domingo, 13 de outubro de 2013

A INESQUECÍVEL VISITA DE "OS TINCOÃS" A CLEMENTINA DE JESUS

Em meados da década de 80 e após uma bem sucedida trajetória no Rio de Janeiro - onde se apresentou em prestigiadas casas de espetáculos, quadras de escola de samba e em programas de televisão transmitidos em rede nacional - o grupo cachoeirano "Os Tincoãs" foi reconhecido pela crítica como um legítimo representante, e fiel guardião, da influência das raízes artísticas e culturais africanas na música popular brasileira. Por isso mesmo é que um dos encontros mais significativos que tiveram com outros nomes ligados à cultura musical brasileira foi a visita que fizeram à consagrada cantora de samba,  Clementina de Jesus (1901-1987). O emocionante encontro foi registrado pele repórter Salete Lisboa, do jornal carioca Última Hora, e publicado na edição de 6 de maio de 1983. O encontro antecedeu à série de apresentações que "Os Tincoãs" e Clementina de Jesus fizeram juntos, no Circo Esperança, no bairro carioca da Gávea. 


Na época o grupo era composto pelos cachoeiranos Matheus Aleluia e Dadinho, além do carioca Badu (na foto, está entre os dois), que pouco antes substituíra o também cachoeirano Heraldo, recém-falecido. O encontro histórico desses ícones da música afro-brasileira certamente foi antológico, com direito a um saudável bate-papo e muito samba na palma-da-mão, puxado pela voz inesquecível de Clementina de Jesus e entoado pelo mavioso ritmo de "Os Tincoãs".  


O trio, na formação anterior : Da esquerda para a direita: Dadinho, Heraldo e Matheus Aleluia. 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

MORADOR DA VILA DE CACHOEIRA PAGA BEM A QUEM TROUXER DE VOLTA SEU "MOLEQUE CRIOULO".

 O jornal IDADE D'OURO - o segundo a ser publicado no Brasil - passou a ser publicado em Salvador a a partir de 1811. Em sua edição de 28 de janeiro de 1814 registrou na secção "AVISOS" o anúncio da fuga de um jovem escravo, Vicente. E dá as características dele, prometendo recompensar a quem o devolver ao proprietário, Antonio Francisco Ribeiro, morador da vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira. 


domingo, 15 de setembro de 2013

OS 50 anos da filmagem de "A MONTANHA DOS SETE ECOS"

Entre julho e novembro de 1963 - portanto faz exatamente 50 anos - a cidade de Cachoeira teve a sua pacata rotina alterada bruscamente por causa das filmagens de "A Montanha dos Sete Ecos", um longa-metragem da Polígono Filmes, produzido e dirigido pelo jornalista e cineasta português Armando de Miranda (1904-1971). A chegada da equipe de atores, técnicos e dos pesados equipamentos causou um verdadeiro alvoroço, pois além de Cachoeira servir de cenário para a maior parte das cenas, centenas de moradores da cidade serviram como figurantes. O filme, uma produção em preto e branco e bem ao estilo farwest,  mostrava  a trama de um jovem que, premido pelas circunstâncias, torna-se bandoleiro para vingar a morte do pai, vítima indefesa de um poderoso dono de terras que mantinha em pânico os fazendeiros e pequenos agricultores da interior baiano no início do século.

Embora não fosse ainda um tempo em que as celebridades artísticas fossem conhecidas do grande público - a televisão estava praticamente engatinhando e o cinema brasileiro,  mesmo já tendo conquistado grandes e importantes prêmios no exterior, não era muito expressivo em termos de platéia - a presença de "artistas" gravando um filme nas ruas da cidade causou uma forte impressão na comunidade.
Num dos papéis principais estava o ator cearense Milton Moraes (1930-1963), que viria mais tarde a fazer sucesso em outros filmes e em novelas globais. Marcado por um estilo descontraído de atuação, ele se consagrou em papéis como malandro e contraventor do jogo-de-bicho e fez também programas humorísticos como a "Praça da Alegria", em que tocava bumbo e tinha o bordão "Tá bonito, isso ??".  Fez o papel principal na novela "O Espigão" e atuou em também em " Bandeira 2", "O Bofe", "Cavalo de Aço", "Escalada", "Saramandaia" (primeira versão), "Espelho Mágico", "Dancin Days", "Cabocla", "Água Viva" e na minissérie "Anos Dourados".
Milton Moraes em "A Montanha dos Sete Ecos"

Milton Moraes, mais tarde, em novela da Rede Globo
O elenco de " A Montanha dos Sete Ecos" tinha ainda Terezinha Mendes e alguns baianos como J. Luna, Milton Gaúcho e José Teles.












