sexta-feira, 27 de julho de 2012

REVOLTA ESCRAVA MOVIMENTA CACHOEIRA E ASSUSTA OS SENHORES DE ENGENHO DO IGUAPE

Há cento e noventa e oito anos, em 1814, uma revolta escrava sacudiu Cachoeira e pôs em polvorosa os ricos senhores de engenho da região do Iguape, que temeram por suas vidas e propriedades. A revolta foi sufocada imediatamente, pela ação do juiz de fora da Vila de Maragojipe que pediu providências ao Conde dos Arcos, então governador da Bahia. Tropas militares foram enviadas a Cachoeira e conseguiram reprimir o movimento.
O episódio é citado em dois livros de Clóvis Moura: Rebeliões da Senzala (Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, 1988) e Dicionário da Escravidão Negra no Brasil (Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004).


As revoltas escravas, comuns naquela época, eram seguidas da fuga dos líderes para áreas inóspitas,  onde se refugiavam e formavam os "quilombos", comunidades com estrutura econômica, social e política  que serviam de refúgio para os negros que não aceitavam a escravidão. Nos documentos abaixo, publicados nos Anais da Biblioteca Nacional (Volume 34, página 507) há referências precisas aos quilombos de Orobó (onde fica hoje a cidade de Ruy Barbosa) e Andaraí (na Chapada Diamantina), situados em terras que na época pertenciam à Vila de Cachoeira. No primeiro, o capitão responsável pelo assalto e destruição dos dois quilombos, pede como recompensa uma série de vantagens para si e para os filhos. O segundo documento refere-se a uma representação de moradores (leia-se senhores de engenho e ricos comerciantes) da Vila de Cachoeira pedindo a destruição dos dois quilombos.
   

segunda-feira, 23 de julho de 2012

JORNAL "O GUARANY" LASTIMA O ESTADO DE ABANDONO EM QUE CACHOEIRA SE ENCONTRA

O estado de aparente abandono de Cachoeira, com muita sujeira nas ruas da cidade e a falta de ação do poder público municipal levaram o jornal O GUARANY a publicar, em 16 de maio de 1878,  um irado editorial contra "o estado de nossa infeliz Cachoeira", que termina apelando por providências à Câmara Municipal (na época, era quem administrava as cidades!) A leitura completa do exemplar dá-nos uma ideia de como eram feitos o jornalismo e a publicidade na época. Além do editorial, que ocupa espaço nobre na primeira página, neste exemplar são encontrados também a parte noticiosa, anúncios comerciais e avisos da fuga de uma escrava e de utilidade pública, informes necrológicos e até literatura, com trechos de uma pequena novela - escrita em capítulos - bem ao gênero do que se escrevia nos jornais do Rio de Janeiro, a capital do Império.

                                             (Clique nas imagens para facilitar a leitura)

O jornal, fundado e administrado pelo abolicionista Augusto Motta, faz uma crítica à escravidão ao noticiar o embarque, feito na véspera, de 32 escravos que chegaram a Cachoeira vindos do Piauí e Pernambuco. A documentação deles estava irregular e por conta disso eles foram apreendidos dos traficantes e, por ordem do Presidente da Província, foram encaminhados à cidade da "Bahia" (Salvador) onde certamente seriam leiloados. A notícia termina com a indagação de até quando o país continuaria com a "mancha da escravidão" sujando o pavilhão auri-verde do Brasil, bem ao estilo da poesia condoreira de Castro Alves, o Poeta dos Escravos, que havia morrido sete anos antes.  

A crítica aos costumes da época e a narração de episódios de cunho policial também  tinham espaço nas páginas de "O GUARANY"

A diversidade de anúncios, de gêneros de todos os tipos,  demonstra a força do comércio cachoeirano.

A fuga de uma escrava "tipo nagô", da Fábrica São Carlos, no Tororó, foi noticiada, com a promessa de uma recompensa para quem achá-la  e devolve-la ao dono.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

CACHOEIRA FOI LABORATÓRIO DO NOVO MODELO EDUCACIONAL APÓS EXPULSÃO DOS JESUÍTAS

No ano de 1759, com a prisão e a expulsão dos jesuítas do Brasil,  e confisco de todos os seus bens, medidas determinadas pelo poderoso Marques de Pombal - a figura mais controversa da história de Portugal e que mandava de fato, com métodos tirânicos, no reinado de D. José I - criou-se um impasse na Colônia: o que fazer do ensino ? Até então o Reino de Portugal tinha dado plenos e exclusivos poderes, nesta e em outras áreas de atuação, aos padres da Companhia de Jesus. Poucos dias antes da expulsão dos jesuítas, em 3 de setembro daquele ano, Portugal teve de tomar medidas urgentes e emitiu um alvará determinando a implantação urgente de um novo método de ensino, abolindo radicalmente o modelo de ensino até então adotado no Brasil. Essa foi uma das mais importantes reformas implantadas pelo Marques de Pombal, que ficou conhecido para a posteridade como o "déspota esclarecido", pois apesar dos métodos empregados aproximou Portugal das nações mais modernas e avançadas da Europa, diminuindo a influência religiosa nos assuntos de Estado. A reforma pombalina na Educação começou a ser implantada na Bahia, mais precisamente na Cidade de Salvador, até então Capital do Brasil, e na Vila de  Cachoeira. É o que está contido neste documento, uma carta do desembargador Thomaz Roby de Barros Barreto, encarregado de implantar as novas diretrizes educacionais. O alvará fora emitido em 28 de julho e nesta carta prestando contas da missão, o desembargador explica porque resolveu iniciar pela Bahia a reforma do ensino no Brasil.   
                                                      Clique na imagem para facilitar a leitura    
Anais da Biblioteca Nacional (Ano 1906),Vol. 31, Pags  375/376


