, mandou colocar um cano para trazer água do sítio de Belém para  Cachoeira, onde pretendia construir um chafariz. E "arrematou" (leiloou) a obra por 25 mil cruzados.

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Anais da Biblioteca Nacional Volume 32 Páginas 487/488 (Ano 1910)
 Essa obra antecedeu a construção do atual Chafariz Imperial, que viria a ser edificado em 1827 (portanto já com o Brasil independente), um dos muitos prédios tombados de Cachoeira. Trata-se de uma construção em alvenaria mista de pedra e tijolo, em estilo neoclássico. Era o principal ponto de abastecimento de água da cidade. Possui sete carrancas e as armas do Império. É tombado pelo Patrimônio Histórico.
 
Chafariz Imperial de Cachoeira


quarta-feira, 16 de maio de 2012

ROQUE PINTO E A LYRA CECILIANA, UMA HISTÓRIA DE AMOR !

O comerciante ROQUE PINTO, falecido esta semana em Cachoeira, era um dos mais antigos e abnegados sócios da Sociedade Euterpe Lyra Ceciliana, filarmônica a  que dedicou grande parte de sua vida, do seu afeto e de sua  energia. A ligação dele com a Lyra, costumava dizer, era como se fosse genética pois seu pai Francisco Pinto, que o iniciou na arte de fazer licores, tinha sido dirigente da entidade e ele,  desde menino, acostumara-se a admirar e amar a mais antiga filarmônica de Cachoeira.  Por mais de 70 anos fazer licores e torcer pela Lyra Ceciliana era parte da rotina do cidadão ROQUE PINTO. Ele foi, em várias oportunidades, diretor da da filarmônica. Abaixo, o registro de sua participação como dirigente. Ele é o primeiro (da esquerda para a direita), na primeira fila, ao lado de outros dirigentes da instituição na escadaria do prédio da Câmara Municipal. A foto é do início da década de 70, durante as comemorações do 25 de Junho, data magna de Cachoeira. ROQUE PINTO era um dos mais perfeitos exemplos de cidadão, tendo sido vereador atuante (quase foi prefeito, ficando em segundo lugar na eleição de 1970 quando Ary Mascarenhas foi eleito) e colaborador ativo de todas as iniciativas e manifestações culturais, esportivas e artísticas da cidade. Em outubro do ano passado, quando do lançamento do meu livro "O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um Maestro Abolicionista" - biografia de Tranquilino Bastos, fundador da Lyra - ele agradeceu emocionado quando fui em casa dele entregar-lhe um exemplar autografado especialmente. E disse-me: "Obrigado, Jorge. Graças a você esta linda história não ficará esquecida. Você resgatou  parte de nossas vidas, de Tranquilino, da Lyra e de Cachoeira". 
Em verdade, nós é que agradecemos a ROQUE PINTO, por ter sido o que foi. 

(Para ampliar, clique na imagem)
Foto extraída do livro "O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um maestro abolicionista"
  

domingo, 13 de maio de 2012

TUMULTO NA ELEIÇÃO OBRIGA PRESIDENTE A INTERVIR EM CACHOEIRA

No ano de 1871 houve tumulto durante a eleição para Vereadores e Juiz de Paz em Cachoeira. Teve grossa pancadaria, dezenas de pessoas ficaram feridas e o pleito não foi concluído, o que levou o Presidente da Província, João Antonio de Araújo Freitas Henriques, a adiar o processo de escolha e mandar uma força policial para garantir a segurança necessária à uma nova votação. O episódio foi citado no discurso com que o Presidente da Província abriu, em 1º de Março do ano seguinte, os trabalhos da Assembléia Legislativa Provincial. Pelo que se conclui da leitura desse trecho do Relatório, o processo eleitoral era realizado em uma sessão pública, a chamada assembléa parochial. 

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(Trecho do discurso do Presidente da Província)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

CACHOEIRANOS AJUDARAM A RECONSTRUIR LISBOA, ARRASADA POR UM TERREMOTO

Em 01 de Novembro de 1755 Lisboa foi praticamente arrasada  por um terremoto -  seguido por um tsunami, que se crê tenha tido ondas de até 20 metros de altura - e por  múltiplos incêndios. A tragédia resultou em um número de vítimas estimado em 15 mil pessoas e na destruição de quarteirões inteiros. Casas, igrejas, mercados e palácios desmonoraram soterrando  um terço da população da cidade, capital do Reino de Portugal. Atualmente  acredita-se que o terremoto de 1755 tenha atingido 9 graus na Escala Richter (que não existia naquela época).


Gravura representando o que teria sido o Terremoto de Lisboa
Logo após a tragédia, foi iniciado longo processo para recuperar a cidade. Para isso foram criados diversos impostos, cabendo às colônias portuguesas - como o Brasil - o principal ônus dessa tarefa.  E Cachoeira, a mais rica e próspera cidade da Bahia, deu uma contribuição expressiva, como pode ser constatado nesta carta que o Conde dos Arcos (Vice Rei), recém-empossado no comando da Bahia (a capital da Colônia havia sido transferida para o Rio de Janeiro em 1693) enviou para Diogo de Mendonça Corte Real, do Conselho Ultramarino, órgão do governo português que administrava as colônias. Nela, escrita em maio do ano seguinte, o governador da Bahia anuncia as formas criadas para arrecadar entre a população baiana recursos necessários. O governador cita textualmente Cachoeira, ao detalhar  a forma com que os habitantes do Brasil iriam "colaborar" com o esfoprço para a reconstrução de Lisboa.  

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terça-feira, 1 de maio de 2012

TABELA DE HORÁRIOS DAS VIAGENS DO VAPOR DE CACHOEIRA

Em meados do Século XIX,  auge de sua existência, o tradicional VAPOR DE CACHOEIRA, que fazia pela Baía de Todos os Santos e Rio Paraguaçu a ligação entre Salvador e  Cachoeira - de onde  partiam as estradas para o alto sertão baiano e até para Minas Gerais, Goias, Pernambuco e o Piauí - realizava seis viagens semanais de ida e volta. É o que está anunciado pela COMPANHIA DE NAVEGAÇÃO À VAPOR BAHIANA (mais tarde simplificada para Companhia de Navegação Baiana, até ser extinta na década de 80 do século seguinte). O anúncio foi publicado no Jornal Correio da Bahia, edição de 28 de novembro de 1877. A empresa, pertencente ao governo da Província da Bahia, explorava o transporte marítimo também para Santo Amaro,  Nazaré das Farinhas, Itaparica, Valença e Taperoá. 


Anúncio no Correio da Bahia (28/11/1877)