Cachoeira serviria mais tarde de cenário para outras produções do cinema nacional, como "Tenda dos Milagres (1977), de Nelson Pereira dos Santos,  "Delmiro Gouveia" (1978), de Geraldo Sarno, "O Mágico e o Delegado" (1983), de Fernando Coni Campos, além de ter sido utlizada também para gravação de cenas de novelas e minisséries. E, principalmente, já foi palco da Jornada de Cinema da Bahia , do incansável Guido Araújo, e agora com a UFRB e o curso de cinema mostra que sempre teve vocação para brilhar, seja na frente ou por trás das câmeras, na telinha ou na telona.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

MAÇONARIA DE CACHOEIRA REALIZA EVENTO EM BENEFÍCIO DOS DOENTES DO HOSPITAL DA "SANTA CASA"

Em 9 de Novembro de 1896 a "Loja Maçônica Caridade e Segredo", de Cachoeira, realizou uma sessão solene, seguida de um jantar musical,  para comemorar seu 18º aniversário. Cumprindo à risca o objetivo estabelecido eu seu lema, toda a renda obtida nessa e em outras ações foi revertida em benefício dos doentes internados no Hospital da Santa Casa de Cachoeira, outra instituição igualmente antiga e de forte presença na cidade. O ato festivo  foi presidido pelo Grande Venerável da Maçonaria no Estado da Bahia, o "irmão" Antonio Leonardo Pereira. A sessão solene teve como oradores os "irmãos" Servílio Mário da Silva (médico, que foi o primeiro prefeito de Cachoeira na era republicana), Genésio Pitanga (jornalista e editor, que teve um importante papel na luta abolicionista em Cachoeira), Evaristo Cardoso e João Rabello (orador oficial da Loja).  
A "Loja Maçônica Caridade  e Segredo" de Cachoeira, fundada em 1878, é uma das mais antigas do Brasil e embora discretamente, como é do seu feitio, teve também uma presença ativa no movimento em prol da libertação dos escravos, ocorrida dez anos após a sua criação. A notícia mereceu um considerável destaque no "Boletim do Grande Oriente do Brasil", jornal oficial da Maçonaria Brasileira, publicado no final do ano de 1896.




domingo, 21 de julho de 2013

CACHOEIRANOS PEDEM AJUDA PARA RECUPERAR PRÉDIO DA CÂMARA

Em 18 de junho de 1789 a Câmara da Vila de Cachoeira  escreveu diretamente à Rainha de Portugal, D. Maria I, uma representação pedindo a recuperação urgente do prédio onde funcionava a própria câmara e a cadeia, que se encontrava em "completa ruína". No pedido, era feita ainda um apelo para a criação de um "imposto de passagem no Peruassú" (Rio Paraguaçu) afim de aumentar a receita da vila. O documento teve despacho favorável do Ouvidor Geral e Provedor  da comarca, Joaquim Manoel de Campos, e foi acompanhado de um termo da vistoria, onde se constatou as condições precárias em que o prédio se encontrava. Nessa época, Dona Maria I ainda não tinha adquirido a doença mental (ou ela não tinha ainda se manifestado...) que a afastaria do trono, sendo substituído por Dom João VI, como Príncipe Regente. Ela acompanhou - sem saber do que se tratava - toda a corte na fuga para o Brasil em 1808. Morreu no Rio de Janeiro em 1816, sendo o único soberano europeu enterrado  fora do continente.


Dona Maria I, Rainha de Portugal entre 1777 e 1816.
 Em seu reinado foi enforcado Tiradentes.
Ela morreu louca  e foi sucedida pelo filho, Dom João VI.
Os documentos relativos ao pedido feito pelos cachoeiranos à Rainha de Portugal estão publicados nos Anais da Biblioteca Nacional do Brasil, edição Nº 34, publicada em 1912, que traz o inventário dos documentos relativos ao Brasil existentes no "Archivo de Marinha e Ultramar", em Lisboa.