segunda-feira, 16 de julho de 2012

FILARMÔNICA CACHOEIRANA PROMOVE PASSEIO DE RECREIO A MARAGOJIPE

No ano de 1884 a ORPHESINA CACHOEIRANA, primeira filarmônica fundada em Cachoeira, promoveu um "Passeio de Recreio" à cidade de Maragojipe para proporcionar aos "dignos habitantes" da região a participação na festa do "Glorioso São Bartolomeu". As informações estão contidas no anúncio veiculado no jornal O GUARANY, em sua edição de 05 de agosto de 1884. A ORPHESINA CACHOEIRANA, fundada em 5 de abril de 1871, teve origem na Orchestra de Nossa Senhora da Ajuda, grupo musical criado pelo Padre José Henrique da Fonseca, o introdutor do ensino de música em Cachoeira, para acompanhar as celebrações religiosas na Igreja da Ajuda. O "reclame" traz detalhes de como seria o passeio através do Rio Paraguaçu: o vapor da Companhia Baiana seria decorado com bandeirolas e,  no percurso, a "banda da sociedade" iria executar "brilhantes peças do seu vastíssimo repertório" para animar o público.


segunda-feira, 9 de julho de 2012

FESTA DA AJUDA EM CACHOEIRA PODE SER RECONHECIDA COMO BEM IMATERIAL DA BAHIA

Cartaz da Festa da Ajuda
Uma das festas mais tradicionais e animadas de Cachoeira, a de Nossa Senhora da Ajuda, realizada sempre na primeira quinzena de novembro, pode vir a ser reconhecida pelo Iinstituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) como bem imaterial da Bahia. Os estudos iniciais já estão sendo feitos por equipes técnicas do órgão, encontrando-se na fase de levantamento de informações sobre a festa, que  existe aproximadamente há 192 anos. Em 1818 foi criada a devoção a Nossa Senhora da Ajuda, instalada  no mesmo sítio histórico em torno do qual foi criada a Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira. Os festejos profanos se constituem num patrimônio cultural da comunidade, com um alegre e colorido desfile de máscaras, fantasias, mandús e cabeçorras pelas ruas históricas da cidade, sendo uma das mais autênticas manifestações populares de Cachoeira, com seu cunho religioso, e ao mesmo tempo marcadamente carnavalesco, que atravessa séculos e gerações. Há registros históricos,  como este abaixo  do jornal O GUARANY (edição de 13 de outubro de 1881),  em que é descrita  toda a programação da festa que estava sendo preparada para aquele ano, tanto na parta religiosa quanto profana. Há referência aos folguedos populares como a "Lavagem" da capela, o pregão do bando anunciador com a presença de cavaleiros mascarados usando vestimentas jocosas, assim como o desfile de mascarados pelas ruas de Cachoeira. Assim, como o novenário, leilão de brindes, decoração do Largo da Ajuda, armação do coreto para  a filarmônica "Orphesina Cachoeirana" - antecessora da atual Minerva Cachoeirana - o "Te Deum" e a queima de fogos de artifício no encerramento das festividades.

                                                (Clique na imagem para facilitar a leitura)
Jornal O GUARANY (13/10/1881)
Conforme consta no livro ''O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um Maestro Abolicionista'' (Jorge Ramos, 2011) a Festa da Ajuda está ligada também à origem do ensino de música em Cachoeira e ao surgimento de suas centenárias filarmônicas. Ao levar a devoção a Nossa Senhora da Ajuda para Cachoeira, em 1818, o Padre Henrique Jose de Araújo (1754-1844), iniciou também o ensino de música na então vila.   

Trecho do livro "O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um Maestro Abolicionista"


















  

quarta-feira, 4 de julho de 2012

BIOGRAFIA DE TRANQUIILINO BASTROS SERÁ RELANÇADA

Será relançado nesta sexta-feira (06) ,a partir das 18 h, na Livraria Saraiva  do Shoping Barra o livro "O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um maestro abolicionista", a biografia do maestro cachoeirano Manoel Tranquilino Bastos


Contracapa

 O relançamento integra o evento  coletivo "PALAVRAS & INDEPENDÊNCIA"








terça-feira, 3 de julho de 2012

UMA FEIRA DE ANTIGAMENTE EM CACHOEIRA

Esta imagem é da década 30 e mostra a Feira Livre de Cachoeira, na Praça Dr. Milton (antes,  Largo da Regeneração). Nessa época ainda não havia sido construído o Mercado Municipal, na Praça Maciel.Ao centro da foto, o Chafariz Imperial um dos principais (e infelizmente menos badalado e cuidado) dos monumentos da cidade. Ainda não havia,  ao lado do Chafariz,  o horroroso prédio que hoje abriga o Bradesco e que foi construído na década de 60 para ser a agência do extinto Banco da Bahia. Trata-se de uma violência arquitetônica  e estética, que contrasta com a leveza e suavidade da arquitetura colonial da cidade,  tombada como Monumento Nacional.