                                     
Prédio da Câmara de Cachoeira

quarta-feira, 3 de julho de 2013

NOVAS TÉCNICAS DE PLANTIO IMPULSIONAM A CULTURA DO FUMO EM CACHOEIRA NO PERÍODO COLONIAL.

A cultura do fumo, uma das bases da economia do Recôncavo Baiano ainda durante o período colonial e até meados da década de 40 do Século XX,  ganhou um notável impulso em 1757 com a implantação de novas técnicas do plantio e processamento das folhas de tabaco. A Villa de Cachoeira,  com suas vastas plantações e a maior produção fumageira do Brasil Colônia, foi escolhida para receber as experiências inovadoras para adoção das modernas técnicas, que à época já haviam sido testadas com sucesso nas colônias inglesas (Estados Unidos), francesas e holandesas. O principal agente responsável por essa nova fase da cultura do fumo,  que visava principalmente melhorar a qualidade e aumentar a produção, visando a exportação, era o cidadão espanhol André Moreno, que veio pessalmente a Cachoeira ensinar as novas técnicas. A notícia foi comunicada pelo então Vice-Rei do Brasil, o Conde dos Arcos, a Sebastião José de Carvalho e Mello (18699-1782), o Marquês de Pombal, todo poderoso Ministro do Rei D. José I. Apesar de oficialmente exercer apenas o cargo de Secretário de Estado do Reino, ele é quem,  efetivamente, concentrava o poder político, militar e diplomático, sendo uma das figuras mais carismáticas e controversas da História de Portugal. Ele é considerado o "déspota esclarecido",  modelo de governante que exerce o poder de forma tirânica, exaltando o absolutismo, ao mesmo tempo em que implanta reformas radicais inspiradas pelos ideais de progresso, reforma e filantropia, valores criados a partir do Iluminismo.  Pombal acabou a escravidão  em Portugal (mas não nas colônias),  anulou o poder dos jesuítas, expulsando-os dos domínios portugueses, e promoveu reformas radicais no sistema econômico e educacional, livrando-os da influência medieval. E era aberto às novas ideias na economia, nas ciências e nas artes. 



quinta-feira, 6 de junho de 2013

UM CACHOEIRANO PUNIDO PELA INQUISIÇÃO COM AÇOITES E PENA DE TRABALHOS FORÇADOS.

Ao longo da nossa história colonial diversos brasileiros foram punidos pelo Tribunal do Santo Ofício - a Inquisição - pelos mais diversos "crimes" contra a fé católica. Entre eles estava um cidadão cachoeirano,  Antonio Pereira Ribeiro Trense, que embora nascido em Portugal era morador da Vila de Cachoeira onde exercia o ofício de cirurgião.  Em 1711 ele, que já era casado em Portugal mas tinha se casado novamente quando veio morar no Brasil, foi condenado pelo crime de bigamia. A pena aplicada foi o açoite em público  - para servir de exemplo - e o cumprimento durante cinco anos de trabalhos forçados como remadores nas  "galés", as pesadas embarcações de guerra. Mas podiam também podiam ser realizados em vias públicas em tarefas humilhantes. Em qualquer caso, os condenados cumpriam as suas penas acorrentados e sob severa vigilância. 
O  Tribunal do Santo Ofício foi criado para corrigir os "desvios da fé" e a heresia, punindo muitas vezes com o máximo rigor (a morte na fogueira era um exemplo clássico)  qualquer ideia ou pratica que fosse contrária à fé católica, bastando até mesmo que as pessoas denunciadas não seguissem alguns dos padrões morais e doutrinários estabelecidos pela Igreja Católica ou defendesse teorias filosóficas ou científicas que contrariassem os valores e dogmas religiosos. Os "crimes" mais comumente punidos: a bigamia, sodomia, feitiçaria, práticas judaizantes, ateísmo ou  ligações com a Maçonaria. Como Portugal era uma país excessivamente católico, incorporou ao seu sistema jurídico as normas penais estabelecidas pela Inquisição. 

Esta notícia foi publicada em 1872 no jornal maçon O PELICANO, que refere-se a pesquisas feitas pelo historiador Francisco Adolpho de Varnaghem  para o Instituto Histórico e  Geográfico Brasileiro.   


quarta-feira, 29 de maio de 2013

'TIGRE DE BENGALA" MATA DOMADOR EM PLENA FUNÇÃO DO CIRCO HAVANA E CAUSA PÂNICO EM CACHOEIRA

Uma tragédia ocorrida em Cachoeira, no ano de 1935, marcou a passagem do Circo Havana pela cidade. Em plena função, no meio do picadeiro, um "tigre de bengala" atacou o domador "Capitão Pedro Wilson" quando ele incitava o animal com chicote numa mão e segurando um arpão na outra. O acidente causou pânico entre a assistência, houve corre-corre desesperado de centenas de pessoas, entre elas certamente muitas crianças . O animal foi abatido a tiros pelos funcionário do circo mas já era tarde: o domador também estava morto, com o coração dilacerado pelas garras da fera. O fato, obviamente, causou uma grande comoção na cidade e chegou mesmo a alcançar divulgação nacional, conforme consta  da edição do Correio de São Paulo, em 02 de julho daquele ano. 
A matéria tenta descrever em minúcias o acidente, mas erra quando descreve a movimentação na cidade naquela noite fatídica. Na Praça Maciel (local onde na época eram armados os circos),  do lado de fora, segundo o jornal  estava tocando a philarmônica "Lyra de Prata. Certamente era  a Lyra Ceciliana.  












quarta-feira, 1 de maio de 2013

GRÁFICA E REDAÇÃO DO JORNAL "O GUARANY" SÃO ATACADAS E REDATOR É AGREDIDO PELA POLÍCIA

No dia 13 de março de 1891 um grave atentado à liberdade de imprensa foi praticado em Cachoeira contra o jornal "O  GUARANY", que teve a sua oficina gráfica invadida por forças policiais e um dos seus redatores agredidos pessoalmente pelo delegado municipal. O fato ganhou repercussão nacional, tendo sido divulgado pelo jornal "O BRASIL", editado no Rio de Janeiro, que no dia 19 reproduziu na íntegra artigo publicado pelo jornal "O ESTADO DA BAHIA". Em "O PEQUENO JORNAL" e no "DIÁRIO DE NOTÍCIAS", ambos de Salvador, também saíram matérias a respeito desse episódio. Na época, "O GUARANY" alinhava-se ideologicamente com o Partido Liberal, que rivalizava com o Partido Conservador, então no poder em âmbito estadual através do governador José Gonçalves. Certamente, daí a descrença em providências concretas, por parte das autoridades, para punir os responsáveis por esta "afronta". O jornal cita o governador e o Chefe da Polícia, Pedro Mariani, como co-responsáveis pelo atentado, apontando a prática de responder com atos de violência e usar a força pública para reprimir críticas de adversários políticos. Mas, ainda assim, reclama providências para garantir  a liberdade de expressão, direito assegurado na primeira Constituição da era republicana, que acabara de ser promulgada naquele mesmo ano.



segunda-feira, 29 de abril de 2013

CACHOEIRA E SÃO FÉLIX INVADIDAS PELAS ÁGUAS DO RIO PARAGUAÇU (1940)

Uma grande enchente trouxe muitos transtornos e prejuízos às cidades de Cachoeira e São Félix, no mês de março de 1940 e foi registrada inclusive pela imprensa  nacional. O "Correio da Manhã", do Rio de Janeiro, na época o mais prestigiado jornal do país, mandou um repórter e um fotógrafo para registrarem a tragédia. 
A reportagem descreve o ambiente em Cachoeira, relata as providências e apresenta um quadro "impressionante" da inundação, com direito a duas fotografias. A primeira apresenta o casario da Praça Teixeira de Freitas, logo após o cinema. E na segunda fotografia é destaque o sobrado do final da Rua 25 de Junho, onde funciona a sede do Montepio dos Artistas Cachoeiranos.

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quinta-feira, 25 de abril de 2013

LEMBRANÇAS HISTÓRICAS DO ESPORTE EM CACHOEIRA

Eis alguns registros históricos das atividades esportivas mais praticadas em Cachoeira, na primeira metade do século passado. A primeira foto é de 1950 e mostra o Real Atlético de Futebol, bi-campeão (1948/1949) da 2ª Divisão de Amadores de Cachoeira ! O "slogan" é chupado do Hino do Clube de Regatas do Flamengo (RJ), cuja letra foi composta por Lamartine Babo ("Uma vez Flamengo, sempre Flamengo") em 1945. A foto foi extraída do jornal carioca Sport Ilustrado (edição de 31 de agosto de 1950)

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Já a segunda foto mostra o Santa Cruz Juvenil. Quer dizer, o conceito de juvenil àquela época era relativo pois os jogadores da foto são  adultos. O time ficou  invicto durante três anos.! A foto também foi extraída do jornal carioca Sport Ilustrado (a edição, no caso, foi de 8 de abril de 1954).

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A terceira imagem já foi disponibilizada neste espaço e mostra o Rio Paraguaçu em seus dias de glória  no passado,  quando nele eram realizadas competições náuticas que mobilizavam os moradores de Cachoeira e São Félix e atraíam inclusive  a atenção da imprensa nacional. Em julho de 1930 a revista "O Malho", editada no Rio de Janeiro,  mandou a Cachoeira e São  Félix um repórter e um fotógrafo para registrarem, uma regata no Rio Paraguaçu. Nota-se, mesmo ao longe, que as margens do Rio Paraguaçu e a ponte D. Pedro II eram inteiramente ocupadas pelos moradores das duas cidades, que assistiam praticamente de camarote ao belo espetáculo. Na época os clubes Associação Athética de São Félix e a Associação Cultural Desportiva do Paraguaçu dividam as preferências de cachoeiranos e sanfelixtas nos alegres domingos em que havia regatas.

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quarta-feira, 10 de abril de 2013

LÍDER ANARQUISTA FAZ PROPAGANDA EM CACHOEIRA E É VIGIADO PELA POLÍCIA.

Em 1920 o líder anarquista Agripino Nazaré fez propaganda de sua ideologia em Cachoeira e cidades do Recôncavo, sendo vigiado de perto pela Polícia. O jornal baiano A MANHÃ publicou em sua edição de 03 de junho de 1920 a notícia do desembarque dele em Salvador - vindo pelo "Vapor de Cachoeira". Agripino Nazareth era segundo o jornal " um conhecido insuflador das classes operárias" e estava sob forte vigilância, por sua atividade ser considerada subversiva. A nota do jornal faz coro ao preconceito contra ele, considerado "amigo do proletariado" - numa época em que defender os interesses da classe dos trabalhadores era considerado crime -, o que evidencia a intolerância do poder público e de parte da imprensa contra quem defendesse esses interesses. Note-se que à época Cachoeira - e a região do Recôncavo  como um todo - abrigava o principal polo da emergente atividade industrial da Bahia, com suas fábricas de charutos e cigarrilhas, além das usinas produtoras de açúcar. Agripino Nazaré foi um líder  anarquista   brasileiro e junto com José Oiticica, Astrojildo Pereira, Manuel Campos e outros,  foi um  articuladores da Insurreição Anarquista de 1918  no Rio de Janeiro,  movimento que inspirado na Revolução Russa, ocorrida no ano anterior, pretendia derrubar o governo do Presidente Wenceslau Braz  e implantar uma sociedade autogestionada baseada em organizações descentralizadas e sindicatos operários,  nos moldes propostos pelo anarcosindicalismo. A insurreição foi sufocada pela Polícia e os líderes presos.  Expulso da capital do país ele veio para Salvador, foi advogado do Sindicato dos Pedreiros e Carpinteiros da Bahia e fundou o Partido Socialista, por onde pretendia se candidatar a deputado federal. Agripino Nazareth  tornou-se o primeiro defensor na Bahia do ideário socialista e um propagandista da "luta de classes". Três anos antes, em 1917, acontecera a Revolução, que implantara o comunismo na  Rússia e mais tarde em 15 outras repúblicas que viriam a formar a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). No Brasil, o movimento comunista só viria a tomar forma organizacional dois anos depois, em 1922, com a criação do Partido Comunista.   


quarta-feira, 3 de abril de 2013

INCÊNDIO DESTRÓI CASAS E PÕE POPULAÇÃO DE CACHOEIRA EM PÂNICO (1914)


Em 1914, há cem anos, um grande incêndio em Cachoeira destruiu dezesseis casas da área comercial - segundo a imprensa da época -  e ameaçava se alastrar  por outras casas, pondo a população em pânico. A notícia mereceu destaque na imprensa nacional e foi publicada no jornal CORREIO PAULISTANO (SP), que fez um relato dramático da situação, indicando as providências tomadas pelo governo da Bahia, comandado à época por J.J. Seabra. Como não havia ligação rodoviária entre Salvador e Cachoeira, os bombeiros de Salvador foram conduzidos através do Rio Paraguaçu, tendo chegado obviamente depois que o fogo havia sido debelado. Mas  a tempo suficiente de  impedir o surgimento de novos focos - o temor da população- e com o reforço da força policial que o acompanhou, evitar saques às casas. Pelo relato que chegou ao governador, o fogo teria sido iniciado no "cinematógrapho" de Cachoeira. A notícia traz ainda uma outra curiosidade histórica: o deputado federal Ubaldino de Assis, maior força política da cidade, acompanhou as forças deslocadas para Cachoeira. Na época ele era aliado incondicional de J.J. Seabra. Mais tarde viriam a ter um ruidoso rompimento político e pessoal, com cenas de violência, inclusive um tiroteio na Rua da Matriz e a invasão da Polícia à casa de Ubaldino de Assis.      



quinta-feira, 28 de março de 2013

ARCEBISPO ORIENTA SANTA CASA DE CACHOEIRA SOBRE BATIZADO DE CRIANÇAS "ENJEITADAS"

Respondendo a uma consulta feita pela Santa Casa de Misericórdia de Cachoeira e pelo Padre Francisco Manoel dos Santos, "vigário colado" da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, no ano de 1849, o Arcebispo da Bahia e Cardeal Primaz Dom Romualdo Seixas (1787-1860) esclareceu que o batizado dos "engeitados" (nome que era dado à época às crianças recém-nascidas que eram abandonadas) somente poderiam receber o sacramento do batismo diretamente do sacerdote. A Santa Casa de Misericórdia de Cachoeira mantinha na sua estrutura uma creche para abrigar essas crianças, dando-lhes alimento, remédio e educação, até que fossem encaminhadas a um lar adotivo e pretendia batizá-las sem a presença de um sacerdote católico.  A comunicação do arcebispo foi feita através de ofício, encaminhado ao Padre e à direção da Santa Casa e publicado no jornal O NOTICIADOR CATÓLICO, mantido pela Arquidiocese da Bahia. A leitura do texto permite algumas conclusões, como a de que era muito forte o preconceito contra as "inocentes vítimas do crime", como o arcebispo se refere aos menores abandonados. Na correspondência ao padre, Dom Romualdo esclarece que o batismo é prerrogativa dele mas acena com a possibilidade de que ele transfira eventualmente este poder ao capelão da Santa Casa "mediante as cláusulas que V. S. julgar convenientes para conservação dos seus direitos".  

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Dom Romualdo Seixas foi um dos homens públicos mais influentes e habilidosos do seu tempo.  Recebeu o título nobiliárquico de Marquês de Santa Cruz e foi eleito deputado. Nessa condição ocupou o cargo de Presidente da Câmara de Deputados. Foi nomeado arcebispo da Bahia por Dom Pedro I e confirmado pelo Papa Leão XII. Como ocupava o cargo de titular da primeira ("primaz") arquidiocese do Brasil, presidiu a solenidade de coroação do Imperador Dom Pedro II. Embora fosse um alto prelado católico, ligou-se à Maçonaria,  numa época em que a Igreja Católica combatia  essa instituição. 
Dom Romualdo Seixas, o 16º Arcebispo da Bahia. 



terça-feira, 5 de março de 2013

ABERTA LICITAÇÃO PARA DRAGAGEM DO RIO PARAGUAÇU, ENTRE CACHOEIRA E SÃO FÉLIX

A recente intervenção da Prefeitura de Cachoeira, promovendo uma limpeza radical no rio Paraguaçu e dele retirando dezenas de toneladas de entulhos que assoreavam o leito e se acumulavam na ilha e nas margens, foi uma medida acertada e que recebeu justos aplausos da comunidade pela importância ambiental, cultural e turística. Mas não foi uma medida inédita, embora tenha demorado mais de um século para acontecer de novo ...
A última intervenção desse porte foi feita em 1912, época em que se construiu o cais da cidade, quando o governo estadual através da "Fiscalização do Porto da Bahia" abriu licitação para contratar uma empresa que fizesse a dragagem e o aterro com o produto que fosse recolhido. As regras da licitação, estabelecendo um rígido controle dos trabalhos, foram divulgadas pelo jornal de Salvador "Gazeta de Notícias", edição de 9 de Setembro daquele ano.

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domingo, 3 de março de 2013

NOTÍCIA DE DERRAME DE DINHEIRO FALSO ABALA CACHOEIRA

No ano de 1904 o jornal CORREIO DO BRASIL - editado em Salvador - transcreveu uma notícia publicada pelo jornal cachoeirano A ORDEM - que por sua vez a copiou de outro veículo, O PROPULSOR, de Feira de Santana - informando sobre o derrame de cédulas falsas na região. O golpe teria sido praticado por um morador de Muritiba que viajou até Cachoeira e daí seguiu de trem até Feira de Santana, onde numa segunda-feira, dia de intenso movimento na cidade por causa da feira, então uma das maiores do Nordeste, pagou mercadorias com dinheiro falso. A notícia teve um efeito bombástico sobre o comércio em Cachoeira e municípios de toda a região.  
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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

ABOLICIONISTAS CACHOEIRANOS VIBRAM COM VITÓRIA ELEITORAL DE JOAQUIM NABUCO

A vitória eleitoral de Joaquim Nabuco foi vista
pelos cachoeiranos como um avanço na luta pela Abolição
Em setembro de 1887 a vitória de Joaquim Nabuco (1849-1950) - o maior líder da causa abolicionista - nas eleições para deputado federal representando o 1º distrito eleitoral de Pernambuco, foi comemorada em Cachoeira com uma passeata promovida pelos abolicionistas locais, que teve a participação da "EUTERPE CECILIANA" (atual LYRA CECILIANA), filarmônica fundada em 1870 pelo maestro Tranquilino Bastos, e que era inclusive o seu regente.   
Joaquim Nabuco tinha então 38 anos e já era um nome nacional, como diplomata e jornalista engajado na causa da abolição, tendo escrito a respeito do tema contundentes artigos na imprensa e feito inúmeras conferencias no Brasil e  no Exterior. Foi um dos fundadores e principal dirigente da Sociedade Antiescravidão Brasileira.  
A manifestação de júbilo dos cachoeiranos pela vitória de Joaquim Nabuco, obteve um merecido destaque no número 1 do jornal O ASTERÓIDE, "orgam da propaganda abolicionista", editado em Cachoeira sob a direção do Capitão José Theodoro Pamponet, que lutara na Guerra do Paraguai e voltara à sua cidade coberto de glórias  e heroísmo, para se engajar na causa da libertação dos escravos.   

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O texto faz referencia a outro líder abolicionista pernambucano, José Mariano Carneiro da Cunha (1850-1912), colega de faculdade de Joaquim Nabuco e companheiro de causa. 

domingo, 3 de fevereiro de 2013

CACHOEIRA TEVE UM "ANIMADÍSSIMO" CARNAVAL EM 1922

No meu livro "O SEMEADOR DE ORQUESTRAS - História de um Maestro Abolicionista", em que apresento a biografia do músico cachoeirano Tranquilino Bastos (1850-1935) e traço um panorama histórico e socio-cultural de Cachoeira, descrevo como foi o Carnaval na cidade no ano de 1922. Estávamos a poucos meses da eleição presidencial (naquele tempo, em maio) e a disputa política que se travava no país foi o componente que dominou a festa. Naquele ano disputavam o cargo de Presidente da República o mineiro Artur Bernardes, que acabaria vencendo, e o carioca Nilo Peçanha. As forças políticas predominantes na cidade eram lideradas pelo jornalista e empresário Durval Chagas, que apoiava Nilo, e o deputado federal Ubaldino de Assis, defensor da candidatura Bernardes.
A seguir, reproduzo o trecho do livro em que descrevo como a cidade estava se preparando para o Carnaval daquele ano, segundo relato "parcial" feito pelo  jornal A ORDEM, de propriedade de Durval Chagas. O jornal aproveitou a oportunidade para tentar desmoralizar a candidatura de Artur Bernardes, chamado pejorativamente de "Seu Mé", por causa do seu notório pendor para consumir a legítima cachaça mineira. O artigo dá uma ideia precisa do cenário cultural e social de Cachoeira.

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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

HÁ 109 ANOS MORRIA ARISTIDES MILTON, UM NOTÁVEL JURISTA E HISTORIADOR CACHOEIRANO

Em 26 de janeiro de 1904 morria aos 56 anos no Rio de Janeiro o jurista, historiador, jornalista e político cachoeirano Aristides Milton. Em gratidão, os cachoeiranos deram o nome de Praça Dr. Milton a um dos principais logradouros da cidade, o outrora chamado Largo da Regeneração, onde fica a Santa Casa de Misericórdia e um dos principais monumentos históricos da cidade, o chafariz datado de 1826. Nascido em Cachoeira, em 29 de maio de 1848, foi colega no Ginásio da Bahia, e mais tarde na Faculdade de Direito do Recife, de dois outros baianos que viriam a se tornar ilustres: o poeta Castro Alves e o jurista Ruy Barbosa. Após se formar, voltou à Bahia e foi nomeado juiz de Direito em Santa Isabel do Paraguaçu (atual cidade de Mucugê) e mais tarde exerceu o mesmo cargo em Maracás. Militou na imprensa de Salvador como redator do Correio da Bahia e em sua cidade natal fundou o Jornal da Cachoeira. Ocupou os cargos de Chefe de Polícia de Sergipe e Presidente da Província de Alagoas. Foi filiado ao Partido Conservador, pelo qual se elegeu deputado provincial e mais tarde deputado geral (cargo hoje denominado deputado federal) por várias legislaturas. Com a proclamação da República foi eleito para integrar a Assembleia Constituinte de 1891. Seu vasto conhecimento jurídico levou-o a se destacar como um dos principais redatores da primeira Constituição republicana.   
Aristides Milton (1848-1904). 
(Foto do acervo de Erivaldo Brito).
Aristides Milton teve também uma intensa participação na vida cultural e social de Cachoeira, tendo sido um dos criadores do Montepio dos Artistas Cachoeiranos, entidade que congregava os artesãos da cidade nas lutas políticas, como o abolicionismo, e em ações humanitárias através de instrumentos como o pecúlio, aposentadoria e pensão, numa época em que inexistia o sistema de previdência pública. Foi também, por sete anos, provedor da Santa Casa de Misericórdia de Cachoeira, cargo em que se revelou  um excelente gestor, ampliando a receita e diminuindo as despesas, saneando as  finanças e obtendo com seu inegável prestígio subsídios para ampliar  os  mecanismos de assistência social na região. Foi também um profundo pesquisador da história de Cachoeira, tendo escrito Ephemérides Cachoeiranas, onde estão compilados com absoluto rigor os principais fatos históricos da cidade desde a chegada de colonos portugueses ao aldeamento indígena que existia no Rio Paraguaçu e que deu origem à Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, no final do Seculo XVII. 
Aristides Milton escreveu ainda os seguintes livros A República  e a Federação no Brasil e  A Constituição do Brazil - Notícia Histórica, Texto e Comentário, considerado o principal estudo sobre o teor da Constituição de 1891, da qual foi um dos redatores. 


Outro importante livro foi A Campanha de Canudos, fruto de exaustiva pesquisa feita a pedido do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), entidade de que era sócio. Este livro de 1897, um "relato minucioso, direto e objetivo" da guerra no sertão baiano, antecedeu ao lançamento de Os Sertões , obra prima de Euclides da Cunha. 


Após o seu falecimento, o IHGB prestou-lhe uma homenagem, e a todos os demais sócios que morreram naquele ano, em sessão solene na qual o orador foi um seu discípulo o Desembargador Antonio  Ferreira de Souza Pitanga.  Eis o trecho desse discurso, publicado no Tomo LXVII da Revista do IHGB (1905), na parte que se refere a Aristides Augusto Milton: